Texto originalmente publicado em 21/09/2021, no blog Think Floyd, e que pode quer lido AQUI.
A primeira colaboração entre o Pink Floyd e o lendário grupo de design gráfico Hypgnosis foi a capa do segundo álbum da banda, “A Saucerful of Secrets”, de 1968, sendo uma combinação de vários elementos visuais enigmáticos e psicodélicos, e escondidas entre eles há imagens extraídas diretamente de uma famosa página da edição Nº.158 do gibi “Strange Tales”. Nela percebe-se a imagem do terrível destino que seria imposto ao planeta Terra pelo personagem onipotente Tribunal Vivo (que possui um poder quase ilimitado, que o torna capaz de destruir por completo dimensões e realidades, suas três cabeças são capazes de ver o futuro, presente e o passado), e os esforços do Doutor Estranho em salvá-la. Roger Waters, pediu autorização a Stan Lee para colocar uma imagem do Mago Supremo na capa do álbum.
Em uma entrevista sobre design, o idealizador da capa, o genial Storm Thorgerson, disse:
“… A capa é uma tentativa de representar coisas em que a banda estava interessada, coletiva e individualmente, apresentadas de uma forma que fosse proporcional à música. Em um turbilhão, mapa astrológico vermelho com bordas borradas / Imagens do Dr. Estranho se fundindo, e um milhão de milhas de distância de certas experiências farmacêuticas. Começando com Saucerful, eles estavam começando a experimentar com mais peças de maior duração, e a música seria em cascata mudando de coisa em coisa.”
Doctor Strange e Pink Floyd tiveram início durante a década de 60, uma década conhecida pela expansão da mente, experimentação psicodélica e pelo avanço das fronteiras culturais e artísticas. Nenhum deles estava exatamente em sintonia com o resto de seu gênero respectivamente. E foi em um ambiente que tentava alcançar tais experiências xamânicas, fortemente influenciado pelo livro “As Portas da Percepção” de Aldous Huxley, seja para obter o autoconhecimento, encontrar um sentido religioso na vida, ou meramente servir de válvula de escape aos problemas cotidianos, que apareceram as bandas ditas psicodélicas. Nesta época Pink Floyd com certeza não imaginava que um dia a banda se tornaria a maior de Rock Progressivo de todos os tempos.
Doctor Strange usou de práticas ocultas como magia e projeção astral para derrotar seus inimigos em vez da força bruta. O Pink Floyd chamou rapidamente a atenção na cena de Rock Psicodélico pelo seu som único, repleto de efeitos criados pela dupla Barrett e Wright, alguns nunca usados antes, e, shows com uma iluminação hipnótica que se tornaria uma marca registrada da banda em sua primeira fase. Sem surpresa, os quadrinhos Doctor Strange eram populares nos campos universitários quando a revolução da contracultura do período começou a se estabelecer na arte surreal de Steve Ditko, desenhista e roteirista norte-americano que ao lado de Stan Lee criou Doctor Strange, para a Marvel Comics. Nada traduziria tão perfeitamente estas “viagens” do que as imagens das batalhas místicas deste herói dos gibis. As várias dimensões visitadas pelo Mago Supremo era psicodelia pura.
Em entrevista ao The Daily News, via Comicbook, o diretor Scott Derrickson, na ocasião, falou sobre a sua concepção para Doctor Strange:
"Doctor Strange é um autêntico representante do psicodelismo. Se você ama os quadrinhos iniciais de Stan Lee e Steve Ditko, com aquela ambição visual, ancorada no psicodélico, penso que sairá bastante satisfeito dos cinemas. A fonte primária para o design visual de todo o filme veio daqueles quadrinhos,” disse o diretor.
Derrickson é um fã de Doctor Strange e desde as primeiras reuniões sobre o filme ele citou os quadrinhos dos anos 60. “Eu disse para eles que o filme deveria ser audacioso, como os quadrinhos dos anos 60. Eu quis atores reais e talentosos enquanto lidam com o sobrenatural”.
“Interstellar Overdrive” durante uma sequência chave no início do filme, vêm do primeiro álbum do Pink Floyd, The Piper At The Gates of Dawn. A versão do álbum chega a quase 10 minutos, mas as versões ao vivo podem durar mais, e são acompanhadas por um show de projeções de luzes psicodélicas que conduzem à expansão da mente.
Psicodelia é uma manifestação da mente que altera a percepção sensorial, causando alucinações. Então, uma experiência psicodélica é um conjunto de experiências estimuladas pela privação sensorial, bem como por efeito no sistema nervoso de substâncias psicodélicas.
O filme Doctor Strange é certamente associado a visuais de viagens de LSD, psilocibina e mescalina (Strange até questiona a Monja de adicionar algo do gênero em seu chá), confira o trecho acima.
A faixa-título, "A Saucerful of Secrets" soa como uma hipotética sequência de "Interstellar Overdrive", já que é outro instrumental estendido que dá mais ênfase ao som experimental do que a qualquer coisa que se assemelhe a uma estrutura musical tradicional do rock. Em outras palavras, é um acompanhamento perfeito para a sua leitura dos quadrinhos de Doctor Strange da época.
No ano seguinte, quando trabalhando na trilha sonora do filme “More”, o baixista da banda Roger Waters escreveu a música Cymbaline, uma música que contrasta sua suavidade sonora com a letra em que descreve um pesadelo. Entre várias imagens oníricas relatadas, há uma referência direta ao Doutor.
E, recentemente, Benedict Cumberbatch, o ator que interpreta o misterioso doutor, cantou "Comfortably Numb" num show de Gilmour, alimentando ainda mais as referências psicodélicas e obscuras, tanto do Pink Floyd quanto de Dr. Strange.
Fontes: The Den of Geek magazine, Rockontro, Marcelo Donati, Dínamo Studio, Torre de Vigilância, Google.
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