Então,
é engraçado se a gente parar pra olhar a carreira do Peter David, não é?
O cara começou a carreira
dele na DC lá nos anos oitenta fazendo o Lanterna Verde na Action Comics Weekly, nessa revista que saia quinzenal e ele teve
histórias de oito, nove páginas de comédia com o Hal Jordan, estilo sitcom
norte americana dos anos 80, mais na pegada comédia, fazendo sátiras, etc.
O Baú do DC chegou a fazer essas edições.
E ele foi escrevendo até chegar no Hulk.
O cara dedicou a vida toda ao
Hulk, tem até um vídeo antigo do Central HQs onde numa entrevista com o Peter
David, ele é questionado sobre qual a
fase preferida dele do Hulk, e ele responde:
“A que eu escrevi, porque eu dei o meu tom ali, respeito o que fizeram antes,
mas o meu foi o melhor, pra mim."
Mais de 10 anos escrevendo o Hulk (1986
-1999!), com dedicação e sem esmorecer no que
acreditava que era o personagem, isso é louvável.
Antes mesmo de perguntar
isso, o rapaz que fazia a entrevista tinha indagado algo como: Quanto eu tenho
que pagar pra conversar com você? E pra ganhar um autógrafo?
Ele vira pro cara e fala
assim: “não, você não precisa me pagar,
não precisa fazer nada, mas se você quiser você pode me dar uma ajuda nessa
caixinha."
E assim você vê a sensibilidade ali do cara,
porque você vê que é um cara que há oito anos atrás já estava meio abatido, com
vários problemas de saúde e é um cara assim, gente boa, são esses pequenos
gestos aí do cara que que valem pra mim a pena ver a simplicidade de alguém.
Quando nos anos 90 o Peter
David fica sem exclusividade da Marvel, ele vai pra DC, em 1994 e já começa a
escrever o Aquaman na época da “Zero Hora”, fica bastante tempo, quando ele
briga com o editorial e sai do título, já começa a fazer Supergirl por mais edições ainda, setenta e poucas edições. Escreve
Justiça
Jovem (que é a criação dele) e roteiriza cinquenta e tantas edições,
com ideias dele sendo usadas até hoje em adaptações para filme e TV desses
personagens, mesmo a Supergirl do seriado não sendo a mesma que ele escrevia,
segue as bases do PAD.
Você não vê o público atual
dar o respeito merecido ao autor, ele não entrava e fazia só coisa de dois
arcos e saia (oi, Warren Ellis), ele pegava títulos que eram considerados “B” e
redefinia eles por dezenas de edições, (a exemplo do X-Factor!!) isso era amor
pela escrita e pelos próprios personagens, um cara que tem amor profundo pela
indústria e hoje é ignorado e negado por ela, hospitalizado e tendo que
recorrer a doações de fãs para comprar seus remédios básicos e pagar o seu
tratamento. Esse é um fato. O cara contribuiu tanto, está nos pilares. E hoje
vejo gente até falar que ele é um “velho gaga”, sendo que até as últimas minis
que ele fez do “Maestro” foi mais para arrecadar fundos, dada a situação
precária dele.
Nos anos 2000, de volta à Marvel, ele foi
boicotado novamente, escrevendo o Genis-Vell, após a minissérie Vingadores
Eternamente. Joe Quesada cortou ele na época, não deixou de terminar as
histórias do que era o filho do Capitão Marvel, 20 anos depois, esse ano ele
conseguiu retomar e tal o plano que ele tinha inicial, mas sentindo o peso de
ser lançada com vinte anos de atraso, acabou sendo um lançamento apagado, e não
fez tanto barulho).
Agora ele já é velho, está
internado há semanas e ainda mais debilitado. Um cara que deveria ser valorizado,
o cara contribuiu demais. Inspirou e fez parte da leitura de muita gente, da
minha vida, e provavelmente das suas, independente do que tenha lido. E vê as
grandes empresas ganhando rios e rios de dinheiro com os personagens cujos ele
deu algumas das melhores ideias.
Será que a vida tem que ser sempre assim? Que
você faz uma puta contribuição pro mundo, aí depois o mundo vira as costas pra
você e fala, foda-se. Como o Ed Brubaker dissd, que após uma década no Capitão
América, com arcos como o do Soldado Invernal, ganhar só uma nota de rodapé nos
créditos dos filmes da Marvel, sem nenhum reconhecimento financeiro, e nesses
créditos há vários outros roteiristas numa página de agradecimento, com
centenas de outros vários artistas, que também não receberam um centavo da
bilheteria.
Ai depois você vê as pessoas
dizendo que “os autores de quadrinhos não tem mais amor pelo que fazem, não
trazem mais personagens novos bons de verdade, ou mudanças reais quando pegam
um título”.
Amar e dar o seu melhor, e
terminar no fim da vida, sendo renegado e ignorado como o Peter David?
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