LJA
DE GRANT MORRISON – A REVISTA QUE SALVOU A LIGA DA JUSTIÇA
O final os anos 80 e início dos anos 90 não foram gentis em relação a Liga da Justiça. O período cômico da Liga da Justiça Internacional de Keith Giffen não tinha mesma atenção do público, com as histórias que vieram depois não sendo tão boas, com um personagem random atrás do outro sendo jogado na formação da equipe. Parecia que ninguém na DC tinha uma ideia clara quanto a Liga da Justiça e seu papel no universo DC.
Porém, esse período difícil
mudou com a entrada do icônico Grant Morrison. Assumindo as histórias da Liga,
Morrison lançou uma nova hq da equipe, LJA. Ele escreveu 41 edições de 1997 a
aos anos 2000, buscando restaurar o status da Liga como o grupo formado pelos
principais ícones da editora, ao mesmo tempo em que ele trouxe para equipe
novos membros, desafios e aventuras bem épicas, criando uma das fases mais
icônicas da Liga nas hqs.
Mas o que torna essa
revista da Liga da Justiça tão especial? Como que o Morrison conseguiu fazer os
heróis voltarem a serem o sucesso de vendas para a DC comics?
Vou explicar...
TRAMA
PRINCIPAL
O primeiro arco dessa fase começou com a Terra recebendo a visita do Hyperclan, um grupo de aliens que dizem ser heróis e desejam salvar o planeta, usando seus poderes e tecnologia para resolver problemas como questões ambientais.
Porém, após um ataque misterioso a heróis como Metamorpho, os membros da Liga se reúnem para investigar o Hyperclan, descobrindo serem um grupo de marcianos brancos tentando invadir a Terra.
Conseguindo derrotar os invasores, os heróis decidem reformar a Liga, estabelecendo uma nova base na Lua, a Torre de Vigilância, para agir como a primeira linha de defesa contra ameaças do espaço.
No entanto, o renascimento da Liga logo resulta em
consequências como a formação de uma nova Gangue da Injustiça, o governo
começando uma produção de meta-humanos sob seu controle e o vilão Prometheus
ficando interessado em derrotar a Liga.
Além de terem que lidar
com esses problemas, a Liga recebe em sua formação os Novos Deuses Órion e
Grande Barda, que vieram ajudar preparar a Liga para deterem uma ameaça cósmica
que aos poucos está vindo para a Terra.
VELHO
ENCONTRA NOVO
Como o objetivo de
Morrison era resgatar o que tinha feito a Liga tão popular no passado, uma de
suas principais decisões para essa hq foi trazer os 7 membros fundadores:
Superman, Batman, Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde, J’onn J’onzz e
Aquaman.
No entanto, coisas
estavam bem diferentes do que eram antes: Ao invés dos icônicos Flash e
Lanterna Verde, Barry Allen (que estava morto na época) e Hal Jordan (que era o
vilão Parallax), Morrison optou por colocar na Liga seus sucessores: Wally West
e Kyle Rayner.
Diante desses detalhes,
Morrison se aproveitou para deles criar dinâmicas novas para a Liga, assim como
arcos pessoais para esses jovens tentando encontrar seu lugar nesse grupo de
grandes heróis, que demonstrando um respeito pelos sucessores de seus colegas.
Porém essas não foram
os únicos tipos de mudanças que o Morrison teve que lidar durante a produção de
sua revista...
SE
ADAPTANDO A CONTINUIDADE
É muito comum nesse
universo compartilhado de hqs ocorrerem mudanças de status quo para incrementar
o drama e chamar a atenção dos leitores. Em muitos casos, quando isso acontece,
essas mudanças acabam afetando outras revistas, para garantir consistência na continuidade.
No entanto pode afetar a qualidade da história, interferindo nos planos dos
autores para a história que queriam contar.
No caso do Morrison,
que é famoso por sempre homenagear a continuidade em grande parte dos detalhes,
ele não buscou evitar fazer referências as mudanças que estavam ocorrendo na
DC, mas foi de cara com elas em suas histórias, seja a Hypolita assumindo o
lugar de sua filha como Mulher Maravilha ou o Superman tendo seus poderes
elétricos.
Ao invés de
atrapalha-lo, ele conseguia usar essas mudanças para beneficiar sua revista,
explorando essas alterações. O maior exemplo sendo o Superman, que era colocado
diante situações que ele não podia mais resolver com seus poderes antigos,
tendo que recorrer as suas novas habilidades.
Falando sobre explorar
os personagens...
A
IMPORTÂNCIA DE CADA INTEGRANTE
O legal das hqs da Liga
é ver personagens principais juntos numa só história. Porém, Morrison deu um
passo a mais, não só trazendo personagens clássicos de volta ao grupo mas fez
com que cada personagem tivesse um momento para se destacar na história.
