Era árdua e longa a estrada.
E no céu, a lua branca e fria
punha pálidos raios na madrugada
anunciando o nascer do dia.
Ladrões, prostitutas e guerreiros,
magos, patifes, bardos, feiticeiros
caminhavam junto a mim, por onde eu ia.
O vento cortava qual lâmina afiada
à medida que soprava dos mares bravios.
Agitava barracas e árvores da estrada
gemendo nos galhos
como espectros
sombrios.
No entanto, eu, numa luta renhida
de saques e
luxúria, bebi o
vinho da vida
até o fim dos
meus brios.
Bravo e
selvagem, eu vim
do norte
para as cidades que iam me perder.
Com ferros e tochas,
entreguei-me à sorte
e com sangue venci o que
se há de vencer.
Joguei no Diabo e
alcancei vitória,
esplendor, fama,
estonteante glória,
sem jamais o sorriso da
Morte temer.
Inimigos surgiram para
eu derrotar
e amigos leais em quem me fiei.
Conquistei coroas para
depois desprezar
e lábios ardentes que com luxúria beijei.
Se canções eu cantei com
toda a alegria
e vinhos sorvi até noite
virar dia,
então, que importa se
um dia eu morrerei?
O ouro arrebatado, as jóias
deslumbrantes...
tudo o que tinha, em pó foi
transformado.
E da vida vivida em
horas delirantes,
traguei o melhor que ela
me podia ter dado.
Hoje, a cova é profunda
e a noite vazia;
o mundo, um crânio mofado
que asfixia.
Contudo, me rio
dos Deuses,
amargurado.
Na região maldita por onde eu ia, a estrada
de terra ressequida não indicando o fim,
minha gente seguia alegre e
alvoroçada,
pois caminho mais fácil não
encontraria assim.
Vadio e zombeteiro, com
o terror à espreita,
a estrada da
vida sorria à
minha direita...
e os abutres da Morte zombavam
de mim.
Caminho poeirento, longo de tal sorte...
Crom, hoje vejo como um homem enlouquece!
Sou velho, cansado, e a Morte se fez forte,
consumindo minha carne que com os
anos esmorece!
Brava e selvagem, era
assim minha gente
que cantava e sorria,
cavalgando contente,
lutando e matando sem
Deus e sem prece!
Sacerdotes espertos contavam do tesouro
com que seu paraíso podia ser
comprado.
E das almas malditas que como um
agouro
gemiam no suplício que lhes
foi destinado.
Para o Inferno,
sacerdotes com seu
ouro e riquezas!
Descerei à garganta
que leva às profundezas
e lá hei de
deixar o Diabo
destronado!
Se enfrentei a vida
com audácia e
sem medo,
por que recuar agora, se a
Morte me sorri?
A vida não passa de um
jogo, um brinquedo
com o qual, junto à Morte, eu
só me diverti.
Adeus, meus amigos de horas sombrias,
rainhas e criadas de
peles macias...
não lamento o que fui
nas noites vadias,
nem os passos na estrada
que finda os meus dias...
...AQUI!!!
Anexo
Este poema foi extraído de A Espada Selvagem De Conan 7, pela Editora Abril, cuja capa massacrada acima é da edição que eu possuo, lançada no ano de 1985.
A história principal é Jornada Para O Inferno, adaptação de O Reino Da Espada de Robert E. Howard, criador do Conan. Argumento de Roy Thomas e desenho de John Buscema.
Há méritos naquela história, mas este poema me marcou mais do que a mesma. Eu tinha nove anos de idade e o efeito dele em mim foi imediato, me tocou e fez brotar o talento poético que alguns anos depois passou a manifestar-se em mim. É uma jóia rara e nostálgica de uma época mágica da minha vida. O poema de Lin Carter foi adaptado por Roy Thomas e ilustrado por Jess Jodloman. A adaptação que eu fiz foi em termos ortográficos, pondo em maiúsculo as iniciais de "Diabo", "Inferno" e "Morte". Sem interferir, claro, no original em seu sentido, conteúdo e natureza.
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