Duas grandes sagas que mudaram o rumo dos universos Marvel e DC chegaram
à faixa dos 30 anos. Guerras Secretas da Marvel completou 30 anos de lançamento
em 2015, mas como foi uma maxi-série em 12 edições, seu final foi em
1985, portanto seu encerramento atingiu essa data agora, ela foi lançada nos
EUA em maio de 1984 e terminou em abril de 1985. Tudo começou com uma ideia da
Mattel, empresa mundialmente famosa na fabricação de brinquedos, em lançar uma
linha com os heróis e vilões da Marvel, Jim Shooter, que era editor chefe da Marvel
na época, criou as Guerras Secretas para alavancar a iniciativa.
Os "encontros de heróis" sempre agradaram muito ao público das HQs, era
muito legal você se deparar com uma história que unia dois personagens de
publicações diferentes em uma única aventura para enfrentarem uma ameaça comum,
a Marvel tinha uma publicação muito famosa que era baseada nessas situações: a
Marvel Team Up. Bom, então porque não um mega-encontro? Unindo Hulk,
Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Thor, Vingadores, Capitão América, Homem de
Ferro e os seus respectivos vilões, assim surgiu a saga que mexeu com o
Universo Marvel: Guerras Secretas.
Como estamos falando dos anos 80, a premissa era simples e sem muita
profundidade, heróis e vilões foram sequestrados por uma entidade
extra-dimensional que se auto-intitulava Beyonder. Removidos da Terra e levados
para uma espécie de planeta arena de combate, eles tinham que se enfrentar para
conseguir um prêmio prometido pela criatura que possuía os poderes de uma
divindade e que poderia conceder qualquer coisa aos vencedores.
Beyonder estava mais para um curioso cientista testando seus ratinhos de
laboratório colocados em situações adversas de perigo e sobrevivência do que
para um grande vilão/herói, ou algo como Galactus, que faz o que faz somente
por ser sua natureza. O sucesso desse lançamento deu início à época das sagas,
dos eventos que uniam os heróis e interligavam seus títulos como Inferno,
Guerra Civil, A Saga do Infinito, Massacre de Mutantes, Pecado Original entre
outros. Agora em 2015 temos uma nova Secret Wars acontecendo no Universo
Marvel, seria uma ‘Crise nas Infinitas Terras’ da editora para, mais uma vez,
mudar as caras dos seus clássicos personagens para uma nova geração de leitores
começarem a conhecer um novo universo.
Do lado da DC, temos aquela que
deu início aos grandes eventos da editora: Crise nas Infinitas Terras, essa
saga também está completando 30 anos de lançamento e as suas consequências são
referência até hoje no Universo DC. A saga serviu também ao propósito de
‘arrumar a casa’ na editora, o universo precisava de um reboot, uma
reorganização que trouxesse de volta os leitores que estavam se afastando
gradualmente das revistas, todos os grandes heróis tiveram suas origens
revisitadas e seus conceitos atualizados para os novos tempos. Superman ganhou uma reformulação pelas mãos de John Byrne, a Mulher Maravilha que todos acreditavam ter morrido foi regredida ao seu estado original e recriada por Hipólita nas areias de Themyscira reformulada pelas mãos mágicas de George Perez e o Batman teve seu inesquecível Ano Um por Frank Miller e DavidMazzuchelli. Flash não ganhou uma nova origem nesse momento, Wally West sucedeu
o tio herdando o manto do herói.
E um dos seus maiores intentos foi a unificação das Terras, não mais
múltiplas Terras, mas sim uma única contendo o melhor de todos os mundos. Nessa
leva tivemos o retorno de heróis como Questão, Shazam, Besouro Azul, Jay
Garrick entre muitos outros. A grandiosidade do trabalho de Marv Wolfman e
George Pérez dificilmente foi igualada até hoje, Pérez é conhecido por ter uma
arte excelente e rica em detalhes, quem leu a série teve que prestar atenção em
todos os cantos para visualizar a quantidade absurda de personagens que
interagiam nas suas páginas, o cuidado de retratar cada um à exatidão não foi
um trabalho para qualquer um, além do que a saga, diferente de Guerras Secretas
que aconteceu em outro mundo e marcou cada herói separadamente, provocou
grandes mudanças para acertar a cronologia e situações nas vidas dos heróis que
se tornaram confusas com o tempo prejudicando a cronologia deles. Superman, por
exemplo, estava ficando complicado criar desafios para ele, pois seus poderes
estavam ficando quase sem limites, Crise determinou que Superman se revelasse
ao mundo como herói já adulto, nunca foi Superboy e se tornou o último
kryptoniano ocasionando o fim trágico de sua prima na série. Também ficaram
gravadas pelos fãs as mortes de vários heróis na série, como Lori Lemaris, Rei
Solovar da Cidade Gorila e Os Perdedores, como não se comover com as mortes de
Supergirl e Barry Allen, o Flash? O sacrifício final do Velocista Escarlate foi
emocionante e levou ao máximo o sentido de dar a vida em prol de um bem maior,
nunca esqueci a fisionomia do Wally West encontrando o uniforme vazio de Barry
em Qward ou o semblante de desespero do Superman presenciando a morte de Kara e
segurando seu corpo destruído.
Como sucedeu com a Marvel e suas Guerras Secretas, a DC também seguiu
produzindo sagas atrás de sagas na esteira do grande sucesso de Crise, no geral
com eventos que alteravam seu universo, como Lendas, Milênio, Invasão,
Armageddon 2001, Zero Hora, Crise Final (Final?), Fim dos Tempos e a atual
Convergence. Agora parece que os universos dos heróis não podem mais passar sem
uma saga que busca redefinir seus conceitos para adaptá-los a uma nova geração
de leitores. Em minha opinião, isso mostra que os consumidores de HQs são mais
ávidos a mudanças e novos visuais do que os mais antigos e estão mais ativos e
críticos, o que deixa os escritores, desenhistas e editores com uma grande
banana nas mãos para descascarem: agradarem aos leitores que formam uma nova
geração que ainda não elegeram o gosto definitivo para os seus heróis, o visual
que irá firmá-los como referências icônicas como eram no passado. Basta ver por
quanto tempo predominaram os visuais de Batman, Superman, X-Men, Capitão
América dentre outros, por décadas seus moldes foram respeitados, no entanto as
exigências por mudanças só vieram aumentando e isso é uma das coisas que essas
sagas constantes fazem, trazem propostas de mudanças e mais mudanças, zerando
numerações e realizando constantes atualizações procurando atingir novamente
aquele lugar no coração dos fãs e manter seus ídolos nas bancas. Mudanças e
evoluções são inevitáveis, necessárias para manter o interesse, porém o que os
leitores querem e os personagens merecem é qualidade.
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