Desde os primórdios da existência humana, desde que o homem era espécie recém-parida ao planeta, na flor da idade de Evolução, que ele tem uma obsessão mórbida e inextirpável : manter-se jovem. A eterna busca pela eterna juventude. Manter-se em pleno viço e frescor, deter ou retardar o quanto puder a ação erosiva do Tempo, retroceder o Tempo, de preferência, se isso possível fosse ou venha a ser algum dia, e enganar o espelho com os mais variados e estapafúrdios artifícios, enquanto esse dia não chega.
De Ponce de Leon, que morreu de velho de tanto correr atrás da Fonte da Juventude, até o bigodudo Belchior, que cantou que devemos todos rejuvenescer, o bicho-homem sempre temeu muito mais a velhice do que a própria Morte.
Não é por acaso que a literatura é repleta de exemplos da busca pela juventude. O Retrato de Dorian Gray, em que um retrato pintado a óleo envelhece por nós. O anêmico Drácula e todos os vampiros que se seguiram a ele, seres eternamente jovens, ainda que às custas de viver na escuridão e de sangue alheio. O sangue tem poder, meus caros. Uma condessa húngara, conhecida como o Condessa Sangrenta, foi considerada pelo Guiness Book a maior serial killer da História. Por ter bebido e se banhado, ao longo da vida, com o sangue de 650 virgens. Pãããããta que o pariu. Que desperdício de cabacinhos. E o principal : onde essa condessa conseguiu arrumar tantas virgens?
Ainda na literatura, a segunda geração do romantismo, o ultrarromantismo, a Geração do Mal do Século, idealizava a morte prematura, a morte ainda na juventude, morrer belo e intocado pela decrepitude. Como eu disse, mais medo do envelhecimento que da Morte. Lorde Byron na Inglaterra e Álvares de Azevedo no Brasil. Autor de Lira dos Vinte Anos e de Noite na Taverna, Álvares de Azevedo era tuberculoso (o mal do século deles), porém, faleceu aos 21 anos de septicemia, contraída após cirurgia para a retirada de um abcesso na fossa ilíaca decorrente de uma queda de cavalo.
Mórbida. Uma fixação mórbida pela juventude, tem o ser humano.
E tudo o que o ser humano quer, a ciência luta para lhe dar. Não são de hoje os ardis da medicina para manter o ser humano intocado pelo Tempo.
Cleópatra, a real, não tinha sequer um dedo mínimo da beleza de Elizabeth Taylor, mas era tanto ou tão mais vaidosa que ela. Sob orientação de uma equipe de esculápios a seu dispor, Cleópatra passava de tudo no rosto : mel, água de rosas, argila branca do Nilo, azeite, vinagre de cidra com pérolas dissolvidas, óleo de amêndoas, extrato de babosa etc. Sem contar os banhos de imersão em leite de cabra para o resto do corpo. E, ninfomaníaca que era, dizem as más línguas, também se automedicava com a porra de centenas de escravos núbios. Tinha um calor na bacurinha que nem todo o Império Romano era capaz de apagar.
Falando neles, nos romanos, e também nos gregos, de imperadores e generais mais vaidosos que um pavão metrossexual, esses também se valiam de poções e emplastros muito semelhantes aos dos egípcios, com pequenas variações aqui e acolá, de um ingrediente local ou outro. Sendo que os romanos criaram uma técnica de liberar as toxinas corpóreas através do suor, são os inventores das Termas, locais onde um montão de homem pelado ia se banhar em água quente, suar feito um porco e manjar um a rola do outro. Os romanos foram os inventores da sauna gay.
Hoje, no entanto, à luz da atual ciência da estética, os recursos adotados por esses valorosos povos ficam a parecer receitinhas caseiras, pomadinhas da vovó para a netinha conseguir marido. Hoje, há cirurgias plásticas, botox, lipopreenchimento, lifting, harmonização facial. Aliás, soube um dia desses um novo tipo de lifting, o PRP (plasma rico em plaquetas), que já vem sendo chamado de o lifting do vampiro, pois consiste em extrair o próprio sangue, isolar o plasma e as plaquetas e reaplicá-lo no rosto.
Isso tudo é apenas para a face. Para o resto do corpo há a drenagem linfática, a lipoaspiração, a reposição hormonal e até a reconstituição de hímen, a famosa recauchutagem de buceta.
Aliás, isso de recauchutagem de buceta me lembrou de um episódio. Depois de três anos com o cargo sediado em Mococa (SP), consegui uma remoção para uma escola de Ribeirão, o Santos Dumont, onde eu ficaria de 2003 a 2020. Quando lá cheguei, havia uma inspetora de alunos já prestes a se aposentar, mais um ano, ano e meio, a Relva Dalva - sim, esse era o verdadeiro nome dela. Senhora das mais coquetes, espirituosa, animada, desbocada que só ela. Muito parecida fisicamente - muito mesmo - com a Consuelo Leandro, tanto em feições como em tom de voz e trejeitos. Impossível não rir perto dela.
