Arte de Paulo Sbragi |
Mineiro, de Desemboque, ele chegou a São Paulo, para ser
radialista, aos 18 anos, a bordo de um caminhão de mangas.
Lima, que ainda não era Lima, e sim um anônimo Ariclenes,
tentou ser radialista, porém, foi rejeitado de início porque a voz não ajudava –
ele ficou conhecido como “Voz de Sovaco”. Virou contra-regra, sonoplasta e o
que mais fosse possível, a conseguir um emprego na Rádio por pena.
Porém, Ariclenes não se deu por vencido e uma oportunidade
de sua voz ser ouvida apareceu, quando foi necessário uma fala de um personagem
qualquer.
Assim, começou a trajetória daquele que se tornaria o melhor
ator da tv brasileira e o que melhor encarnou o brasileiro.
Lima esteve na inauguração da TV Tupi, do lendário Assis
Chateubriant; após 27 anos ali, partiu para a Globo e, claro, graças à
tecnologia e passagem do tempo, ficou bastante conhecido.
Primeiro como diretor – dirigiu Beto Rockfeller, e o maior
sucesso da tv de todos os tempos: O Direito de Nascer.
Depois, como ator, ao interpretar Zeca Diabo em O Bem Amado;
Sinhozinho Malta em Roque Santeiro e Sassá Mutema, como o Salvador da Pátria.
Dali em diante, Lima tornou-se um ícone, com trejeitos
originais, ora como vilões, ora como heróis.
Lima foi de tudo um pouco, turco, árabe, português, gaúcho,
judeu, inclusive Deus, no especial O Santo que Não Acreditava em Deus, de João
Ubaldo Ribeiro.
Foi também dublador; dublou os personagens-título Wally
Gator e Pepe Legal, desenhos animados da Hanna Barbera.
Lima apresentou, durante muito tempo, o Som Brasil, programa
que mostrava justamente o campo, o verde, com artistas que cantavam o
sertanejo.
Lima nunca escondeu o lado sertanejo e talvez por isso tenha
ficado marcado pelos personagens Zeca Diabo e Sassá Mutema; adora contar
causos, histórias, sempre com sensibilidade e emoção.
O ponto mais interessante de Lima Duarte é que ele conta
abertamente suas histórias e é sempre muito bom; abaixo, você pode conferir
algumas entrevistas dadas pelo Lima, que valem muito a pena, pois ali você
percebe o universo que é um ser surpreendente e único, como Lima Duarte.
A primeira vez que vi Lima em ação foi em Roque Santeiro –
ele interpretava Sinhozinho Malta, um matuto que se tornou deputado e graças a
uma mentira, se tornou o dono da cidade. Depois, como Sassá Mutema, outro
matuto em O Salvador da Pátria; cujo enredo é muitíssimo interessante.
Porém, em 1992, Lima foi o astro de uma novela: Murilo
Pontes, em Pedra Sobre Pedra. Lembra da música Entre a Serpente E A Estrela, de
Zé Ramalho? Ficou famosa ali.
Quatro anos depois, ele retomou o personagem, numa
participação especial em A Indomada.
Em 2000, dois filmes bastante interessantes: O Auto da
Compadecida; difícil escolher quem está melhor ali, um elenco afiado,
bem-humorado e sinérgico; e Eu Tu Eles, que Lima carrega nas costas. Nem mesmo
Stênio Garcia consegue se equiparar ao velho Ariclenes no talento.
Hoje, Lima está relegado ao coadjuvantismo, muito provavelmente
pela passagem do tempo – talvez seu último papel de destaque tenha sido em
Araguaia.
De qualquer maneira, nunca houve alguém como Lima Duarte,
nem haverá. E que mesmo aos 90, ele possa voltar a abrilhantar os nossos dias
com novas interpretações.
Lima ganhou uma versão em quadrinhos; ao menos, uma
homenagem. Lima, na verdade é Pêra Duarte, um ser misterioso que decidiu passar
a eternidade conhecendo o mundo, as pessoas, as interações; e decidiu se tornar
uma estrela.
Abaixo, você o vê, na minissérie Frank & Walter – Ascensão
para a Divindade.
0 Comentários