O MÁSKARA: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DA NATUREZA HUMANA



“O Máskara “ao ouvir esse nome com certeza vem a sua mente aquela imagem do personagem cômico e caricato, de poderes infinitos e irreais que aparecia nos desenhos matinais do SBT. Mas se você pensou no personagem dos quadrinhos, um pouco mais insano e violento, tudo bem pois tanto no desenho infantil, quanto nos quadrinhos mais adultos o objetivo desse texto é chamar atenção para um detalhe que é explicito nas duas obras (e até no filme com o Jim Carey).



Algo que é meio nítido para todos é que a máscara geralmente além de ampliar as habilidades do seu portador, revela também seu lado “escondido” do personagem, revela as verdades ocultas de cada indivíduo que porta a máscara.
Vou aqui me atentar aos detalhes ocorridos nos quadrinhos, onde a máscara passa pelas mãos de muita gente antes de finalmente “sumir”. Tudo começa com O famoso Stanley Ipikiss comprando em uma loja de antiguidades uma máscara antiga cheia de detalhes parecendo Runas, ele compra a mascara e já se depara com um problema nas ruas quando uma gangue de motoqueiros implica com o garotão com cara de nerd.
Ao chegar na casa de sua namorada Katherine, ele entrega a máscara para ela e tudo aparenta ser mais um dia comum na vida de um cidadão médio, os dois vão dormir e no meio da noite Stanley levanta para ir ao banheiro e quando entra no cômodo lá está ela a mascara da Loja que aparenta ter uma energia que o chamava, até que ele aproxima ela de seu rosto... e pronto a mágica acontece.
Ele se transfigura naquela famosa criatura que tomos conhecemos, sente o poder das infinitas capacidades do que pode fazer agora e sai pela cidade “plantando o caos” e de maneira doentia mata todos os motoqueiros que mais cedo haviam humilhado ele.
As insanidades de Stanley não paravam e ele sempre usava seus métodos “animalescos” ao estilo looney tunes e saia matando a todos sem pensar duas vezes, pelo simples fato de poder fazer isso. As coisas se tornam mais tensas quando ele acaba matando na frente dos alunos, sua professora do ensino fundamental. Em suma sem revelar o final de Stanley Ipikiss posso dizer apenas que a mascara ao mesmo tempo que leva você ao seu “potencial” máximo por mais doentio que ele seja, te consome.
Um outro usuário da mascara durante as historia por exemplo, usa a mascara para o bem, uma espécie de anti-herói, e ainda assim é consumido pela insanidade, inclusive nesse ponto da história temos a aparição de personagem famoso no desenho o Walter ( aquele gigante grandão e pálido que parecia com o Frankstein ou o Grundy de liga da justiça) . No decorrer de toda a história das “sagas” do máskara, muitas pessoas usam a máscara e dentre eles temos um grupo de jovens “punks” que entram nesse ciclo vicioso de caos. Dentre esses jovens um em especifico que cuidava de um casulo de borboleta, e esse casulo começa a parecer de maneira corriqueira no decorrer da história.
Algo a se observar durante a leitura das histórias e algo que é incomodo , é o fato de que ninguém conseguia escapar da insanidade da máscara, ninguém com o  poder conseguia ser neutro ou “bonzinho” no final todos se transformavam naquilo que mais desejavam ser, aquilo que sempre escondiam em suma o egoísmo,  sempre falava mais alto. Como se todos fossem adeptos daquele ideal de “bom selvagem” do Rousseauismo.
  Apenas um personagem no decorrer da história toda não conseguiu “usufruir” dos poderes da máscara, seu nome? Walter que entrou me combate várias vezes com os portadores da máscara por “N” motivos.


E é aqui que voltamos ao casulo e a borboleta, a borboleta  retorna em um  dialogo do epilogo : um jovem diz ao outro “ a borboleta sumiu “, e o amigo responde “borboleta, achei que era uma lagarta”- “sim era uma lagarta”,  ao que o amigo responde : “entende ?,  isso é magia de verdade, nisso não tem nada de ilusório, é um milagre não reconhecido”.
A borboleta voa, e um corvo a come moral da história é: talvez todo o caos nem tivesse sido real mas para afirmar isso temos outros dois pontos a ponderar. A vida consiste na busca do próprio “viver” a mascara talvez não fosse realmente magica e Stanley Ipikiss ao usa-la apenas revelou seu lado mais insano e seu potencial real e escondido, de maneira tão visceral que todos os outros se sentiram motivados a acreditarem que ele tinha obtido poderes. Pelo simples fato de finalmente ser tudo que ele queria ser, sem segredos apenas se tornou o que queria, fugiu da prisão da opinião dos terceiros. 
Algo bem paradoxal, já que tudo o que podemos acabar sendo dependende de como os outros veem o que nós somos (ou acabamos se tornado) , estamos de certo modo condicionados a pessoas mesmo que busquemos ser individuais, já que o “eu e “eu” em harmonia tem o poder de trazer o “eu” e “você” em comunhão.
Stanley assumiu seus desejos e tomou ação, por mais que tenha sido para o mal o seu “eu” estava finalmente em acordo com “ele mesmo”, viver com medo de ser quem é e não aceito, é como a morte súbita.
 Segundo ponto: a máscara poderia ser realmente magica, mas se era então por que não funcionou no  Walter? simples: Walter não tinha nada a esconder. Ele não tinha segredos e desejos secretos, ele já vivia como queria viver, sem dever nada para ninguém ele já estava vivendo nos seus limites e pelas suas regras, todos os outros personagens tinham segredos e desejos, e por isso se transmutavam e se sentiam bem apenas usando a máscara.
A lição é clara, você não paga preço nenhum por ser você mesmo, por mais doentio que seja ( no caso do Walter), tentar viver uma vida que não é sua, nunca vai te levar a lugar algum a não ser que seja no limiar da insanidade de sua própria rotina.
Talvez a magia não exista e tudo se trata da “tematicidade” das coisas, do significado que damos a elas, o milagre da metamorfose da borboleta é algo banalizado em nosso mundo, mas não deixa de ser algo incrível.
Muitas são as mascaras que temos usado: relacionamentos, ideologias, dinheiro, trabalho, religião, bens materiais... e todas te deixam ou podem acabar te deixando insano igual a qualquer usuário da mascara apresentado durantes as historias em quadrinhos, você só não vê pois a metáfora, é bem discreta. São muitas mascaras... sempre foram muitas mascaras nesse mundo pós-verdade.
mas afinal em meio a tudo isso: qual a máscara que você mais usa? qual a dose de mentira que você mais gosta, e qual a dose de verdade que você suporta?



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