Atualmente,
vivemos na tal “era do clickbait”, em que se usa de iscar para pegar o público
e enganá-los. Nos quadrinhos, isso não é bem novidade. É só lembrar a
quantidade de capas da Era de Prata da DC e da Marvel que tinham bait e
iludiam o leitor. Entretanto, o bait sofisticou-se, e na era da internet
alcançou níveis nunca antes imaginados.
Esse é o caso da história dos três Coringas; desde o Renascimento da DC que Geoff Johns ventilou esse boato, de que havia três Coringas, e nunca tinha explicado isso direito. Por fim, isso desembocou nessa HQ, Os Três Coringas.
A HQ, escrita por Johns e ilustrada por Jason Fabok, bebe demais do clássico A Piada Mortal de Alan Moore e Brian Bolland. Fabok, inclusive, imita o tipo de enquadramento de Boland, com várias páginas sendo compostas por nove quadrinhos. A reverência na verdade é muito justa, pois A Piada Mortal na minha opinião e na de muita gente ainda é a melhor história de Batman versus Coringa já escrita, e a origem do Coringa transcrita nesta foi a origem canônica do vilão por muitos anos, desde o pós-Crise das Infinitas Terras. A Piada Mortal na verdade pegou a origem do Coringa como Capuz Vermelho, mostrada em Detective Comics no 168, e a expandiu em uma história em que até então tinha sido o ápice de crueldade e sadismo do vilão.
Enfim, qual o enredo de Os Três Coringas? Repentinamente, três crimes com os padrões característicos do vilão ocorrem ao mesmo tempo, e isso confunde a polícia, bem como Batman e seus aliados, Jason Todd, o Capuz Vermelho, e Barbara Gordon, a Batgirl, que, sim, têm participação nessa história justamente porque ambos foram vítimas do Coringa e têm traumas do Palhaço do Crime. Um dos crimes do Coringa é o assassinato de membros remanescentes da família Moxon; para quem não sabe, Lew Moxon foi, em algumas versões, responsável por mandar assassinar os pais de Bruce Wayne, o casal Thomas e Martha. O outro crime foi o assassinato de um comediante; e o último crime, o assassinato de três sem-teto que foram “coringados” e se tornaram réplicas do Coringa.
E
quem são os tais três Coringas? O primeiro é o gângster, que nada mais é que o
Coringa da Era da Ouro, o primeiro, tanto que ele raramente ri, igual ao primeiro
quadrinho no qual o vilão aparece, em que ele está taciturno. O segundo Coringa
é o palhaço, que é a versão da Era de Bronze, de Neal Adams, e o terceiro é o
Comediante, que é o de A Piada Mortal. Um deles é o verdadeiro Coringa,
mas qual?
O
roteiro de Os três Coringas foi bem criticado, mas tem uma coisa bem
legal, que são as referências a histórias clássicas do vilão. Por exemplo,
quando Batman e seus aliados chegam ao Aquário de Gotham, há ali peixes sorridentes
em uma clássica alusão à história O Peixe Sorridente, de Steve Englehart
de Marshall Rogers. Também aparece um tubarão sorridente, que é uma referência à
história A Vingança Quíntupla do Coringa, em que o vilão amarra o
Batman com uma corrente e tenta fazer com que o herói seja devorado por um
tubarão. E ainda aparece o sidekick clássico do Coringa, o Bobo, que era
um anão capanga do Palhaço do Crime. Isso mostra o quanto essa HQ é inclusiva,
dá espaço até para anão. Claro que é uma “pequena” participação. He he,
entenderam? “Pequena”. Bom, vamos voltar a falar sério, por mais que muita coisa
na HQ pareça fanservice barato, isso adula o ego do fanboy, e, no
fim das contas, é uma homenagem mais que merecida ao grande vilão que o Coringa
é. Isso a gente tem de dar o mérito a Johns.
A arte merece um comentário à parte, pois Jason Fabok manda muito bem. Ele na verdade imita bastante o estilo de Gary Frank, mas imita bem. A arte é muito bem detalhada e agradável de se ver, com bom uso de sombras. E ele é um desenhista à moda antiga. Desenha a Batgirl bem voluptuosa, com corpo escultural; ao contrário de uns artistas atuais que não sabem desenhar mulher e fazem a personagem toda quadradona.
A
HQ termina com um gancho interessante e que segura a atenção do leitor. Eu, na
verdade, já tinha lido Os Três Coringas na internet uns dois anos atrás
e já sei o que acontece. Já digo que está longe de ser a melhor história de
Batman versus Coringa, mas também está longe de ser a pior. Tem essa
questão de ser bem clickbait e altera o cânone de A Piada Mortal,
mas a homenagem ao Coringa realmente é a melhor coisa da HQ, por mais fanservice
que seja. Nota 7 de 10.
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