Já tinha uma noção de que Morbius provavelmente seria um péssimo filme e, ainda assim, arrisquei-me a pegar uma sessão matinê, uma vez que estou de férias e também porque antigamente, antes da pandemia, costumava assistir a todo filme de quadrinho, mesmo que fosse uma porcaria. No entanto, devo dizer que a experiência cinematográfica de ver Morbius foi terrível. O filme é tudo aquilo que estão falando. É pior do que você imagina.
É óbvio que o cheiro de caça-níquel da Sony em explorar o universo de personagens ligados ao universo do Homem-Aranha é fortíssimo. Exala até desespero. Uma pena, pois na realidade sempre gostei de Morbius nas HQs. Ele não era exatamente um vilão de primeira linha do Aranha, mas era um dos mais trágicos, desde sua primeira aparição, em Amazing Spider-Man no 101, em 1971. Criado por Roy Thomas e Gil Kane. Michael Morbius era um cientista grego que sofria de um problema congênito e de uma doença sanguínea grave; em razão de um experimento científico malsucedido, ele torna-se Morbius, o Vampiro Vivo, cuja sede de sangue o faz assassinar pessoas, a despeito do sentimento de culpa e repugnância.
O
enredo do filme faz uma livre adaptação da origem de Morbius. No início do longa,
Michael Morbius é apresentado como uma criança desenganada desde o nascimento;
seu único amigo é Milo, outro garoto que também sofre da mesma doença fatal. Jared
Harris, o professor Moriarty do Sherlock Holmes de Downey Jr, é o diretor da
escola/hospital de elite em que Morbius e Milo estudam.
Adulto, Morbius, interpretado por Jared Leto, é um médico brilhante que pesquisa a cura para a condição que o aflige e também a Milo e conta com a colaboração da Dra. Martine Bancroft (Adria Arjona), que nas HQs era sua ex-noiva. Morbius realiza o malfadado experimento em águas internacionais que o transforma no Vampiro Vivo. Essa cena até que achei bem quadrinho, no sentido de ser muito repentina, Morbius já se transforma em vampiro e assassina toda a tripulação de mercenários. Pensava que a metamorfose de Morbius em vampiro fosse ser mais gradual, a lá A Mosca, mas na cena seguinte ele já está como vampiro.
Morbius isola-se de todos para tentar encontrar uma cura, mas seu melhor amigo Milo, interpretado pelo ex-Doctor Who Matt Smith, vai a seu encalço e ainda rouba uma das amostras de soro do experimento, também se transformando em um vampiro. Porém, Milo não tem a mesma consciência de Morbius e torna-se um assassino que só pensa em beber sangue, vestindo um terno e calçando tênis, para ficar mais ridículo ainda. A atuação de Matt Smith é de longe a pior do filme e seu vilão é bem caricato e, ainda por cima, clichê, sendo a versão maligna do protagonista, o que é curioso, pois ele seria um “vilão de um vilão”, mas aí é que está: com exceção dos mercenários que assassina quando se transforma em Morbius pela primeira vez, ele não faz mais nada de vilanesco durante o resto do filme. Apesar de ser vendido como um “filme de vilão”, o protagonista não é vilão nem anti-herói; é na prática um herói.
Após ser capturado pelo policial interpretado por Tyrese Gibson, Morbius toma consciência de que Milo é um vampiro assassino e escapa da prisão para enfrenta-lo, com a ajuda de Martine. O desenvolvimento dos personagens é muito ruim; é até ensaiado um suposto triângulo amoroso entre Morbius, Martine e Milo, mas o filme é tão mal editado que isso fica muito implícito, não há background. Dizem as más línguas que o filme foi refilmado e reeditado tantas vezes que se tornou um Frankenstein. E ainda quiseram fazer uma ponte com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e com o Multiverso, particularmente nas duas cenas pós-crédito, que envolvem outro vilão do Aranha, mas não fazem o menor sentido. E, ao que parece, existe um Aranha no mundo de Morbius, mas a gente não faz ideia de qual seria; provavelmente, é o Andrew Garfield.
Entretanto,
tenho de admitir que os efeitos visuais estão em sua maioria até decentes, uma
vez que, de tanto ser adiado, conseguiram desenvolver bem o CG. Apesar disso, a
maioria das cenas com CG ou é à noite ou em ambientes mais escuros, claramente
para esconder os defeitos. Morbius quando voa lembra muito o efeito do Noturno
se teletransportando em X-Men 2, o que prova que um filme lançado há
quase vinte anos atrás ainda é referência de efeitos visuais. Jared Leto incorpora
um Morbius mais galã, em contraposição ao Morbius das HQs que era um cara bem
feio. Leto também pegou pesado no supino e está bem bombado, como cenas dele
sem camisa no filme comprovam.
A trilha sonora me pareceu uma versão bem lado B da trilha de Hanz Zimmer na trilogia do Batman de Christopher Nolan. Vale dizer que o diretor, Daniel Espinosa, tem nome em Hollywood e já trabalhou com atores de primeira linha, mas também dirigiu bombas como Morbius.
Enfim,
se alguém tiver a curiosidade de assistir a Morbius, recomendo que tente
ir na sessão e horário mais baratos, ou então aguarde e espere baixar na “vídeolocadora do Paulo Coelho”; caso contrário, a experiência pode ser bem decepcionante,
apesar de que creio que ninguém nunca esperou muita coisa desse filme. Coitado
de Jared Leto, cujo agente parece não estar sabendo escolher para o ator bons
papéis em filmes de HQs. Nota 3 de 10.
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