Mesmo depois da aposentadoria, volta e meia, ela aparecia por lá, no intervalo, pra jogar conversa fora. Numa destas vezes, estávamos eu e o mestre Odair do lado de fora da escola, no estacionamento, ele a tomar um cafezinho e a pitar um cigarro e eu apenas a tomar um café e a ouvir as suas histórias de UFOs e de profecias apocalípticas. Relva chegou, abraçou-nos e, sem mais nem cerimônias, nos disse : -dá uma olhada na minha cara. E nos contou que tinha feito uma plástica, puxado aqui, levantado ali, cortado acolá. Retirara a papada do queixo e as bolsas sob os olhos.
Enquanto ela falava, eu olhei para o Odair, que tava com aquela cara de quem acabou de pensar num malfeito, cara de Sobrinhos do Capitão. Assim que Relva acabou, Odair, num peteleco, jogou pra longe a guimba de seu Derby azul, expirou a fumaça e perguntou : - e "lá", Relva, deu uma guaribada também, lá na "menina". Relva desandou a gargalhar. "Lá não precisa fazer nada, não, 'Dair, ninguém vai ver, mesmo. "E o marido, Relva?" - perguntou Odair. "O véio tem glaucoma!!!" - respondeu Relva, entre uma nova rajada de gargalhadas. O véio tem glaucoma, tá certíssima, a Relva.
Mas voltando ao assunto, é como diz o ditado, quem tem tempo caga longe. E quem tem bilhões, caga mais longe ainda. Há aqueles que conseguem elevar a compulsão doentia pela juventude à enésima potência.
É o caso do bilionário estadunidense Bryan Johnson, de 45 anos, que pretende que seu corpo recupere a idade biológica de 18 anos. Para isso, impôs-se um draconiano plano de biohacking chamado por ele de Blue Print, no qual desembolsa US$ 2 milhões por ano para se manter jovem.
Nesta semana, o bilionário virou notícia por ter declarado que "iniciou a terapia de rejuvenescimento do pênis". Tá certo, não adianta ter cara e corpo de 18 anos e o pau mole. Até aí, dentro da lógica do sujeito, nada de mais. Se não fosse o fato de que a tal terapia consiste em dar choques elétricos na rola! A partir da data de sua declaração, o magnata passará a receber ondas de choque no bráulio três vezes por semana. Uma espécie de fisioterapia pro caralho. Cada sessão custará dois mil dólares.
Disse Bryan Johnson : "Evidência: vários ensaios clínicos randomizados mostraram que a terapia por ondas de choque melhora a disfunção erétil. Estamos testando se melhora as ereções noturnas em tempo total, o desempenho sexual subjetivo, a satisfação sexual e os marcadores penianos baseados em imagens médicas".
Sua meta final é obter ereções noturnas de 3 horas e meia.
É o broxa mais rico do planeta! Pãããããta que o pariu!!!!
Não entendo o porquê do impacto e do pasmo causados pela revelação do pinto mole na imprensa mundial. A ideia de dar choques no mangalho é velha, muito velha. E foi concebida por um brasileiro, conhecido pela alcunha de "General".
Pois é, o brasileiro é um visionário por natureza. Só não tem recursos para empreender suas ideias. Só não tem método. Só não sabe capitalizar o seu vanguardismo.
"General", inclusive, foi manchete de capa do dia 2 de agosto de 1990 do extinto tabloide Notícias Populares, o famoso NP : "Broxa torra o pênis na tomada".
Uma beleza de manchete! Irretocável. Mordam-se de inveja, The New York Times e Washington Post!
No miolo do jornal, até uma história em quadrinhos reconstituindo a façanha do "General", descrevendo a experiência em pormenores. O último quadrinho, mostra o "General" sendo encontrado desmaiado no banheiro por um policial e, abaixo, a legenda : "a cena era tão estranha que foi difícil para a polícia parar de rir". O General de pau torrado e o meganha rindo!!! Esse é policial das antigas.
Agora, falando minimamente a sério, fiz 56 anos na semana passada e não estou achando nada ruim em envelhecer, adoro minhas rugas, meus cabelos brancos, meus óculos para leitura, minha tadalafila.
Em relação a isso, rejeito Belchior e fecho com Adoniran e Arnaldo Antunes.
Adoniran : "Saber envelhecer é uma arte, isso eu sei, modéstia à parte..."
Arnaldo Antunes : "A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer..."
Abaixo, Bryan Johnson :
Sei não, mas com toda essa pinta (eu disse "pinta") de galã, tenho quase certeza de que Bryan, ao fim das sessões de choque no pau, aproveitando que já está lá mesmo, que todo o equipamento já foi posto a funcionar, vai pedir também um fio-terra!!! No 220 V!!! Pãããããããta que o pariu se vai.
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