LENDAS
– LIGA DA JUSTIÇA ENCONTRA O GRÊMIO DA JUSTIÇA
Nesse mês de Junho, tanto a DC quanto a Marvel lançaram seu dois grandes filmes, Homem Aranha Através do Aranhaverso e O Flash. Os dois projetos tem heróis distintos como protagonistas, possuem estilos opostos e se passam em universos diferentes, mas trabalham como uma temática similar: O multiverso.
O conceito de mundos
paralelos e dimensões com versões diferentes dos personagens foi utilizado em
várias obras da cultura pop, incluindo hqs. Embora a Marvel tenha histórias
boas como o Ultimate Homem Aranha e os What If’s, é a DC que melhor utiliza a
ideia de um multiverso de histórias, tendo criado várias crossovers épicos e
elseworlds bem populares envolvendo esses mundos paralelos, incluindo
obras-primas como Reino do Amanhã, Nova Fronteira, O Retorno do Cavaleiro das
Trevas, Crise nas Infinitas Terras e muitos outros.
Porém, a história
envolvendo o multiverso da DC que eu considero ser a melhor de todas não vem
das hqs da editora, mas sim de uma de suas adaptações. Eu me refiro ao
“Lendas”, um episódio de duas partes (episódios 16 e 17 da primeira temporada
para ser mais exato) do desenho marcante da Liga da Justiça, cuja história não
só é bem desenvolvida, com momentos bem tocantes e abordando temas bem
relevantes, até para os dias de hoje, mas eu acho que esse episódio representa
um dos principais motivos pelo qual Liga da Justiça Sem Limites, assim como o
Universo Animado da DC (ou Timmverso como alguns se referem) é considerado a
melhor adaptação do universo DC, sendo superior aos filmes live action.
Mas qual será o motivo
desse sucesso? o que torna esse episódio tão legal?
Bem, façamos como
Wolverine... vamos por partes...
TRAMA
O episódio começa com a
Liga tendo um conflito contra um robô gigante. Ao tentar salvar seus colegas
(John Stewart, J’onn J’onzz e Mulher Gavião) no meio do combate, Flash acaba
acidentalmente mandando eles para uma terra paralela onde eles conhecem o
Grêmio da Justiça da América (formado pelo Raio, Tom Turbina, Guardião Verde,
Homem Gato e Sereia Negra), um grupo de heróis de hqs que John Stewart
costumava a ler quando criança.
No entanto, conforme a
Liga vai interagindo com o Grêmio e passando mais tempo na dimensão deles, aos
poucos eles vão desvendando quanto a essa realidade paralela, descobrindo que
esse mundo seja apenas uma ilusão e que o Grêmio da Justiça não sejam quem eles
dizem ser.
UMA
CARTA DE AMOR A ERA DE PRATA DA DC
Só pela trama desse
episódio, fica bem claro para muitos leitores de hqs que essa história é uma
adaptação do crossovers da Liga com a Sociedade da Justiça na década de 60, com
os membros do Grêmio sendo inspirados em personagens da SJA (que não podiam ser
utilizados por exigência do editor da DC da época)
Raio – Flash (Jay
Garrick)
Tom Turbina - Átomo
Guardião Verde – Lanterna Verde (Alan Scott)
Homem Gato – Pantera
Sereia Negra – Canário
Negro
Porém o Grêmio da
Justiça não é apenas uma cópia da SJA. Os criadores se aproveitam do fato do
Grêmio da Justiça ser baseado em personagens de hqs clássicas e vão com tudo
nas referências e homenagens a hqs e adaptações da época campy da Era de
Ouro/Prata: O Tom Turbina tem seu design inspirado no traço do Superman da Era
de Ouro, o grupo tem um sidekick adolescente (que fala “santo...” que nem o
Robin do Burt Ward), seus vilões que anunciam seus crimes para desafiar os heróis, eles tem como aliado um
chefe de polícia que fala com eles por um telefone vermelho, etc...
Todas essas referências
fazem o episódio ser um verdadeiro tributo as hqs clássicas da DC, além de
gerar momentos bem divertidos e de humor provocados pelas reações da Liga da
Justiça reage a esses heróis mais campy,
criando um certo comentário meta de como super heróis eram inocentes e simples
nessas histórias clássicas (representados pelo Grêmio da Justiça) e como eles
se tornaram mais sofisticados e complexos nos dias atuais (sendo representados
pela Liga da Justiça).
Porém, a presença desse
fan-service acaba assumindo um outro propósito na história, um que é bem relevante
nos dias de hoje...
O BOM E O MAL DA NOSTALGIA
Hoje em dia é comum terem críticas em relação a histórias envolvendo retorno de personagens icônicos, principalmente com o multiverso sendo adaptado em outras mídias. Muita gente julga isso como um recurso manipulador de usar a presença de personagens e elementos de histórias que os fãs vieram a gostar para disfarçar os defeitos das histórias atuais, dizendo que os criadores são dependentes dos trabalhos de outros ao invés de criarem seus próprios projetos.
