Mascarando o Problema

Se eu uso máscara para me "proteger" do comunavírus? Sim. Aderi de pronto ao seu uso? Porra nenhuma. Comecei a usá-las para entrar em supermercados e outros estabelecimentos somente quando um decreto-lei municipal passou a vetar o meu ingresso de cara limpa nestes locais. Ou as uso, ou não compro comida e cerveja. Mais para frente, e da mesma forma, só comecei a circular de máscara pelas ruas quando um outro decreto-lei me tornou passível de multa caso tivesse o azar de ser flagrado a respirar o ar livre por alguma autoridade. Ou a uso, ou meu bolso será mais ainda esvaziado em favorecimento dos cofres públicos - leia-se contas bancárias de prefeitos, vereadores, secretários et caterva.
Não houvesse sanções ao seu não uso, eu nem saberia qual a sensação desta focinheira no meu rosto. Sou negacionista? Não acredito no vírus? Boto fé nos meus dotes de atleta? Não. Não me preocuparia em usá-las pelo simples fato de que elas de pouco ou de quase nada adiantam. O que adianta mesmo é manter distância do bicho homem. E isso eu faço com o maior gosto.
Os poros do tecido de uma máscara de algodão - a mais recomendada e difundida entre a população, para que as hospitalares fiquem restritas a uso de médicos - são muito maiores que o tamanho do comunavírus. Os poros da máscara são da ordem de micrômetros; as dimensões do vírus, de nanômetros. Mas que merda é essa de micrômetros e nanômetros?, poderão perguntar os menos familiarizados a estas medidas. Para estes, explicarei de uma forma que até um cara doutorado em ciências humanas poderá entender.
Tome uma régua comum e localize a sua  menor divisão, o menor "risquinho" dela, o milímetro; cada centímetro tem 10 deles. Faça agora o seguinte exercício de imaginação : pegue um único desses milimetros e o divida em mil partes iguais, ponha mentalmente mil outros "risquinhos" dentro deste menor "risquinho" de sua régua e você terá em mãos um micrômetro, a milésima parte do milimetro. Agora, force mais um pouco ainda o seu poder de abstração e tome um desses micrômetros, um desses mil "risquinhos" dentro do milímetro e o divida de novo por mil, ponha, igualmente, mais mil "risquinhos" dentro do "risquinho" que já era um dos mil dentro do milímetro e você será o feliz possuidor de um nanômetro, a milionésima parte do milímetro, o menor "risquinho" de sua régua dividido por um milhão.
Os poros de uma máscara de algodão têm entre 80 e 100 micrômetros de diâmetro; o comunavírus tem tamanho médio de 120 nanômetros. Dividindo um pelo outro, vemos que o diâmetro dos poros de uma máscara comum é cerca de 800 vezes maior que o vírus. O equivalente a uma pessoa de 1,70m passar por um buraco de quase 1,5 km de diâmetro. O equivalente a um pinto de japonês no cu de uma atriz pornô. Sem contar que nenhuma máscara é justa o suficiente ao rosto para vedá-lo contra a entrada de agentes microscópicos. Se o vírus vier por trás, entra fácil.
Tanto as máscaras deveriam receber o selo ISO 9000 de ineficiência que a área profissional que exibe o maior porcentual de contaminados em serviço é a da Saúde. Todos os médicos, enfermeiros, técnicos etc não usam as tais máscaras? De qualidade muito melhor que as de algodão? Muitas vezes ainda com a sobreposição daquelas placas acrílicas que parecem máscaras de soldador? Não deveria haver infectados entre os médicos. Ou pouquíssimos, os que se descuidaram ou negligenciaram o uso da máscara vez ou outra. Mesmo a máscara top de linha, a ultramegablaster N95, que tem o furico mais apertadinho da praça - 300 nanômetros, segundo seus fabricantes -, não dá conta do comunavírus; em cada um de seus poros, se espremer um pouquinho, entram três nanochineses.
Mas seguindo o pensamento tupiniquim comodista e conformista de que devemos sempre ver o lado bom da desgraça, de que Deus não dá o frio maior que o cobertor, de que devemos fazer uma limonada com os limões que a vida nos dá (prefiro uma caipiroska), estou gostando de dois aspectos do uso forçado da máscara.
Primeiro. Ela nos fornece uma boa desculpa para quando fingimos não reconhecer aqueles nossos "conhecidos" chatos de galochas com os quais cruzamos, inadvertida e involuntariamente, pelo mercado, padaria, banco etc. Com a Angelina Jolie ou com a Scarlett Johansson que é bom (que são muito boas), eu nunca cruzei por acaso. Agora, posso fingir não reconhecê-los por estarem de máscaras. Já evitei umas três ou quatro conversas totalmente dispensáveis desde então. Não descarto a hipótese de que alguns também se valham do mesmo ardil para me evitar.
Segundo aspecto positivo. Falo sozinho o tempo todo. Na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapé. É sério. Falo sozinho quando estou cozinhando, quando estou tomando banho, cagando, ouvindo música. E também, e principalmente, quando caminho pelas ruas. Várias vezes flagrei pessoas a me flagar falando sozinho; muitas me olhavam com cara de pena, de dó.. Com a máscara, posso falar comigo à vontade quando ando pelas ruas, com a maior privacidade.
Como dizia o Raul : quando acabar, o maluco sou eu!!!





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