Bom, mais uma vez, infelizmente, venho escrever um in memoriam, dessa vez relativo à célebre jornalista da TV Globo Glória Maria, que nos deixou na quinta-feira, 2 de fevereiro, supostamente aos 73 anos. Digo supostamente porque ela sempre fez certo segredo sobre sua verdadeira idade, e esse era um dos grandes segredos da Globo. E a verdade é que ela nunca aparentou a idade que realmente tinha, parecendo sempre mais jovem.
https://www.metropoles.com/entretenimento/entenda-o-mito-sobre-idade-de-gloria-maria-que-nunca-foi-revelada
A notícia de sua morte foi um tanto repentina,
mas é fato que em 2019 ela foi submetida a uma operação para a retirada de um
tumor cerebral. E, desde dezembro do ano passado, Glória Maria estava internada
para tratar de um câncer de pulmão (infelizmente, ela era fumante há muitas
décadas), que, ao que parece, metástase no cérebro, o que levou a seu
falecimento.
Não
sou exatamente um profundo conhecedor da vida e da carreira de Glória Maria, e,
na verdade, o Ozymandias tinha me solicitado que escrevesse um texto sobre ela
faz uns dias, mas não tive como fazer isso antes. Está certo que já há artigos e
matérias em profusão sobre ela desde seu falecimento, mas agora “Inês é morta”,
como dizem. Na verdade, quem está morta é Glória Maria, mas vocês me
entenderam. Não pretendo escrever um post muito detalhado sobre essa
grande jornalista, mas apenas apontar alguns fatos e curiosidades sobre ela e
sua carreira.
Nascida
em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, cursou jornalismo na PUC do Rio
de Janeiro. Glória Maria sempre teve uma história com as escolas de samba e foi
princesa do bloco carnavalesco Cacique de Ramos nos anos 60. Ela conseguiu seu
primeiro emprego quando foi se apresentar com o bloco no Programa do Chacrinha,
na Globo. O Velho Guerreiro gostou dela e a indicou para ser contratada pela
emissora. Dessa forma, ela se tornou a primeira jornalista mulher e negra da
Globo. O que se pode destacar de Glória Maria é seu sorriso, sua elegância e
sua simpatia, que se tornaram sua marca registrada.
Naquela
época, apenas por ser quem era, Glória Maria já combatia o tal “racismo
estrutural”. Não gosto muito de usar esse termo porque, ao meu ver, ele é
empregado mais de forma política que sociológica. A exemplo de quando dizem que
“denegrir” é um verbo racista, sendo que etimologicamente não há nada de racial
no verbo e até escritores negros como Machado de Assis e Lima Barreto já
utilizaram esse verbo em suas obras. No entanto, não se pode falar “denegrir”
por causa do tal “racismo estrutural” e blá blá blá. Ou seja, o uso desse termo
tem um significado um tanto “holístico” hoje em dia. Porém, é inegável que a
sociedade brasileira foi e continua sendo muito racista, desde seu fundamento,
e Glória Maria apenas por fazer o que fazia já ajudava a combater o racismo.
Mesmo caso do Pelé ou de Nichelle Nichols, a tenente Uhura de Star Trek.
Ao
longo de sua carreira, Glória Maria se notabilizou por basicamente duas
vertentes de jornalismo. A primeira foi a de entrevistadora de celebridades
internacionais. Ela entrevistou inúmeras celebridades para a Globo, muitas para
o Fantástico. A lista é longa, mas podemos destacar Freddie Mercury,
Michael Jackson, Madonna e Mick Jagger, entre muitas outras.
A segunda vertente foi a de documentarista de
viagens, geralmente para o Globo Repórter. Estima-se que Glória Maria
esteve em 84% dos países reconhecidos pela ONU. Imagino como é que era o passaporte
dela. Um dos casos mais famosos foi quando ela fumou a “ganja”, a maconha jamaicana,
e ainda andou de montanha-russa.
Na
vida pessoal, Glória Maria parecia ser uma ótima pessoa, inclusive adotando
duas meninas como filhas. Ela também não tinha muitas papas na língua e irritou
algumas feministas, quando disse que “gostava de ser paquerada”. "A
paquera... Pelo amor de Deus! Eu estou cansada desse negócio. Os homens estão
com medo. Eu quero ser paquerada ainda, estou viva. Mas existe uma cultura hoje
que 'não pode'. Nós mulheres sabemos bem fazer a diferença de uma paquera para
o assédio, um abuso sexual", afirmou a jornalista, concluindo que
considera o mundo de hoje ''muito chato: ''Acho que esse mundo está muito
chato. Essa coisa do politicamente correto é um porre. Eu não sou politicamente
correta e não vou ser, não adianta, não venho de um mundo politicamente
correto." Mulher porreta, não?
Vale também dizer que Glória
Maria era uma das “caras” da TV Globo e viveu os anos dourados da TV aberta.
Porque, venhamos e convenhamos, a TV aberta está morrendo já faz uns bons anos.
Eu mesmo hoje em dia só assisto à Globo News e streamings, e eu fui assumidamente
televisivo por muitos anos, desde a infância, quando a TV era minha “babá eletrônica”.
Era até meio anti-intelectual dizer que gostava de ver TV antigamente, mas fui
criado com TV e gibis.
No entanto, se você for pegar
os comerciais do horário nobre da TV aberta de antigamente com a de hoje em
dia, vai notar que mudaram bastante. No passado, os comerciais eram de bebidas,
carros, modas, celulares etc. Atualmente, os comerciais são principalmente de
supermercados, o que pode indicar que quem assiste à TV aberta hoje em dia é sobretudo
as classes C, D e E. As classes A e B foram para a TV por assinatura e principalmente
os streamings. E não preciso falar sobre os perrengues pelos quais a TV
Globo passou nos últimos anos, principalmente em relação a dívidas e demissão
de seus funcionários com altos salários. Obviamente, a “Venus Platinada” ainda
é poderosa e a maior emissora da América Latina, mas ela já viu dias melhores.
O que garante receita para Globo nos últimos tempos é mais o BBB que as
novelas, por exemplo.
Enfim, creio que a TV e,
principalmente, a Globo sentirão muita falta de Glória Maria, uma de suas mais
formidáveis jornalistas que viveu a “era dourada” da emissora que não voltará
nunca mais. R.I.P.
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