Depois do filme de 2019, eis que finalmente estreou nos cinemas a sequência de Shazam!, A Ira dos Deuses. E não é que fui assistir na pré-estreia? Bom, para começar, vamos parar de chamar o personagem de Shazam e o nomear por seu verdadeiro nome, o Capitão Marvel original. Isso se a Marvel não processar a gente.
E o filme é bom? Hum, na verdade, não. Está mais para fraco. Infelizmente, é um filme aquém do que o Capitão Marvel mereceria, indiscutivelmente o maior herói da Era de Ouro em termos de vendagem, chegando a vender mais que Superman e Batman. O negócio é que o buraco é mais embaixo. O Capitão Marvel teve seu background completamente reformulado nos Novos 52. A verdade é que quase ninguém gosta dessa nova versão do herói. Todo mundo prefere o Capitão Marvel clássico. Não que a reformulação de Geoff Johns seja ruim; é uma história bem escrita e tal, mas não faz frente à releitura do personagem de Jerry Ordway, por exemplo, bem mais próxima do Capitão Marvel tradicional da extinta Fawcett Comics. No entanto, os filmes de Shazam! baseiam-se justamente na versão dos Novos 52.
Em
A Ira dos Deuses, Billy Batson, interpretado por Asher Angel, está bem à
vontade com sua contraparte super-heroica, cujo papel é feito por Zachary Levi,
que está muito confortável no personagem. Apesar disso, Billy é muito inseguro a
respeito de sua importância como herói e, também, muito controlador com seus irmãos
adotivos Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer e Adam
Brody, na versão heroica), Mary (Grace Caroline Currey), Eugene (Ian Chen e
Ross Butler, na versão heroica), Darla (Faithe Herman e Meagan Good, na versão
heroica) e Pedro (Jovan Armand e D. J. Cotrona, na versão heroica). Seus pais,
Cooper e Rosa, não sabem da vida dupla dos filhos.
Como
a tranquilidade não poderia durar para sempre, eis que surgem as vilãs do
filme, as filhas de Atlas, Hespera, interpretada pela veterana Helen Mirren,
Calypso, vivida por Lucy Liu, e Anthea, que é feita
pela atriz teen Rachel Zegler. Acredito que Helen Mirren e Lucy Liu só
aceitaram estar nesse filme para reformar o banheiro, só pode. Ao meu ver, não
sei se a escolha das vilãs foi a mais bem acertada, porque o Capitão Marvel tem
vilões bem mais tradicionais. Porém, o Doutor Silvana já foi utilizado no
primeiro filme; o Senhor Cérebro já apareceu na cena pós-crédito do primeiro
filme, além de ser um vilão muito caricato e ridículo. Adão Negro já foi
protagonista de seu filme com o The Rock; o Sabbac foi o vilão do filme. Sobram
vilões com o Ibac, o Capitão Nazista e a Sociedade dos Monstros, mas talvez as
filhas de Atlas representassem uma ameaça maior.
Como
o Capitão Marvel tinha partido em dois o cajado do mago Shazam no primeiro
filme, isso possibilitou que as filhas de Atlas conseguissem adentrar o mundo
humano. Hespera e Calypso se apoderam do cajado, e é revelado que o mago,
interpretado por Djimon Housou, estava na verdade vivo e no mundo dos deuses. O
plano das filhas de Atlas é se apoderar da semente que está no esconderijo mágico
dos heróis.
A
Ira dos Deuses tem o mesmo tom meio bobo do primeiro
longa. De certa forma, copiou o padrão de filmes Marvel de piadinhas. O Capitão
Marvel sempre foi um herói de origem mais infantil e pueril, mas nessa versão cinematográfica
quiseram dar uma ênfase de humor mais “engraçalharo”, e a maioria das piadas
realmente é forçada. A versão heroica do Billy continua mais infantil que a
versão mortal. E não só isso, há pouco Billy Batson no filme e muito Shazam.
Até entendo que o roteiro pode explicar isso com a justificativa de que Billy
prefere ficar em sua forma de super-herói do que na de adolescente, mas é
evidente que o intuito foi dar mais destaque para Zachary Levi.
Por
sua vez, Freddy tem muito mais cenas, e realmente Jack Dylan Grazer é o melhor
ator juvenil do filme. Ele estabelece um romance teen com Anthea. Mary
perdeu destaque; se ela era a mocinha do primeiro filme, neste ficou mais
apagada. Eugene e Darla também não têm tanto destaque. O único destaque que
Pedro recebe é quando ele assume que é gay.
David
F. Sandberg está longe de ser um grande diretor, mas é competente e entrega o
que lhe pede. O longa tem uma boa direção e a CGI não está ruim, principalmente
no ato final, em que criaturas mitológicas surgem na cidade. Como já foi
revelado em spoilers, a Mulher-Maravilha da Gal Gadot tem uma
participação no finalzinho, bem ex machina, diga-se de passagem.
Engraçado é que essa é a última vez que veremos Gal como Mulher-Maravilha,
provavelmente, uma vez que o DCEU será rebootado. Há ainda a ponta de Michael
Gray, o Billy Batson da série de TV do Capitão Marvel dos anos 70, que inclusive
chama o herói de Capitão Marvel no filme, ainda que com uma peruca horrível.
Vale
a pena assistir a Shazam! - A Ira dos Deuses nos cinemas? Bom, isso
depende. O filme é realmente fraco. Se você conseguir ingressos para uma sessão
matinê mais barata, até que vale a pena. Se você paga meia entrada, talvez compense
também. Há também o fato de que provavelmente vai levar muitos anos até que um
novo filme do Capitão Marvel chegue aos cinemas, e há risco de que nem existam
mais cinemas até lá. Nota 6,5 de 10.
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