He-Man do Nordeste, o Gigante Loiro das Américas


Esta é uma das histórias mais malucas que já chegaram ao meu conhecimento. E olha que eu já vi, ouvi e até vivi muitas sandices nesse meio século e um lustro de existência.

É o He-Man do nordeste!

Até aí, nada de surpreendente. Infinitos He-Men brasileiros devem ter existido entre fins da década de 1980 e meados da de 1990, época em que esse personagem virou febre nacional.

Devem ter existido He-Men do nordeste, do norte, do pantanal, dos pampas. Mas este do qual vos falo é diferente. Especial e único.
Antes, porém, um esclarecimento para quem não nasceu na Terra nem em Eternia, ou faz parte da triste e acéfala geração millennial e, portanto, nunca ouviu falar do He-Man.

Na maior parte do tempo, ele é o afeminado príncipe Adam, herdeiro do trono real de Eternia. Então, quando o malévolo Esqueleto ameaça o reino, ele manuseia com destreza e carinho um enorme espadão, o põe em riste acima de sua cabeça e brada o seu grito de shazam : "pelos poderes de grayskull... eu teeeenho a força!!!!". Um raio incide no espadão e ele se transforma no também afeminado He-Man. Uma espécie de Conan nada bárbaro. Um corno fresquíssimo e louro saído de um comercial de xampu. Um Conan do crossfit.

Não é à toa que o brasileiro, genial para o que não presta, eternizou a paródia do seu grito : "pelos poderes de gay que sou... eu queeeeimo a rosca!!!".

Mas não o He-Man nordestino, nascido sob o nome de Lenine Alves Baptista. Que esse era cabra da peste, da moléstia, da gota serena. Aliás, não era nordestino, nasceu no Paraguai, filho de mãe índia paraguaia e pai cigano russo.

Lenine Alves Baptista foi o maior lutador de vale-tudo do Brasil. E um dos menos conhecidos. Tanto que mesmo eu, um apreciador dessa modalidade esportiva desde os tempos do telecatch da TV Tupi, só fiquei a saber dele um dia desses, por um vídeo me enviado pelo Ozy, do blog Ozymandias Realista.

Lenine lutava em um circo. O seu próprio circo. Ele percorria os confins e os pequenos rincões do Brasil a armar o seu picadeiro. Para anunciar seu espetáculo, ele ia para a praça central das cidades, dava demonstrações de força e habilidade e desafiava os locais para que tentassem derrotá-lo. Oferecia prêmios em dinheiro para quem lograsse tal feito.

Em 1996, realizou a sua maior façanha, que transformou o seu nome em lenda : em Crato (CE), derrotou 35 homens ao mesmo tempo, de mãos limpas. Tudo bem que nenhum dos 35 eram lutadores profissionais, eram moradores da cidade, um bando de mal-acabados; a bem da verdade, uma legião de Esqueletos, mas, ainda assim, 35 homens.

Lenine postou-se ao centro do picadeiro e a boiada foi solta pra cima dele. Trinta cinco homens cercando-o, procurando uma brecha para lhe encacetarem, um flanco livre. Os homens começaram a se apinhar em cima do He-Man do nordeste. Choveram porradas, socos, safanões e catiripapos. Dos homens em He-Man e do He-Man nos desafiantes. Porém, enquanto He-Man aguentava firme os golpes, cada homem ia sendo colocado fora de ação pelos golpes de He-man. Um a um foram sendo derrotados, até que só sobraram uns quatro ou cinco para encarar Lenine. Olharam um para o outro e desistiram.

E olha que He-Man nem golpeava duramente quando lutava com quem não fosse profissional. Como todo herói, He-Man era benevolente para com o amadorismo de seus oponentes, não lhes dava socos de mão fechada, para não ferir-lhes gravemente, só tapas de mão aberta.

Contam também que He-Man dominava uma técnica que, embora não letal, era vexatória para o inimigo. Se ele conseguisse acertar um tapão bem colocado na região dos rins do cabra, este perdia o controle da bexiga, da micção, e se mijava todo, ali mesmo.

Também parecia ser imune à dor. Em certa feita, lutou contra oito lutadores profissionais ao mesmo tempo, oito homens treinados nas artes do combate. Embora tenha derrotado seis deles, acabou vencido. Levado ao hospital para suturar um corte no lábio, dispensou a anestesia. O médico costurando o beiço dele à seca e ele nem sentindo nada.

Contudo, seu fim nada teve de heróico ou glorioso. Não se deu nos ringues pelas mãos de um oponente mais valoroso.
Em 26 de dezembro de 2008, aos 57 anos e ainda em plena atividade, foi baleado pelo sogro, no município pernambucano de Ouricuri. Inconformado com o rompimento de He-Man com sua filha, o sogro meteu-lhe um balaço na cabeça. Dono de um vigor e de uma resistência física incomuns, mesmo com uma azeitona na cabeça, He-Man ainda conseguiu correr do sogro, que meteu-lhe mais quatro pipocos nas costas.

Não caiu. Munido da força que o destino só concede aos heróis, conseguiu que vizinhos o levassem a um hospital. Travou, então, o seu combate mais difícil, contra a Morte, que teve que suar para levar o He-Man nordestino.

Baleado em 26 de dezembro de 2008, só sucumbiu de vez em 08 de janeiro de 2009, em Petrolina (PE), para onde foi transferido em busca de melhores recursos médicos.

Ignorado pela grandes meios de comunicação da época, o He-Man nordestino foi ressuscitado e eternizado pela internet. Hoje, é possível achar vários vídeos de suas proezas. Inclusive, o da sua épica luta contra os 35 de Crato.
Eis o He-Man nordestino, também conhecido como o Gigante Loiro das Américas.


 



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