Um exemplo principal
disso é o Batman. Enquanto hoje em dia a forma como ele é usado nas histórias
da Liga e os eventos da DC é meio forçado, e o personagem tendo um protagonismo
exagerado por causa de sua popularidade, a versão de LJA é bem sutil com sua
retratação.
Batman continua o mesmo
vigilante sério e estrategista, mas nunca a ponto de ser um “deus ex-machina”,
que resolve os problemas com suas gadgets ou “coincidências de roteiro”. Ele
ajuda a Liga com suas estratégias e habilidades de detetive, como na luta
contra os marcianos brancos, onde Batman descobre a identidade fraqueza dos
inimigos simplesmente notando os poderes dos inimigos e a forma como reagiam ao
fogo, ou na luta contra Gangue da Injustiça, onde Batman usa seus conhecimentos
de empresário para derrotar a estratégia de Luthor para destruir a Liga.
Nenhum herói está na
revista apenas para ser um enfeite. Cada um tem papel importante na Liga e no
determinado arco.
REINVENTANDO
A ERA DE PRATA
Lembram quando eu disse
que o Morrison é viciado em continuidade? Isso vale principalmente para a era
de prata das hqs, com o autor quase sempre resgatando elementos dessa era das
histórias em quadrinhos em seus trabalhos.
LJA não foi uma
exceção, com Morrison trazendo várias reinvenções de personagens da mitologia
da Liga como Starro (agora uma estrela do mar que tenta controlar os sonhos das
pessoas) Sindicato do Crime da America (agora uma versão da Liga de um universo
de anti-matéria), o Chave (que foi de um vilão bem tosco para um inimigo
sinistro e manipulador) e Shaggy Man (que foi de um monstro selvagem para ter
seu corpo possuído por um general que odeia a Liga).
O mesmo foi aplicado
nas histórias, com cada uma adotando uma direção inesperada, abraçando os
conceitos surreais da Era de Prata. Um desses casos foi o segundo arco de
Morrison, “A Pedra da Eternidade” que começa com os heróis da Liga tendo um
conflito com a Gangue da Injustiça do Lex Luthor. Mas, no meio da história, se
torna um “Dias do Futuro Esquecido” da Liga, com Lanterna, Aquaman e Flash
ficando presos num futuro apocalíptico, onde Darkseid domina a Terra, e agora
tendo que encontrar uma forma de voltar ao passado e evitar que esse futuro
aconteça.
Isso eram histórias que
aceitam o fato de serem hqs de super herói, e não sentem vergonha de abraçar os
elementos fantásticos das hqs do passado, com Morrison sabendo adapta-los para
uma nova geração de leitores.
Contudo, por trás
dessas aventuras épicas, viagens a lugares distantes, lutas memoráveis, tinha
uma história muito mais complexa sendo desenvolvida...
HERÓIS
& HUMANOS
Quando se pergunta qual a diferença entre os
heróis da DC e da Marvel, uma das respostas mais conhecidas é que, enquanto os
heróis da Marvel são personagens com os quais nós, leitores, nos identificamos,
os heróis da DC são personagens com os quais nos inspiramos.
Só por essa descrição
pode fazer muitos enxergarem os heróis da DC como um bando de “heróis
sorridentes” chatos e estereotipados, mas autores como Morrison souberam desconstruir
essa imagem, mostrando os membros da Liga como esses heróis inspiradores, mas
humaniza-los, retratando como apenas pessoas boas tentando fazer o certo pelas pessoas com quem se importam.
Durante essa fase, existem muitos momentos que abordam a relação da Liga com a humanidade, sejam interações deles com os civis, ou os personagens debatendo questões como o quanto a Liga deveria interferir no mundo, as consequências que suas ações tem no futuro ou até mesmo expressam inseguranças com as expectativas que muitos tem dele e sua dúvida se ele será capaz de atende-las.
É essa preocupação da Liga com as pessoas e a forma como eles interagem e se dedicam para protege-los que revela como, por trás dessa imagem de “deuses modernos”, os heróis da DC são tão humanos quanto qualquer um.
Essa dinâmica da Liga
com os humanos chega no seu auge na “Terceira Guerra Mundial”, o arco final de
Morrison, onde os heróis, para derrotar o poderoso Mageddon, recorrem a todas pessoas
da Terra, com um aparelho concedendo poderes a cada um deles, fechando perfeitamente
o ciclo da fase de Morrison, com a Liga não só lutando para proteger os
inocentes, como inspirando eles a abraçarem seu próprio potencial para serem
heróis e fazerem sua parte para salvar o mundo.
Embora minha versão
favorita da Liga da Justiça é “Liga da Justiça sem Limites,” a fase de Morrison
é minha fase favorita da Liga da Justiça nas hqs e uma grande inspiração por
trás das versões que vieram depois.
Então é isso! Concordam
comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês sobre a fase da LJA do Grant Morrison?
Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo.
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