Embora eu discorde que
uso de nostalgia seja algo ruim e destinado a fracasso, pois pode ser usado
para beneficiar tanto histórias antigas quantos as novas, eu entendo a
preocupação e comentários em relação a esse recurso.
Nostalgia é algo bem
sensível e seus efeitos variam dependendo da pessoa, como esse episódio da Liga
demonstra por meio do vilão e do John Stewart.
Tanto o herói quanto o vilão tiveram seu passado marcado pelo Grêmio da Justiça, tal como qualquer fã de hqs e cultura pop teve sua infância marcada por um personagem, filme ou desenho animado favorito. No entanto, a diferença está no desejo de reviver aquela nostalgia.
Por causa de uma
tragédia que atingiu o Grêmio da Justiça e seu mundo (o que resultou no
cancelamento de suas hqs no mundo da Liga da Justiça), o vilão prendeu todos
numa ilusão, tentando recriar a época do Grêmio da Justiça, tentando permanecer
para sempre naquela época e não encarar a dura realidade, não se importando com
os inocentes que são forçados a viver nessa ilusão que ele forjou.
John Stewart, por outro lado, é o contraste. Ao invés de se prender ao passado, ele aceitou o fim das hqs do Grêmio da Justiça e seguiu em frente com sua vida, até se tornar um Lanterna Verde, um super herói que nem os personagens que ele admirava, inspirado pelas lições que ele aprendeu.
É nesse detalhe que o episódio revela sua grande força.
O
VALOR DO HERÓISMO
Numa história como
essa, envolvendo um grupo de heróis mais sérios e complexos se encontrando com
versões mais campy e inocentes, seria
muito fácil os criadores retratarem o Grêmio da Justiça como um bando de estereótipos
chatos e irritantes de super heróis para fazer os membros da Liga da Justiça
parecerem superiores. É uma armadilha que algumas histórias do tipo costumam
cair (exemplo: O crossover das Tartarugas Ninjas com suas versões do desenho
dos anos 80, as cenas dos Johnny Cages em Mortal Kombat 11), sendo claramente
influenciada por essa ideia errada que algumas pessoas tem de que “histórias em quadrinhos do passado são ridículas,
elas só ficaram boas quando passaram a ser sombrias, com personagens violentos
e tal”.
Por sorte Bruce Timm e sua equipe criadores souberam destacar os dois grupos, retratando o Grêmio da Justiça com respeito e um bom roteiro. Eles são bem exagerados, tem frases de efeito e parecem serem “bobos”, mas seu desejo de fazer a coisa certa é genuíno. Eles sempre tentam ajudar as pessoas e salvar o mundo, sentindo orgulho do bem que fazem para os outros.
Até mesmo quando o tom do episódio
fica mais sombrio, e o Grêmio da Justiça é forçado a tomar uma decisão que terá
consequências para eles e seu mundo, eles optam por fazer a coisa altruísta.
Esse momento ajuda a demonstra como os heróis do Grêmio da Justiça conseguiram
inspirar outros como John Stewart.
É natural HQs e suas adaptações terem deixado de ser tão inocente com o passar das décadas para refletirem cada vez mais a realidade de determinada época, tornando o drama dos personagens mais relacionável. Nenhum personagem é imune a isso, sendo necessário algumas mudanças cedo ou tarde para que possam se manter relevantes.
Porém, assim como é importante seguir em frente e não deixar as hqs nem os personagens estagnados, é também importante de vez em quando olhar pra trás e refletir no que fez esses personagens serem tão icônicos, usando essa informação para criar um futuro melhor. Até mesmo o Universo Animado da DC, que tinha tramas bem sombrias e profundas, sabia quando destacar o lado divertido das hqs e dar destaque para os heróis. A questão no final não é como mudar os personagens para se encaixarem no mundo atual, mas sim como seus valores podem beneficiar o mundo atual.
Esse um dos melhores
aspectos das histórias de super herói, seja quadrinhos ou adaptações, elas são um espelho para uma determinada
realidade e podem abordar os problemas que afetam o mundo, mas, ao mesmo tempo,
são histórias sobre pessoas que tentam ser um bom exemplo para os outros e usam
suas habilidades e talentos para fazer o melhor para todos. Não importa o quanto o tempo passe, os valores
dos heróis, o que eles representam, sempre terá um lugar no mundo.
Por representar isso de
forma tão bem escrita que eu considero o episódio Lendas não só um dos melhores
do desenho da Liga (e também do DCAU em geral) mas também uma das melhores
histórias da DC envolvendo o multiverso.
Então é isso! Concordam
comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês sobre o episódio Lendas e o desenho
da Liga da Justiça? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos
comentários abaixo.
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