ELA



Podemos nos apaixonar por um sistema operacional? E por que não? Não somos todos, sistemas operacionais? Se acondicionados e enclausurados em um HD ou em um cérebro, qual a diferença? Se sistemas operacionais à base de carbono ou de seu primo, o silício, qual a importância? Não somos todos, cérebros? Não existimos se não enquanto pensamento? Não somos o que pensamos, e também o mundo como o vemos?

Pode, um sistema operacional, se apaixonar por nós? Desenvolver emoções próprias e genuínas, além das que lhe foram programadas? Nós desenvolvemos emoções próprias e genuínas? Que emoções são deveras nossas, quais parte de nossa programação, biológica e social? O que de fato sentimos além do que nos foi ensinado a sentir?

O que chamamos de emoções não são tão-somente interações físico-químicas que nos causam ora bem-estar, ora desconforto? Há dois tipos de reações químicas. As exotérmicas, que liberam energia : que bem podemos interpretar como alegria, amizade, amor, paixão, êxtase. E as endotérmicas, que absorvem energia : talvez as sintamos como tristeza, melancolia, frustração, depressão. Não são, os próprios pensamentos, fagulhas elétricas geradas por reações químicas?

Pode, um sistema operacional, desapaixonar-se? Ou polienamorar-se? Sentir forte interação por vários outros sistemas operacionais, simultaneamente, ter vários sistemas-gêmeos?

Não somos todos, insaciedade? Não somos todos, Desejo? 


Há tempos que eu já colocara o filme ELA (Her) na minha lista de filmes a assistir. Em parte, porque, na época de seu lançamento (2013), ouvi boas críticas a seu respeito; nem me lembro agora do que diziam as críticas, apenas que eram boas. E em parte, na maior parte, por o elenco contar com a apetitosa Scarlett Johansson.

Sobre o filme, duas notícias. Uma boa e outra ruim.

A boa : o filme é bom pra caralho! Difícil, de uns bons tempos para cá, um filme (ou um livro, uma música etc) me surpreender. Que esse é o maior mal da velhice : já vimos tanto e tantas versões das mesmas coisas que não mais nos surpreendemos. ELA me surpreendeu. Pensei que assistiria a um filme "sessão da tarde", a uma comédia romântica, talvez com leves toques dramáticos, provavelmente com um final feliz.

Porra nenhuma! O filme é uma porrada existencial e filosófica do começo ao fim. Quinze rounds com Muhammadi Ali a nos socar com as luvas dos nossos próprios abismos e fantasmas íntimos. Um nocaute na concepção prepotente que fazemos do que é ser ou não humano. Final feliz? E há final feliz para nós? Por quanto tempo seríamos felizes vivendo num definitivo final feliz?

Assistam à ELA. Como dizem os viadinhos de hoje em dia : eu super recomendo.

A notícia ruim : a suculenta Scarlett não aparece em um único momento da película. Em nem uma ceninha sequer. Nem um rápido peitinho. Ela é apenas a voz do Sistema Operacional Samantha (puta nome de travesti), por quem Joaquin Phoenix se apaixona; e ela, Samantha, por ele. Aliás, o Joaquin Phoenix, de bigodão, está uma mistura do Tom "Magnum" Selleck com o Belchior. Pãããããããta que o pariu!!!!

Não vos deixarei, no entanto, na mão, caros leitores. A Scarlett não aparece em ELA, mas nunca deixa de aparecer por aqui, no Marreta.


 


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