Quando eu era criança, as visitas ao médico eram sempre eventos temerários. Não havia todas essas guloseimas farmacológicas à época, não existia um segmento farmacêutico voltado para o público infantil a oferecer xaropes sabor abacaxi, pastilhas sabor morango para a garganta, balinhas mastigáveis de vitaminas, antissépticos para raladas no joelho que não ardessem etc.
Os xaropes eram mais amargos que jiló em conserva de boldo. "Você vai ver o que é bom pra tosse" é ditado surgido nessa época. "Remédio não é para ser bom, é para ser remédio" e "se tá ardendo é porque tá sarando" também eram frases "motivacionais" muito ditas à petizada de antanho. E quando não amargos, nojentos, asquerosos. Os intragáveis óleos de fígado de bacalhau e de rícino. De provocar engulhos em urubu. Sem falar dos constrangedores e vexatórios supositórios de glicerina, com os quais muito moleque despertou para a sua sexualidade.
Porém, o que tanto nos apavorava numa visita ao pediatra nem eram os amargos remédios. O pior era a quase infalível injeção. "Dói, mas faz efeito mais rápido", nos diziam das injeções.
Na época, creio eu, não devia existir todo esse sortimento atual de antibióticos de segunda, terceira etc gerações, nem os seus acondicionamentos na forma de comprimidos ou de soluções. Era só a penicilina e na forma de uma dolorida injeção. A penicilina curava tudo. De tuberculose a unha encravada. De gonorreia a terçol. E era fatal : garganta inflamada? Injeção no moleque. A temida Benzetacil. Escreveu, não leu, a Benzetacil comeu. E depois dá-lhe compressa de água quente na bunda para desinchar o calombo. Uma semana sentando de lado e dormindo de bruços.
E se escapássemos da agulhada da benzetacil, havia ainda a atualização das vacinas. O médico do posto de saúde avaliava nossa carteirinha de vacinação e decretava uma nova dose dessa, daquela ou daqueloutra vacina, muitas vezes nos aplicada à sequência da consulta.
Como em nós tudo é condicionamento, se nos comportássemos durante a consulta e não abríssemos o berreiro na hora da injeção, recebíamos um reforço positivo pela nossa boa conduta, o médico, geralmente, nos presenteava com um pirulito. Que a meninada mais chegada ao supositório de glicerina deixava para "chupar" em casa.
Talvez a se lembrarem das suas infâncias e das suas idas ao médico, os integrantes de uma ONG estadunidense, de Washington, DC, resolveram aplicar as mesmas técnicas de condicionamento e reforço positivo para premiar os adultos que se vacinarem contra a peste chinesa e também tentar quebrar a resistência daqueles que não querem tomá-la, ou estão hesitantes em.
Às saídas dos locais de vacinação, cada bem comportado cidadão que se deixar inocular receberá da ONG não um pirulito como prêmio (o que só funcionaria para o segmento LGBT), mas sim um saquinho cheio de maconha. Orgânica, autossustentável, biodinâmica, cultivada com responsabilidade social e embalada à vácuo. Com o selo de aprovação do Ministério da Agricultura lá deles e vinda direto do Cannabis Belt.
Pãããããta que o pariu!!! É a vacininha do capeta!!!
Vou apertar, mas não vou vacinar agora - berrarão os negacionistas e os adeptos das teorias da conspiração. Um amigo encontra com outro na rua e pergunta para onde ele está indo. O outro responde : estou indo ali, dar um tapa na vacina!
A ideia da Ong de maconheiros, é claro, é promover e alavancar a legalização do uso recreativo e medicinal da marijuana em todo território americano pegando carona no lançamento da vacina contra a praga chinesa, dizendo que a ciência que criou a vacina é a mesma ciência que há tempos comprova e exalta os benefícios do THC à saúde. Que se a população e os seus governantes confiam no que a ciência afirma a respeito da eficiência da vacina, também devem se fiar no que ela diz dos ganhos em se dar um tapa na pantera.
"Se você acredita na ciência que apoia a eficácia da vacina, , deve acreditar na ciência que apoia a cannabis medicinal", disse Adam Eidinger, um dos fundadores do ONG e o criador desta campanha, que, segundo ele, tem o objetivo de apoiar a ciência.
Nikolas Schiller, outro fundador do grupo, declarou à revista Forbes : "Estamos procurando maneiras de celebrar com segurança o fim da pandemia e desconhecemos algo que una mais as pessoas do que a cannabis".
Só sei que aqui, no Brasil, como diz o outro, isso não iria prestar. Se a moda pega por aqui, o que iria ter de malandro entrando duas, três, quatros vezes na fila da vacina, querendo a décima dose de reforço, dizendo que a vacina não "pegou, ou, no caso, que a vacina não "bateu", não estaria escrito no gibi. E ainda que estivesse, ninguém leria, usariam as páginas dos quadrinhos para enrolar e apertar um "fino"
Pãããããããta que o pariu!!!!
0 Comentários