Lamentavelmente, mais uma vez, venho escrever um post por uma razão triste, por ocasião do falecimento do lendário escritor e ilustrador Keith Giffen, de grande importância na indústria de HQs de super-heróis DC e Marvel. Nascido em 1952, no Queens, Giffen faleceu dia 11, aos 70 anos, segundo informações, de problemas de saúde não divulgados.
Giffen iniciou sua
carreira profissional em 1976, como ilustrador na história curta em preto e branco
The Sword of The Star na Marvel, escrita por Bill Mantlo. Algum tempo depois, ele
seria o responsável por criar o personagem Rocket Raccoon, que depois se
tornaria bem famoso nos Guardiões da Galáxia, também em parceria com Mantlo, na
revista do Hulk.
Entretanto, Giffen não
permaneceria por muito tempo na Marvel e logo estaria de malas prontas na DC, que
foi a editora em que verdadeiramente teve seu ápice criativo. Em 1983, na revista
dos Omega Men, ele criaria sua primeira versão do Lobo, bem diferente da versão
que se tornaria bem popular entre os leitores depois.
A grande ascensão
criativa de Giffen entretanto se daria quando ele assumiu a arte da revista da
Legião dos Super-Heróis, com roteiros do lendário Paul Levitz. Não demorou para
que Giffen se tornasse coroteirista da revista, ao lado de Levitz. Não à toa,
essa colaboração resultou na melhor saga da história da Legião dos Super-Heróis,
a Saga das Trevas Eternas, em que a Legião enfrenta Darkseid.
Em 1987, Giffen teve
sua grande chance: escrever a maior equipe da DC, a Liga da Justiça. Essa seria
a chamada era da Liga da Justiça Internacional, ou da Liga da Justiça cômica.
Para entender como Giffen chegou ao título, é preciso ter em conta que a equipe
vinha de uma fase péssima, a tal fase de Detroit, em que a Liga era formada
apenas por membros classe C, com exceção de Aquaman, Ajax (Caçador de Marte) e
Zatanna. Após essa fase, veio o evento da saga Lendas, e, ao final dessa saga,
se formaria a nova Liga da Justiça. Porém, havia um problema: Giffen não teria à
sua disposição a maioria dos medalhões da DC, porque estavam sendo reformulados
pós-Crise nas Infinitas Terras. Superman estava sendo reescrito por John
Byrne e a Mulher-Maravilha, por George Perez. Hal Jordan não estava disponível
por algum motivo na época. Sobravam Batman, Ajax, Capitão Marvel, Sr.
Destino e a “escumalha cósmica”, que eram os heróis classe C disponíveis.
No início, Giffen até
tinha a intenção de escrever histórias mais sérias da Liga da Justiça. Porém,
quando percebeu que teria liberdade criativa, o tom das histórias mudou logo
para a comédia pastelão. Uma das mudanças de status da equipe é que ela
não mais seria a Liga da Justiça da América, mas sim a Liga da Justiça
Internacional. A equipe terminaria sendo tutelada pelo empresário picareta Maxwell
Lord e teria o endosso da ONU para agir. Sendo assim, Batman foi um dos primeiros
a se mandar depois de perder a paciência e dar um esporro na equipe. Também foi
uma decisão editorial da DC de “não queimar” um personagem sério e sombrio como
o Cavaleiro das Trevas na equipe.
Na verdade, os membros
mais fixos na equipe seriam Besouro Azul, Gladiador Dourado, Guy Gardner, a
brasileira Fogo, sua amiga Gelo, namorada do Guy, Sr. Milagre, Capitão Átomo e Homem-Elástico.
Sue, a Mulher de Ralph Debney, o Homem-Elástico, e Oberon, o anão sidekick
do Sr. Milagre, inclusive faziam trabalho administrativo na embaixada da Liga.
Capitão Marvel e Doutora Luz deixariam a equipe, e a Canário Negro teria uma
participação menos ativa com o tempo. Outra figurinha carimbada era o G’nort, o
sidekick do Guy. Mais adiante, o General Glória, uma paródia do Capitão
América e herói de infância de Guy Gardner também se juntaria à equipe, bem como
Dmitri Pushkin, um dos sovietes supremos da então União Soviética. Giffen
inclusive aproveitou sua Liga da Justiça para fazer uma paródia da Guerra Fria
em seus últimos estertores. A Liga da Justiça Internacional ainda ganhou uma
extensão, o título da Liga da Justiça Europa.
Em 2003, Giffen
voltaria a escrever um retorno de sua Liga cômica, retomando a parceria com
J.M. DeMatteis e Kevin Maguire, em Já Somos a Liga da Justiça. Porém,
nessa época Giffen já não estava mais em seu auge criativo. No entanto, apesar
de sua Liga não ser tão engraçada como antes, esse é sim um gibi bastante nostálgico
e agradável de ler. Giffen voltou pela última vez à sua Liga cômica em um arco
de Justice League Classified.
Vale ainda destacar a colaboração
de Giffen com Alan Grant no título da L.E.G.I.Ã.O., que se tratava dos antecessores
da Legião dos Super-Heróis, uma equipe de policiais espaciais liderada por Vril
Dox, descendente de Brainiac e antecessor de Brainiac 5, da Legião dos
Super-Herói. Lobo, criação de Giffen, inclusive chegou a fazer parte dessa
equipe. Também vale a referência das minisséries do Lobo, que Giffen escreveu
em parceria com Alan Grant e que foram responsáveis pelo artista britânico Simon
Bisley se tornar popular nos EUA.
Merece ainda ser
lembrada a HQ Video Jack, de 1987, parceria de Giffen com Cary Bates
para a então linha Epic da Marvel. Essa minissérie é bem bacana, sobre um
garoto viciado em TV chamado Jack que é tragado para o mundo televisivo. Uma crítica
à chamada “geração MTV”. Hoje em dia, a geração MTV seria a “geração smartphone”.
Outro destaque é a fase de Giffen no Sr. Destino. Ele reformulou o personagem
na era moderna. Kent Nelson passaria seu legado como Sr. Destino para dois
jovens, Eric e Linda.
Nos anos 2000, Giffen
voltaria à Marvel, e, a despeito de não estar seu auge criativo, escreveu HQs
bacanas, como a versão cômica dos Defensores, também em parceria J.M. DeMatteis
e Kevin Maguire, e a saga Aniquilação, saga cósmica que seria responsável pela
formação dos novos Guardiões da Galáxia.
Enfim, fica aqui meu
reconhecimento a essa outra grande lenda dos quadrinhos que nos deixou há
pouco. Inegável que Keith Giffen foi um dos mais prolixos escritores de
quadrinhos nos anos 80 e parte dos 90, responsável pela fase mais divertida da
Liga da Justiça e, também, a que teve melhor vendas nos últimos 35 anos. Apesar
de criticada, gosto da fase da Liga da Justiça de Dan Jurgens que veio depois,
e as fases de Grant Morrison e Mark Waid são ótimas, mas elas não venderam
tanto quanto a fase da “liguinha” de Giffen no seu auge. R.I.P.
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