A Morte é Definitiva... Menos nas HQs!


Desde que nos entendemos por gente sabemos que só uma coisa é definitiva e inevitável nesse mundo, além do fato de que você nunca vai pegar a Jennifer Lawrence, pode esquecer, mas de que todos nós partiremos dessa para melhor um dia. Só que isso não é definitivo no mundo dos super-heróis, mesmo que alguém morra fica a esperança de que, de alguma inventiva e mirabolante maneira, irá ressuscitar em uma hora de necessidade. 
Podemos comparar a equipe das editoras aos panteões dos deuses aonde os heróis são as suas criações terrenas que podem ganhar e perder a vida a qualquer momento e retornarem quando eles quiserem. A morte é até personagem de HQ como vemos nas obras de Neil Gaiman ou quando ela aparece para Galactus em uma marcante história do Quarteto Fantástico, publicada no quarto volume dos Maiores Clássicos do Quarteto (Panini), dedicada somente a ele, o deus espacial estava às portas da morte, decidido a morrer de fome por ter adquirido consciência do quanto seus atos são destrutivos após ter sua vida salva por Reed Richards, afinal a sua hora do almoço aniquila um planeta, sua vida e a sua civilização completamente, e a própria morte surge para ele para lhe explicar sua importância no xadrez cósmico e que sua vida estaria longe de acabar assim como sua missão: testar os mundos, azar dos Skrulls cujo planeta capital foi a refeição seguinte. E para o titã louco, Thanos, ela é sua musa e amada imortal, gosto não se discute.

Nesse tema tão sinistro, gostaria de destacar algumas das mortes, definitivas ou não, que foram das mais marcantes nas HQS, tanto na Marvel como na DC. Personagens clássicos ou não cujos momentos finais deixaram no leitor a certeza de que essa visita é inevitável para todos. Começamos com uma situação que marcou a vida do Caçador de Marte antes da formação da nova Liga da Justiça após os eventos da minissérie Lendas. A Liga sofreu um ataque orquestrado pelo Professor Ivo, seus andróides mataram os heróis Vibro e Gládio, o choque foi tão grande para o Caçador de Marte que o levou a dissolver a equipe, que foi recriada logo depois em Lendas, foi um canto do cisne dramático para encerrar uma fase da revista que não andava bem de vendas por estar focada demais em heróis de segundo escalão como Cigana, Vixen, Vibro e Gládio, mesmo com a presença do Caçador, Homem-Elástico e Aquaman o título não conseguia agradar os leitores, mas o sucesso da nova Liga de Keith Giffen e J.M. de Matteis salvou o título. Leia mais sobre essa emocionante história aqui.


A saga que redefiniu o universo DC, Crise nas Infinitas Terras, trouxe alguns dos momentos finais mais marcantes dos quadrinhos como a morte do primeiro Columba, da dupla Rapina e Columba, assassinado por um demônio das sombras bem na frente do seu irmão, a morte do Rei Solovar da Cidade Gorila enquanto defendia um aparelho do Monitor, a Companhia Moleza no campo de batalha entre várias outras que foram necessárias para redefinir o universo, porém as mais tristes foram a do Flash (Barry Allen), que deu a vida para destruir uma arma do Antimonitor e salvar solitariamente todo o universo, e da Supergirl morta em um ataque direto contra o vilão para salvar a vida do Superman. A morte de Barry foi um dos melhores exemplos do herói que sacrifica sua vida sem remorso e sem culpa, bem feita e tocante, só não foi definitiva porque o herói foi ressuscitado tempos depois, mesmo com o sucesso de Wally West assumindo seu manto como o Velocista Escarlate, Barry Allen retornou para o mundo dos vivos. Leia mais sobre a Crise nas Infinitas Terras aqui.


O Lanterna Verde, Hal Jordan, também passou para o outro lado e retornou. Durante a saga do Retorno do Superman, sua cidade foi totalmente destruída e milhares morreram levando-o a loucura, ele drena todo o poder da Bateria Central, extermina os Guardiões e a Tropa assumindo a identidade de Parallax para tentar redefinir a realidade e trazer a ordem de volta para a história, na saga Zero Hora ele é morto por Oliver Queen, porém como nada nos quadrinhos é definitivo, ele é unido ao Espectro e tempos depois também renasce, mais ou menos como ‘A Volta dos Que Não Foram’. E na DC temos a mais famosa morte da história: A Morte do Superman, esse foi um mega evento da editora para dar uma levantada na moral das histórias do Superman e funcionou, pelo menos financeiramente, muito bem porque o evento teve destaque até nos jornais mundiais, se você for da época em que isso aconteceu deverá se lembrar de um kit especial que era a revista com a história da saga, uma reprodução da Superman nº 75 em inglês e formato americano com a história da morte, uma edição do Planeta Diário e um pôster, exemplo de umas sacadas de marketing que a Editora Abril fazia com sucesso, depois disso vimos as conseqüências em Funeral Para Um Amigo e O Retorno do Superman, aquela viagem doida de quatro heróis que se diziam ser o Superman para no final ele aparecer recarregado, renovado e com novo corte de cabelo. Eram os anos 90, pessoal!


