Aquaman de 2018 foi um filme que surpreendeu muita gente e tornou-se a maior bilheteria de todos os filmes da DC, alcançando mais de U$ 1 bilhão e catapultando Jason Momoa à condição de astro. Foi um feito e tanto porque Aquaman não era um herói muito considerado nem respeitado pelo grande público, que não é leitor de quadrinhos. A lembrança mais comum do herói pelas pessoas é a do Aquaman de Superamigos, mais galhofa e pueril. A geração mais nova deve conhecer o personagem do desenho da Liga da Justiça, em que ele era baseado na versão do Aquaman bad-ass de Peter David.
Pessoalmente, não sou um grande fã de Jason Momoa como Aquaman porque ele tem uma personalidade muito diferente da do personagem nas HQs. Até mesmo o Aquaman de Peter David, que é mais revoltado e durão, tem uma nobreza intrínseca, enquanto o Aquaman de Momoa é bem toscão, parece um caminhoneiro, além de ser galhofa. O Aquaman dos quadrinhos, por exemplo, jamais diria a Mera "eu poderia ter apenas mijado nisto", como o Momoa fez. Porém, a bem da verdade, isso não importa muito, porque mais de 90% dos espectadores de filmes de super-herói não são leitores de HQs, e o Aquaman de Momoa caiu no gosto popular.
E,
afinal de contas, o que acontece em Aquaman – O Reino Perdido? Vou dizer
logo o que não acontece. Arthur Curry Jr., o Aquababy, NÃO é assassinado pelo
Arraia Negra como nos quadrinhos. Aquaman NÃO perde a mão e a substitui por um
arpão. Houve uns boatos que essas coisas aconteceriam, mas não passam mesmo de
boatos. Não tem nada muito pesado no filme, e com certeza não aprovariam
infanticídio em um filme PG-13 de super-herói. Inclusive, acho A Morte de um
Príncipe uma boa história do Aquaman, mas é o tipo de história que a DC jamais
publicaria hoje em dia. E não é apenas por causa do infanticídio. Porém, não é o
foco deste post eu dizer o porquê.
No
enredo de Aquaman – O Reino Perdido, Arthur Curry tem de conciliar suas
atividades de super-herói, regente de Atlântida e agora pai, pois nasceu seu
rebento depois de seu casamento com Mera, interpretada por Amber Heard. E, sim,
depois do escândalo do julgamento envolvendo seu ex-marido, Johnny Depp, ela
teve 90% de suas cenas cortadas. E, na realidade, Mera não faz falta nenhuma no
filme. Creio que poderia até ter menos cenas. O pai do Aquaman, vivido por
Temuera Morrison, ajuda na criação do neto.
No entanto, os dias de tranquilidade de Aquaman estão por terminar porque seu arqui-inimigo, David Kane, o Arraia Negra, interpretado por Yahya Abdul-Matten II, quer se vingar a todo custo de Aquaman por ter deixado seu pai morrer no primeiro filme. Vale dizer que dava sim para o herói ter salvo a vida do pai do Arraia Negra, mas ele preferiu deixar o velho morrer. Na fase do Aquaman escrita por Geoff Johns, a motivação para o ciclo de ódio entre o herói e seu nêmesis é mais bem estabelecida, pois Aquaman mata o pai do Arraia Negra porque o confundiu com o vilão, em razão de o Arraia ter sido responsável pela morte de Tom Curry, uma vez que ele morre de ataque cardíaco após o vilão tentar tirar o sangue de Arthur, a pedido do doutor Shin, que queria estudá-lo. Doutor Shin que inclusive está no filme, como um capanga do Arraia Negra, cujo papel é feito por Randall Park.
Em sua busca por vingança, o Arraia Negra encontra o misterioso Tridente Negro, que na realidade pertence ao rei Kordax, irmão do rei Atlan. Kordax passa a manipular o Arraia, que, muito mais poderoso, ataca Atlântida e fere gravemente Mera. Sem outra opção, Aquaman tem de libertar seu irmão, Orm, vivido por Patrick Wilson, para que ele consiga descobrir o que é o Tridente Negro e como derrotar o vilão. Me incomodou a redenção de Orm no longa, que no primeiro filme foi o grande vilão e no segundo está todo bonzinho. Prefiro Orm como o vilão Mestre dos Oceanos, porque o interessante nele é o fato de ser meio-irmão do Aquaman, e o herói tem sentimentos conflitantes quando a Orm, porque é não apenas seu inimigo mortal, mas também seu irmão. Apesar disso, Orm é o melhor personagem do filme, disparado, porque Patrick Wilson é sim um ótimo ator e rouba a cena. Ao contrário de Momoa, que está ainda mais caricatural e galhofa como Aquaman. Outro que se destaca é Dolph Lubdgren como Rei Nereus. Ele tem poucas cenas, mas em todas que aparece está muito bem. Nicole Kidman também está de volta como a rainha Atlanna, mas achei que as cenas dela ficaram meio perdidas.
Enfim,
o enredo de Aquaman – O Reino Perdido é bem
simples. Daqui a um tempo, com certeza será um bom filme para a Sessão da
Tarde. A história na verdade não apresenta tensão e não tem maiores
consequências. Aquaman nos quadrinhos é um personagem que viveu grande
tragédias: perdeu pai, perdeu mãe, perdeu filho, perdeu a mão (duas vezes),
perdeu o trono, teve vários problemas conjugais com Mera. O Aquaman do filme
não perde nada. Nem o pai; achei que o pai dele iria morrer em um momento do
filme, porque sofre um ataque cardíaco, mas o velho fica bem. Até no filme do
Besouro Azul, que achei um filme bem água com açúcar, o protagonista tem uma cena
em que o pai morre de ataque cardíaco. Tudo bem que o pai dele depois aparece
como espírito depois, para dar apoio motivacional, mas houve uma perda. Em Aquaman
– O Reino Perdido, não acontece nem isso.
Quer
dizer que o filme é ruim? Não exatamente, Aquaman – O Reino Perdido é um
filme ok, que entretém, mas que é esquecível. É tipo um fast food, que,
depois de comer, você descarta no banheiro. Como o filme não consegue passar
muita ameaça de perigo ou tensão, o que restou para James Wan foi explorar o
universo mítico do herói, o que faz bem. Vale destacar a participação especial
de Martin Short dublando o Kingfish. Se no primeiro longa, não havia muita
menção ao DCEU, neste há menos ainda. Dá para assistir a ambos os filmes sem
ter visto nenhum dos filmes do DCEU. Apenas no primeiro Aquaman é que
Mera faz menção aos eventos de Liga da Justiça. O filme termina com Aquaman
revelando a existência da Atlântida para a humanidade, o que talvez tivesse um
desenvolvimento interessante para um terceiro filme que não será feito jamais.
Aquaman
– O Reino Perdido é um final melancólico para o DCEU; vamos
esperar que James Gunn consiga reestabelecer o universo cinematográfico da DC,
porque está difícil. E está rolando um papo de que Momoa pode voltar como Lobo
no universo cinematográfico da DC. Sinto muito cortar a animação, mas se ele
for mesmo o Lobo, será uma versão PG-13, para crianças. Nem ferrando que será o
Lobo das HQs dos anos 90, com sua hiperviolência. Para Aquaman – O Reino
Perdido, dou nota 6,5, com muita boa vontade.
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