Roteiro: Ciberpajé
Arte: Eder Santos
Capa e Contracapa: Eder Santos
Posfácio: Rubens César Baquião
Reverso
Uberlândia - MG
2018
72 pg
Sinopse
Ecos Humanos apresenta-nos um retorno à cultura arcaica de seres em pleno ocaso pós-humano. As tensões entre imanência e transcendência, segurança e êxtase, estruturam a narrativa visual sem palavras. Um convite à reconexão cósmica.
Ciberpajé
Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!
Palavras são símbolos precisos que compõem as narrativas construtoras da Realidade Humana. Fazemos uso delas quando necessitamos de um expressivo meio material para ficarmos nossos pensamentos no mundo concreto, o mundo das formas grosseiras onde este texto aqui chegará a quem se dispuser a lê-lo. Esse expressar-se por palavras acaba gerando as nomeações, exigências classificatórias das coisas percebidas pelos sentidos mais próximos da imensa maioria humana que sempre permanece na superfície e nunca se joga de cabeça no interior do abismo mais profundo de todas as coisas nomeadas. Como, então, esquecer as nomeações e penetrar na essência do Inominável? Entrar no âmbito de todas as não-lineares narrativas que abortam todos os símbolos menorizantes da real expressão de um sentido além de todo humano sentido? Sem o uso das palavras, em uma narrativa extremamente visual, o Ciberpajé e Eder Santos compuseram em Ecos Humanos uma relíquia gráfica sublime que, em seu concentrado e sagrado silêncio, pontua-se por transitar além do perceptível conforme as narrativas que nos foram impostas desde tenra idade. Extinguindo a barreira da linguagem que tudo explica, a ritualística concepção visual deste álbum atinge exatamente os patamares de um Verbo Cósmico conjugado a cada quadro.
E cada quadro é um sublime construto para a elaboração de uma contemplação mais do que justa porque Eder Santos, de modo brilhante e eficaz, traduziu da melhor maneira todo o processo da composição visual que explica toda a história em si. A maioria dos leitores de Quadrinhos está habituada a uma linearidade intrínseca aos movimentos de uma narrativa presa aos símbolos da Escrita, o que estranharia a muitos a ausência de diálogos ou de uma narração explicativa do que é mostrado a cada página. Abolida a Escrita aqui nesta obra, o efeito não visa complicar a leitura, muito pelo contrário; a leitura visual, vista assim sobre este ângulo interpretativo que dou aqui, é para ser compreendida dentro de casa simbolismo gráfico que se compromete a nos fazer penetrar no significado de cada desenho.
O início do Prefácio de A Primeira E Última Liberdade, de Jiddu Krishnamurti, escrito por Aldous Huxley, bem explica o poder do Simbolismo com estas palavras:
O Homem é um anfíbio que vive simultaneamente em dois mundos — o mundo da realidade e o mundo por ele próprio fabricado — o mundo da matéria, da vida e da consciência e o mundo dos símbolos. Quando pensamos, fazemos uso de grande variedade de sistemas de símbolos: linguísticos, matemáticos, pictóricos, musicais, ritualísticos. Sem esses sistemas de símbolos, não teríamos Arte, nem Ciência, nem Lei, nem Filosofia, nem sequer os rudimentos da Civilização; em outras palavras, seríamos animais.
Os protagonistas de Ecos Humanos são dois Exogenéticos, Seres Híbridos compostos por Genes Humanos e Animais. Pertencem ao universo da Aurora Pós-Humana, a qual em Biocyberdrama Saga é em pormenores explicada. Interpreto a citação acima como um modo de eu lhes explicar o título desta obra, uma peculiar referência ao que de humano tais Seres trazem em si. Não são Bestiais, isentos de qualquer tipo de raciocínio, mas livres de regras morais e correntes conscienciais em um planeta moribundo, um ecossistema destroçado dentro de um apocalíptico futuro distópico muito distante da história mostrada na obra acima citada. Os autores de Ecos se valem dos simbolismos para fazerem artisticamente eclodir o que cada um deles realiza, sendo válida toda a atenção para os elementos gráficos de cada página. Em estado natural, muito distantes de qualquer ideia do que seja a Civilização, os dois vivem sustentando-se em meio à escassez e as dificuldades de um mundo inóspito.
E este mundo objetivo é confrontado pelo mundo subjetivo do personagem que sobrevive às intempéries de um arrasado planeta. Entra nesta parte a demonstração de uma Experiência Xamânica genuína, na qual as Realidades se fundem, o Tempo escorrega e o Espaço dilui-se como em uma chuva de Símbolos Atávicos que uma observação mais apurada saberá bem interpretar, identificando cada um. É o momento na obra em que a Reconexão Cósmica é alcançada, mesmo que por pouco tempo, o qual é Eterno durante a experiência. Uma onírica viagem que surpreende tal Ser, que não aguardava pela mesma ao se ver fora do mundo que lhe era conhecido. No máximo, sem entregar spoiler, posso lhes dizer que a fonte de tal ocorrência foi através de um apreciável elemento natural que, quando não identificado corretamente, pode causar a morte.
E, de certo modo, após o Xamânico Contato com sua Imagem Interior, o Ser morre para o que ele era ontem, sai da zona de conforto onde se encontrava e encontra um deserto muito maior do que aquele no qual vivia com seu companheiro. Um deserto representativo do que se tornou a Terra. Um deserto expositivo do que é todo o estraçalhado planeta na Era, indefinida, onde a história se localiza. Um deserto que não deixa de ser o próprio estado de coisas interiores da própria criatura. Ecos Humanos de um perdido Ser no terrestre deserto pós-humano.
Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!
Ciberpajé (à direita) e Eder Santos (à esquerda) no lançamento de Ecos Humanos na FIQ 2018 em Belo Horizonte, Minas Gerais |
Dedicatória feita para o meu exemplar |
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