Ao lerem o título da postagem, muitos ora dirão : Azarão, por certo perdeste o senso. E eu vos direi, no entanto, que não. Antes pelo contrário, que nunca estive em melhor posse e juízo dele.
Quando se fala em tecnologia robótica, o Japão é o país que logo nos vem à mente.
Um pouco, sobretudo para os que estão na casa já em ruínas dos cinquenta e poucos anos, pela memória afetiva que trazemos da infância, dos seriados e animações japoneses estrelados por robôs, das décadas de 1960 e 1970. Robô Gigante, Goldar (dos Vingadores do Espaço), Astroboy, Ultraseven, Ultraman, entre outros.
E muito por sabermos do investimento, do estudo, da dedicação e da perseverante disciplina nipônica no sentido de tornar o País do Sol Nascente primaz nesta área do conhecimento.
Então, que patifaria é essa de eu dizer que o Brasil é campeão mundial na produção de robôs? Estarás a se valer agora de fake news, Azarão?, muitos poderão perguntar.
Ora, meus caros, de que valem o investimento, a dedicação, o estudo e a disciplina oriental frente à malemolência do brasileiro? Frente à ladinice e ao jeitinho tupiniquins? Como o empenho e a seriedade podem rivalizar com a nossa criatividade malandra?
E quem disse que eu estou a dizer de robôs mecatrônicos e cibernéticos? De constructos inorgânicos com esqueletos de titânio ou de fibra de carbono, músculos e nervos de fibras ópticas e cérebros de silício? Quem disse que eu estou a me referir ao robo-máquina, ao robô-robô?
Porra nenhuma. Que esse campo da robótica já é dos mais ultrapassados e obsoletos. As pesquisas de ponta na área apontam para a concepção e a confecção de robôs biológicos, de carne e osso, a la Blade Runner. Robôs cada vez mais humanizados. Ou, no caso em questão que levou a esta postagem, humanos cada vez mais robotizados, o que, no fim, dá na mesma em efeitos práticos.
É na produção de robôs humanos, de autômatos orgânicos, de walking deads high tech, de, enfim, zumbis conectados, é que somos campeões mundiais. Supremos e imbatíveis.
Segundo o relatório de uma pesquisa realizada pela App Annie Intelligence (sei lá que porra é essa), o brasileiro é povinho que passa mais tempo por dia a masturbar os seus celulares : 5,4 horas diárias.
Se a questão foi o tempo confinado em casa, por que os brasileiros não aproveitaram esse tempo extra para desenvolverem outros gostos e habilidades? Por que não aumentou o tempo do brasileiro dedicado à leitura, a aprender a tocar um instrumento, a assistir a bons filmes, à atividades manuais, etc? Eu, por exemplo, consegui botar um bom tanto da minha leitura em dia, intensifiquei minhas caminhadas e aumentei sobremaneira a quantidade de espécimes de meu pequeno jardim.
Por que só aumentou o tempo no celular? Porque o uso da tal estrovenga não requer esforço nem prática ou habilidade. Não requer nem mesmo cérebro. O passatempo ideal para o brasileiro.
Eis o ranking dos países com mais tempo de tela :
1 - Brasil : 5,4 h/dia
2 - Indonésia : 5,3 h/dia
3 - Índia : 4,9 h/dia
4 - Coreia do Sul : 4,8 h/dia
5 - México : 4,7 h/dia
6 - Turquia : 4,5 h/dia
7 - Japão : 4,4 h/dia
8 - Canadá : 4,1 h/dia
9 - Estados Unidos : 3,9 h/dia
10 - Reino Unido : 3,8 h/dia
Notem que mesmo os Estados Unidos, nação de Homers Simpsons, passam muito menos tempo no celular que os Zés Cariocas. E o pior nem é o tempo que o brasileiro passa no celular : é onde ele passa esse tempo. Só em redes sociais, como facebook, instagram etc e aplicativos "engraçadinhos", como um tal de tik tok.
Ah,
sim! E, também, para não perdemos a nossa má e justificada fama, muitos
brasileiros passam grande parte do seu tempo na aplicação de "golpes"
pelo celular.
Na produção e no uso como mão de obra barata de robôs tradicionais, de fato, o Japão é um dos líderes mundiais, ficando atrás apenas de Singapura e da Coreia do Sul.
Na produção de robôs humanos, de idiotas conectados, e no seu uso como mão de obra barata, não tem pra ninguém : somos o top
de linha. Sempre seremos. Nossa produção fordista de robôs humanos é
inalcançável! Exagero meu? Passem um tempinho dentro de uma sala de aula
e verão o que digo. Verão, in loco, as novas gerações de robôs humanos sendo preparadas. Verão, é claro, se conseguirem desgrudar um pouco de seus celulares.
E mão de obra barata, não. Mão de obra ainda mais barata! Tenho certeza de que o custo mensal de operação e manutenção, por exemplo, de um braço robótico de uma montadora japonesa de automóveis ou de eletroeletrônicos é muito mais alto que o salário mínimo que se paga a um brasileiro-robô. Além do quê, o braço robótico é um bem patrimonial da empresa, custou muito a ela adquiri-lo, deve ser cercado de cuidados. Um brasileiro-robô não tem valor material algum para o seu empregador. Quebrou? Nem compensa consertar. Mais fácil trocar por outro. Sem custo nenhum. Afinal, eles andam aos milhões por aí.
Um brasileiro-robô é muito mais vantajoso que um braço robótico para o mercado de trabalho.
Uma única vantagem poderia ter havido para o Brasil no uso de braços robóticos na indústria ao invés de brasileiros-robôs : braços robóticos não perdem o dedo mindinho no torno mecânico e se tornam presidentes da República.
Mas perdemos esta chance. Agora, já foi. Já era. É tarde demais para nós.
0 Comentários