Com certeza o Cavaleiro das Trevas não poderia ficar de fora dessa lista, Grant Morrison criou uma linha narrativa para demonstrar que todas as histórias do Batman faziam parte da sua existência, todos os acontecimentos e fatos eram amarrados em uma única linha de vida para culminar em sua morte na saga Crise Final, só que Batman morto? Definitivamente? Nunca. A lenda do Batman é imortal, para mim o melhor final da sua história é o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller mostrando que a determinação do homem em fazer justiça supera qualquer obstáculo, até mesmo a morte. No universo da bat-família, temos também o exemplo de Jason Todd, o segundo e indisciplinado Robin que foi condenado a morte nas mãos do Coringa por uma histórica votação da maioria dos leitores que não gostaram do novo menino prodígio, mas a DC tem o Poço de Lázarus e Jason é ressuscitado por Ra´s Al Ghul para desespero do Batman e dos leitores que decidiram matá-lo. Santo Roubo das Urnas, Batman!

Considero o assunto da morte na Marvel um pouco mais sinistro, acredito que a editora tem um toque mais pesado para retratar a visita da morte no seu universo. E quer lugar melhor para visitar o assunto do que as histórias do Homem-Aranha? A vida de Peter Parker é marcada pelas tragédias mais pesadas, a começar pela morte de Gwen Stacy que é a mais lembrada pelas HQs, também como não se emocionar com o estado que o Aranha fica ao constatar que sua namorada está realmente morta em seus braços e a sua expressão de dor e ódio partindo para se vingar do Duende Verde. Aliás, é uma dúvida que muitos têm até hoje: Gwen já estava morta quando ele chegou a ponte ou morreu tendo seu pescoço quebrado quando a teia do Aranha interrompe sua queda? Uma onomatopéia no quadro que mostra ela sendo pega pela teia depois de ser arremessada pelo Duende é prova de que ela pode ter morrido naquele instante em que vemos um sinistro ‘SNAP’, som de algo frágil se quebrando, nesse momento. A lista na vida de Peter aumenta quando incluímos tio Ben, Capitão Stacy, pai de Gwen, a Tenente Jean DeWolff e Kraven, o Caçador. O Capitão América também esteve às portas da morte quando o soro do supersoldado desapareceu das suas veias deixando-o fraco e dependente de uma armadura para ficar vivo sofrendo com o peso da idade ao retornar para o estado de um homem normal, sua vida é salva pelo Caveira Vermelha com uma transfusão de sangue, parte de um plano extenso para evitar que o Cubo reescreva a realidade trazendo um novo Reich para o mundo a partir da vontade de Hitler preso no Cubo. Mas Steve não conseguiu evitar a morte por muito tempo, ao término da Guerra Civil, ele é baleado e morre a caminho do seu julgamento, Bucky assume seu lugar e a lenda permanece. Algum tempo depois, Steve também retorna da morte, menos um ponto no placar dela.


De todas essas situações, na Marvel está a história final que considero a mais emocionante e realista já escrita para um super-herói, o renomado artista Jim Starlin escreveu e desenhou a Morte do Capitão Marvel. Já separado de Rick Jones e vivendo em Titã, uma das luas de Saturno e lar da espécie de titãs que deu origem a Thanos e Starfox, Mar-Vell descobre que está morrendo de câncer adquirido durante a batalha contra um vilão quando ele sela um recipiente com material nuclear, a exposição acabou lhe causando a doença. O guerreiro, feliz ao lado da mulher que ama, tem que travar um derradeiro desafio contra o destino final de todos os mortais, as maiores mentes médicas, científicas e místicas da Terra lutam para descobrir uma cura, sem sucesso, mesmo com auxílio alienígena. Ao final, Mar-Vell trava uma batalha pela vida contra Thanos que nada mais era do que um emissário da morte que veio para buscar um dos seus maiores inimigos e conduzi-lo ao seu destino final, um clássico emocionante e obrigatório para todos os que apreciam uma boa HQ. Essa foi uma exceção entre os eternos retornos de heróis mortos nas histórias em quadrinhos. Quero fazer uma última citação, uma mini escrita por J. Michael Straczynski e desenhada por Esad Ribic sobre os momentos finais do Surfista Prateado: Réquiem, as histórias do Surfista sempre tiveram um lado poético nas mãos de Stan Lee, aqui é uma homenagem a esse trabalho. O Surfista descobre, com a ajuda de Reed Richards, que sua proteção corporal para suportar as viagens espaciais dada por Galactus está se desfazendo, com isso seu corpo começa a perder força e resistência, ele se despede do Quarteto e do Homem-Aranha para morrer ao lado da sua amada, Shalla Ball, até Galactus presta homenagens à criatura mais nobre que conheceu no universo, emocionante.


De tudo isso, podemos ter certeza de uma coisa: nossos heróis, pelo menos a grande maioria deles, são imortais enquanto boas histórias estiverem sendo feitas para eles, enquanto a criatividade dos roteiristas não se esgotar, as revistas continuarem a vender e o interesse dos leitores não acabar, eles sempre terão uma maneira de vencer a morte.


Mais textos de Giulianno também podem ser lidos em: https://planetamarveldc.blogspot.com/

Postar um comentário

3 Comentários