Hoje, 1o de fevereiro, foi mais um dia triste, em que faleceram protagonistas importantes de nossa infância/adolescência, e irei fazer um obituário um tanto atípico, pois se trata de um obituário duplo. Começarei logo com a triste notícia do falecimento de Isaac Bardavid, que era bem mais presente para nós, brasileiros.
Nascido
em Niterói, em 1931, Bardavid iniciou sua carreira de teledramaturgia nos anos
60 e atuou em novelas célebres, como Escrava Isaura; porém, foi como
dublador que se tornaria mais lembrado e conhecido. Sua entonação era bem característica,
aguda e cavernosa. Do rol de personagens a quem Bardavid emprestou a voz, podemos
destacar alguns personagens. Um deles sem dúvida foi o Esqueleto, eterno
arqui-inimigo de He-Man, desenho que foi exibido à exaustão na programação
infantojuvenil da Globo, desde a época do Xou da Xuxa. E ele dublou não
apenas a versão do Esqueleto da Filmation, mas também as posteriores, o de As
Novas Aventuras de He-Men e o do desenho do He-Man de 2002 também. Bardavid
foi convidado para dublar o Esqueleto em Mestres do Universo: Salvando
Eternia, mas teve de declinar por razões de saúde e porque estava
praticamente aposentado. No entanto, dublou o vilão Scare Glow, que tinha menos
falas.
Não podem ficar de fora as interpretações na dublagem que Bardavid fez para Obi-Wan Kenobi em Star Wars e Freddy Krueger, um dos maiores monstros do cinema, da franquia A Hora do Pesadelo, de Wes Craven.
Para os fanboys, Bardavid será sempre lembrado como o primeiro dublador do Wolverine, no desenho dos anos 90. Na verdade, ele teve grande importância na popularização do personagem no Brasil, digo isso porque, até a estreia do desenho dos X-Men na TV Colosso da Globo, em janeiro de 1994, a massa não conhecia a equipe mutante. Eu já era leitor regular de X-Men já há uns anos, mas, fora os leitores de quadrinhos, ninguém conhecia os personagens por aqui até a estreia do desenho e a popularização dos jogos de vídeo game dos personagens. Wolverine teve um segundo dublador no Brasil, o mesmo do Panthro dos Thundercats, mas Bardavid realmente foi o mais marcante e lembrado. E ele repetiu a dose dublando Hugh Jackman, quando o personagem ganhou versão em live action, na franquia dos X-Men da Fox.
Outro personagem que merece destaque foi o Capitão Haddock, o eterno companheiro de Tintim de Hergé, que foi dublado por Bardavid no desenho animado exibido pela TV Cultura também em 1994 no Brasil. E ele também foi um dos dubladores brasileiros de Anthony Hopkins, inclusive do ator no papel de Odin, nos filmes do Thor do MCU.
O
outro obituário que irei escrever é de Brian Augustyn, que, apesar de ser um
escritor e editor de HQs de certa importância nos anos 80 e 90, é meio
desconhecido dos leitores brasileiros; ele realmente era mais conhecido nos
EUA. O quadrinho mais conhecido por aqui que Augustyn
escreveu foi sem dúvida Gotham 1889 (ou Gotham by Gaslight),
ilustrado por Mike Mignola, em que Batman enfrenta Jack, o Estripador. Essa foi
a primeira HQ da linha Elseworlds (Túnel do Tempo, como era chamada na época da
Abril) da DC, ou, pelo menos, uma das primeiras; Justiça Digital, a HQ computadorizada
do Batman, também saiu na mesma época. Augustyn também escreveu a sequência
dessa história, Batman: Mestre do Futuro.
Também deve ser salientada a colaboração de Augustyn com Mark Waid, primeiro como editor da fase de Waid no Flash, que sem dúvida é a melhor fase do personagem de todos os tempos. Gosto muito de Barry Allen, mas Wally West foi mesmo o melhor Flash e o que teve as melhores fases, as de Waid e a de Geoff Johns; porém, a fase de Waid é superior à de Johns. Digo isso porque separo a pessoa do artista; não gosto da pessoa que Waid se tornou, um treteiro progressista de Twitter, avatar da lacração, mas como escritor ele continua ótimo, pelo menos no tocante ao que li dele mais recentemente, que não foi tudo. Augustyn ainda corroterizou com Waid a HQ Liga da Justiça: Ano Um, que foi uma das melhores histórias que a DC publicou em fins dos anos 90, uma época um tanto fraca de quadrinhos de qualidade, mas que ainda conseguiu ser melhor que a década de 2010.
Vale
também a referência de Augustyn como escritor de X-O Manowar da Valiant
nos anos 90, fase inédita no Brasil. Aliás, toda a fase antiga do personagem é
inédita no Brasil, só a fase mais recente é que foi publicada por aqui, e,
ainda assim, é um herói desconhecido pela maioria dos leitores brasileiros.
Brian
Augustyn foi um criador que pegou uma época melhor da DC e dos quadrinhos em geral,
em que havia mais qualidade e um fandom mais consistente que o de hoje; ele era um veterano, mas andava meio afastado da indústria. Bem mais discreto
que Mark Waid, não costumava dar pitacos ou brigar com as pessoas nas redes
sociais, até mesmo porque ele era de uma época em que não era considerado de bom
tom profissional lavar roupa suja com outros criadores de HQs em público, coisa
que infelizmente a internet contribuiu para abolir, e isso era assim não era
apenas no meio dos quadrinhos, mas no geral.
Portanto,
fica aqui meu reconhecimento a esses dois homens que faleceram hoje e que
contribuíram bastante para suas respectivas áreas da cultura pop. R.I.P.
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