Nas
últimas semanas aproveitei um pouco do meu tempo livre para assistir a uma série
americana chamada “evil “, eu gosto do tipo de série que envolve coisas
sobrenaturais, investigações criminais e por aí vai.
A série é centrada em 3 personagens bem distintos, uma psicóloga legista, um especialista em TI e um Padre em formação. A missão deles? instruir a igreja católica sobre como lidar com casos supostamente sobrenaturais, a serei no tempo todo nos leva a questionar sobre a fé, a ciência, e a mente.
Tudo
que nos faz refletir nos afeta, e na maioria das vezes isso é bom. A serie é protagonizada
por Mike Colter o cara que faz o Luke Cage, outra série que eu achei interessante
e Katja Herbers que atuou em Westworld, a série como comentei acima, mistura as
visões de um padre em formação com uma psicóloga cética, além do ‘IT guy” eles
estudam caso a caso de possessões e eventos espirituais.
O diferencial é que o
programa não debate apenas a respeito da existência de Deus, mas também as
diversas questões que englobam a fé, a natureza humana e como lidamos com isso.
O que me fez lembrar de
outra leitura que fiz no decorrer desse ano, o livro “a alma do mundo” que já
comentei antes também. Nesse livro Roger Scruton nos leva a refletir sobre o “dualismo
cognitivo”, algo que a todo momento é latente na série.
O Dualismo cognitivo
pode-se resumir como o ato de ser possível compreender o mundo e suas diversas áreas
em duas vias incomensuráveis, o caminho da ciência e o caminho do entendimento
interpessoal. Spinoza por exemplo foi um dos primeiros a argumentar que o mundo
é apenas uma coisa, visto de dois pontos de vista diferentes, para Spiznoza o
pensamento e, a extensão desse pensamento (que seria a ação em si) eram dois fenômenos
de uma única realidade.
Sendo assim ambos os pontos
de vista constituem uma forma completa de pensamento, poderíamos conhecer o
mundo através da física e através desse contínuo estudo poderíamos
eventualmente conhecer tudo que há para ser conhecido. Ou por meio do estudo
das ideias poderíamos conhecer o mundo dos pensamentos, e assim conhecer tudo
que há para ser conhecido.
Mas tudo diz respeito a
como você faz suas escolhas, se escolhe seguir pelo caminho da “física” ( ciência)
ou das ideias (religião , filosofia) os conhecimentos que você passa a adquirir
são sempre “completos” e assim fica difícil transitar entre os “mundos”, é como aquela
clássica “treta” de exatas vs humanas.
Podemos usar o exemplo
da música, por exemplo para uma pessoa instruída e técnica, a música é uma
serie de escalas e sons que se seguem e criam uma harmonia, e ela está certa,
absolutamente certa.
Mas para uma outra
pessoa, um cidadão admirador comum de música, ela é mais que simples junções de
escalas e sinfonias em um tom “sol” por exemplo, talvez para essas pessoas a música
seja algo que traga uma memoria afetiva boa, ou ruim. E para essa pessoa o ato
de decifrar a intenção do compositor na letra e na construção da harmonia faça
mais sentido que observar os critérios meramente técnicos, qual dos dois está certo?
o técnico ou a pessoa que enxerga a ideia da musica ? bem , de maneira proporcional
os dois estão certos.
A fé e os fenômenos religiosos
são atualmente coisas cada vez mais intersubjetivas e interpessoais, enquanto a
ciência e o técnico se tornam cada vez mais o “senso comum” das coisas, é a regra
do jogo, a famosa desmistificação do mundo da qual Max Weber falava. A pandemia
deixou isso bem explicito, em nome da ciência pode-se ignorar outros diversos fatores
que são essências para a existência humana, vide as interações sociais, eventos
religiosos, cadeias econômicas, questões emocionais etc. de certo sobre os critérios
da “ciência” seja em vida ou seja em morte paga-se um preço pela escolha de uma
só visão como sendo sempre correta, temos um cerceamento de pensamentos
e uma cauterização das ideias.
A Série Evil nos leva no
decorrer de seus 13 episódios da primeira temporada a refletir sobre essas questões,
observando com o Personagem de Colter por exemplo um padre, lida com fenômenos
que para a ciência são apenas distúrbios, e como a Personagem de Katja, uma psicóloga
lida com casos “sobrenaturais” que para ela são coisas comuns. A série acerta
em nunca tomar um partido sobre quem é o senhor da verdade, a fé ou a ciência e
deixa espectador chegar nas suas conclusões enquanto acompanha o intercâmbio de
pensamentos e experiencias que acontece entre os personagens.
O ritmo de série
policial e investigativa também é frenético ao nível que se divide em várias
sub-tramas entre os personagens deixa cada episodio como sendo imprevisível.
Enfim, como reflexão
final eu trago o pensamento em tom de crítica do Próprio senhor Scruton sobre o
que ele chama de sistema do “nada além”, esse sistema é um certo habito que criamos
entre nós mesmos, de declarar as realidades emergentes, ou seja, declarar nossas
visões, pensamentos e experiências interpessoais como “ nada além daquilo que
vemos”.
A pessoas humana é “nada
além” de um animal de um animal humano, o “amor sexual” é “nada além” do que uma vontade de procriar,
as leis são “nada além” que relações de poder ou, a Monalisa é “nada além” que
uma junção de pinceladas espalhadas em uma tela, o altruísmo, uma das nossas
mais raras virtudes é “nada além” que uma estratégia genética para demonstrar dominância
sobre os demais.
De Certo Livrar-se desse
habito sistêmico é o que podemos chamar de verdadeira meta da filosofia.
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