O Brasil é mesmo um país sério. Tão sério que, ontem, condenou o humorista Leo Lins a ter suas contas bloqueadas em mais de R$ 300 mil e, também, a ter suas redes sociais deletadas. Ele inclusive pode pegar um tempo de cadeia, de quatro a dez anos. Praticamente, querem varrer sua existência da face da Terra. Quem não esteve nos últimos anos em uma ilha deserta sabe que o cerco contra Leo Lins vem se intensificando cada vez. Primeiro, usaram uma gravação antiga de uma piada envolvendo nordestinos, criança com hidrocefalia e o Teleton para fazê-lo ser demitido do The Noite, programa apresentado por Danilo Gentili no SBT. Em seguida, o Ministério Público do Ceará o proibiu de fazer shows em Fortaleza. No entanto, Leo Lins há muito tempo já vinha sendo alvo da militância progressista, por suas piadas suspostamente racistas e preconceituosas com minorias. O próprio humorista sempre gostou de esticar a corda e dobrar a aposta, fazendo piadas cada vez mais chocantes, e uma hora iria acabar dando merda, como efetivamente deu.
A
verdade é que vivemos atualmente na tal “ditadura do politicamente correto”, e
piadas e comportamentos que antes eram tolerados hoje não são mais. Só pelo
fato de que o termo “humor negro” é considerado hoje em dia racista por alguns,
já dá para notar que a tolerância com o humor anda bem baixa. Como se “humor
negro” pudesse ser substituído por “humor politicamente incorreto”, “humor
ácido”, “humor mórbido” etc. Não existe uma correlação direta; humor negro
abrange todos esses tipos de humor. Penso que isso talvez seja herança de nossa
personalidade latina, de não levar desaforo para casa. Notei isso na ocorrência
de Will Smith dar um tabefe em Chris Rock no último Oscar. A maioria dos
americanos ficou do lado de Chris Rock, mas os brasileiros tomaram mais partido
de Will Smith mesmo, defendendo que, para certos tipos de piada, é justo partir
para a ignorância.
Entretanto,
acredito que só os ingênuos acreditam que a perseguição irá parar no Leo Lins.
Irão aproveitar para ir para cima de todo mundo que eles não gostam.
Provavelmente, o próximo alvo da lista deve ser o Danilo Gentili, um cara que
estão querendo pegar há muito tempo, muito por causa de suas opiniões políticas.
Admito que acabar com o Gentili será mais difícil que com o Leo Lins, mas a
intenção é exatamente essa. E não espere muito espírito corporativo dos humoristas
brasileiros. Fábio Porchat de início defendeu o Lins, mas depois viu que seria
cancelado pela bolha progressista e deu para trás.
Na realidade, essa situação me lembra o evento do julgamento do editor da revista pornográfica Hustler Larry Flynt, que foi mostrado no filme O Povo contra Larry Flynt, protagonizado por Woody Harrelson e dirigido por Miloš Forman. Larry Flynt fez à época uma série de ataques a um pastor na Hustler e sofreu um processo pesadíssimo, que provavelmente o arruinaria se perdesse. Na época, ele disse à imprensa que estava fazendo isso pela liberdade de expressão e que “era o pior dos piores”. Então, se o tolerassem, tolerariam todo mundo. E creio que é bem isso: primeiro, partem para cima do “pior dos piores”, depois para “o menos pior”, até pegarem todo mundo.
E não se enganem achando
que isso acontece apenas no Brasil. Essa falta de tolerância com o humor e a
ascensão do politicamente correto exacerbado têm prejudicado o gênero comédia em
Hollywood, como o próprio diretor Todd Phillips, de Coringa, com Joaquim Phoenix, declarou.
Ele veio do gênero comédia e tinha dirigido filmes como a trilogia Se Beber,
Não Case, mas tinha dito que não estava conseguindo realizar seus projetos
de comédias em razão do crescimento do politicamente correto e da cultura woke
em Hollywood. A bem da verdade, acredito que esse seja um fator de peso para a
diminuição do número de comédias no cinema. O outro é a Marvel, cujos filmes de
super-heróis imbecis substituíram um pouco o gênero comédia nos cinemas e,
também, o surgimento dos streamings. Filmes de comédia são perfeitos
para esse tipo de plataforma, pois são relativamente baratos e dão retorno.
Bom, e vocês? O que
acham que desse caso do Leo Lins? São da opinião que ele merece ser mesmo preso
e processado? Ou acreditam que estão pegando pesado demais com ele porque o
clima político mudou? Acham que pode ser o fim da liberdade de expressão no Brasil,
que nunca teve tanta “liberdade” assim? Opinem nos comentários, se quiserem.
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