Depois
do álcool em gel (eu continuo preferindo o em latão), o produto mais
disputado nos corredores e prateleiras dos supermercados da vida tem
sido o bom e velho papel higiênico.
Pelo
que tenho observado em minhas rápidas incursões aos supermercados, o
brasileiro está a comprar mais papel higiênico que arroz e feijão. Vai
chegar uma hora em que não haverá mais o que cagar, mas o estoque de
papel higiênico estará a sair pelo "ladrão".
Até há poucos dias, por exemplo, um carrinho de compras cheio de picanha e de fardos de cerveja puro malte era um dos símbolos de ostentação no supermercado. Clientes menos afortunados, os que só têm o que basta para uma fraldinha, uma asinha de frango e meia dúzia de subzeros e bavárias, olhavam para aqueles carrinhos com um misto de inveja e cobiça.
Até há poucos dias, por exemplo, um carrinho de compras cheio de picanha e de fardos de cerveja puro malte era um dos símbolos de ostentação no supermercado. Clientes menos afortunados, os que só têm o que basta para uma fraldinha, uma asinha de frango e meia dúzia de subzeros e bavárias, olhavam para aqueles carrinhos com um misto de inveja e cobiça.
Hoje,
tudo mudou. Hoje, ostentação é um carrinho abarrotado de fardos de
papel higiênico - compre 12 e pague 11, e assim por diante. Se for de
folha dupla, então, é que o orgulhoso condutor do carrinho mais atrai
para si olhos de lascívia e concupiscência. Ele desfila pelo mercado
como se fosse (e neste momento ele o é) o mais bem-sucedido dos homens.
A
manter-se tal quadro, o IBGE já estuda em mudar o parâmetro de um dos
principais indicadores de riqueza e prosperidade da nação, a renda per capita,
que é a renda nacional, em reais, dividida pelo número de habitantes,
ou seja, é o quanto de dindim, do faz me rir, em média, que cada
brasileiro ganha por ano (per capita do latim, por cabeça).
A consolidar-se tal conjuntura, a renda per capita será substituída pelo rolo per capita.
O papel higiênico passará a ser o principal indicador socioeconômico da
nação. Tanto mais próspera, com melhor divisão de renda e justiça
social será a nação quanto mais rolos de papel higiênico por habitante
ela produzir e consumir.
O
motivo para a corrida ao papel higiênico só pode ter uma explicação : o
brasileiro - e o resto do mundo - está se cagando de medo do
coronavírus.
Porém,
a psiquiatria e a psicanálise - ah, o que seria de nós se não fossem a
psiquiatria e a psicanálise... - discordam de mim e fornecem uma
explicação alternativa à minha, menos escatológica e cheia de
vocabulário de divã, uma explicação "racional".
Não
é somente o papel higiênico a sumir das prateleiras, também houve
grande aumento na demanda por produtos de limpeza em geral. O que é
normal em períodos de pandemia, garantem os psicopicaretas. Como o ser
humano faz uma associação direta entre doença e sujeira, o simples fato
dele se guarnecer e se ver cercado de produtos de higiene e limpeza já o
faz se sentir mais seguro e protegido.
Com a palavra, a psicanalista francesa Sonja Saurin :
“O papel higiênico está
relacionado à limpeza. Enquanto você está evacuando, o seu corpo rejeita
o que não serve mais. Então, há uma associação metafórica desse papel
higiênico, feito para limpar, e a vontade de evitar contaminação, além
de evacuar os medos. Nesse momento, vemos homens que sempre
tiveram barba raspando, pois tudo o que pode ser sujo lembra
contaminação. O que podemos dizer também, de um ponto de vista
psicanalítico, é que quando há pânico as pessoas se fixam sobre certos
objetos".
Um caralho que vou raspar minha rasputínica barba!!!
Mas
não é só, a coisa não para por aí. Seguido e se somando a isto,
instala-se o "efeito manada", o "efeito maria-vai-com-as-outras", macaco
vê, macaco imita. Basta que um "serumaninho", médio e normal, veja um
outro comprando e possuindo algo em grande quantidade para que ele
desenvolva a urgente necessidade de também se apossar daquilo. Se o
outro precisa, também eu.
Confesso
que também não sou totalmente imune ao "efeito manada", a
automaticamente pensar que preciso do que o outro tem; confesso que, às
vezes, sou tão refém deste ditame biológico evolutivo quanto o resto do
rebanho. Sentia muito fortemente o "efeito manada" quando via, a
exemplo, fotos do Brad Pitt abraçando a Angelina Jolie.
Instantaneamente, o "efeito manada" apossava-se de mim, tomava-me feito
uma entidade, eu tinha que possuir aquela mulher.
Mas "efeito manada" por papel higiênico? Ora, vão à merda!
Que sejam reativados e reinaugurados todos os bidês do mundo!!!
E
o pior : de nada valerão montanhas de papel higiênico contra o
coronavírus. Com a palavra, o psiquiatra Fábio Barbirato, professor de
pós-graduação em Psicologia da PUC, que reitera a associação
sujeira-doença, mas alerta :
"Isso é uma grande bobagem. Na transmissão do coronavírus, não vai
fazer diferença se na casa tem dez pacotes ou um de papel higiênico. O
vírus é passado pela via aérea. O papel não vai proteger nem aliviar
nesse caso".
Ou
seja, não se pega coronavírus pelo cu! Se o cu nunca teve nada a ver
com as calças, menos ainda com o coronavírus! O medo e o pânico, talvez,
estejam a desorientar e a confundir o povo : pelo toba, pelo brioco,
pelo roscofe, se pega é um outro vírus, o HIV.
E,
neste caso, as medidas profiláticas são outras, são bem outras. Como
bem nos explica, com uma eloquência de fazer inveja a qualquer orador
romano, o saudoso comediante Costinha, em seu LP de piadas O Peru da Festa, volume 2. Orienta-nos, Costinha:
"Eu
descobri um remédio pra não pegar AIDS, rá, rá, rá, um remédio pra não
pegar AIDS, éééée´... um remédio, um remédio pra não pegar AIDS. Fácil,
muito fácil. É só ir num galinheiro, pegar uma galinha, arrancar uma
pena do cu, mas tem que ser do cu, não tem problema que esteja suja de
bosta, e guardar sempre no bolso ou na carteira. Moral da história :
quem tem pena do cu, não pega AIDS".
Pããããããããããta que o pariu!!!!
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