Assisti ao filme da
Arlequina, digo, ao filme das Aves de Rapina, que na verdade é o filme da
Arlequina, A.K.A., a “muié” do Coringa. Enfim, mais sem mais delongas, devo
dizer que o filme é horrendo, o pior filme que vi neste ano, que começou há
pouco mais de um mês. Mas por que estou gastando linhas para dissertar sobre
esse filme? Bom, por dois motivos, basicamente: primeiro porque é um filme de
quadrinhos, e HQs sempre serão questões de interesse deste blog, creio; e,
segundo, porque a personagem da Arlequina é um fenômeno da cultura pop
contemporânea interessante. Eu disse interessante, não bom.
Fazer introdução sobre
a Arlequina é chover no molhado, mas basicamente ela foi criação de Paul Dini e
Bruce Timm na celebrada série animada do Batman dos anos 90, com o intuito de ser
uma sidekick do Coringa. Seu nome verdadeiro é Harleen Quinzel, uma
psiquiatra que se apaixonou pelo Coringa e blá blá blá. Todo mundo sabe o resto
da história. Na verdade, muito do sucesso da Arlequina se deve a seu criador,
Paul Dini, que insistiu em introduzir a personagem nos quadrinhos, durante a
saga Terra de Ninguém.
Pior
que a Arlequina caiu no gosto do público, principalmente de dois segmentos: as
menininhas e os onanistas. E chegou a ganhar revista mensal própria alguns anos
depois, que não durou muito tempo; foi logo cancelada. Apesar disso, seu
criador, Paul Dini, ainda insistia em proteger sua personagem, e, quando
escreveu sua fase do Batman, na Detective Comics em meados dos anos 2000, vivia
colocando a palhacinha nas histórias.
Chegou
então o malfadado reboot da DC dos Novos 52, e então quiseram dar uma revitalizada
radical na personagem. Fizeram-na ser parte da formação do novo Esquadrão
Suicida, e, se antes a Arlequina raramente matava, agora ela era um punk
psicopata, que matava até inocentes. E a sensualidade dela aumentou também,
para a alegria dos punheteiros. O Pistoleiro que o diga, já que deu uns pegas
nela.
No
entanto, a reação dos leitores quanto a essa Arlequina que matava inocentes foi
muito negativa; então, eles modificaram essa característica na personagem. Ela
mata e fere pessoas más, mas não pessoas boas. E logo deram uma nova HQ para a
personagem, escrita por Jimmy Palmiotti e desenhada pela Amanda Conner, que se
tornou um blockbuster no combalido mercado atual de quadrinhos.
Enfim,
veio o filme do Esquadrão Suicida, que, apesar de ser uma bosta, fez certo
sucesso e catapultou a personagem para a condição de ícone pop contemporâneo,
graças à bela, talentosa (e gostosa) atriz Margor Robbie. Os onanistas foram mais uma vez à loucura, e a
Arlequina se tornou referência para as carentes menininhas nerds, que começaram
a imitar seu jeito de vestir. O problema é que ela é um péssimo exemplo para
meninas crianças e adolescentes. Tudo bem que o Deadpool também é para os
moleques, mas é difícil para um garoto se tornar o personagem. Porém, é bem fácil
para uma menina encarnar a Arlequina. É só pintar o cabelo, fazer umas
marias-chiquinhas, botar um topzinho e enfiar um shortinho que fica atochado no
rêgo. Pronto, está montado um cosplay da Arlequina.
E quanto ao filme? Bom,
o enredo de Aves de Rapina é bem raso. Basicamente, Arlequina está fazendo um
monte de merda e vivendo como um personagem de Tiny Toon. Negócio é que ela
sempre foi um personagem de Tiny Toon; é só ver a origem de cartum dela. Mas a
burra deixa os outros descobrirem que ela levou um pé na bunda do Coringa, e
então vira alvo de todo mundo.
Arlequina vira alvo principalmente
de Roman Sionis, o Máscara Negra, interpretado por Ewan McGregor,
que está bem galhofa no papel.
Máscara Negra é um vilão bem legal do Batman, mas que não tinha sido muito bem
aproveitado nos quadrinhos por anos, até que ele se tornou o chefão do crime de
Gotham durante a saga Jogos de Guerra. O vilão captura a palhacinha, mas ela o
convence a poupar sua vida, em troca de conseguir recuperar o tal diamante Bertinelli.
É aí que entra a outra personagem do filme,
Cassandra Cain, que está totalmente descaracterizada da versão dos quadrinhos. Nessa versão, ela é uma garota que se comunica por meio das artes marciais, filha do
assassino David Cain, e que se tornou a terceira Batgirl. Mas ela foi
reduzida a uma batedora de carteiras e trombadinha juvenil. Cassandra rouba o
diamante de Zsasz,
que no filme é um capanga do Máscara Negra, e acaba engolindo a joia. Mas no
diamante estão criptografados os dados bancários da família mafiosa Bertinelli.
Esse é o ensejo para botar Helena Bertinelli,
a Caçadora, na trama, que quer vingança contra os assassinos de sua família.
Caçadora é interpretada por Nary Elizabeth Winstead, a namorada de Scott Pilgrim, que está atuando
muito mal nesse filme. Pena, porque gosto da atriz.
Completando os personagens, temos Dinah
Lance, a Canário Negro, que foi muito descaracterizada e se tornou uma capanga
do Máscara Negra, e Renee Montoya, interpretada pela veterana atriz Rosie
Perez, que não tem nada a ver fisicamente com a Renee dos quadrinhos. É muito
estranho ver uma baixinha e gordinha dando cacete nos bandidos.
Tecnicamente, o filme não é tão ruim. A
diretora sabe fazer umas tomadas; as cenas de luta não são extraordinárias, mas
são ok. Houve a opção de destacar cores exageradas, para ficar bem a ver com a
Arlequina, tudo cheio de glíter.
E quanto à acusação de que o filme é
lacrador? Bom, óbvia que é verdadeira. É só notar que o discurso do filme é de
empoderamento, da Arlequina tentando sair da sombra do Coringa. Mas, se fosse
só isso, até que estava de boa. O problema é a representação negativa de
praticamente todos os homens no filme. Acho que o único homem bonzinho no filme
é o capanga que salva a vida da Caçadora quando criança e a leva para a Sicília.
Os outros homens são todos maus, machistas, misóginos e opressores. Claro que o
Máscara Negra é misógino, pois ele é vilão e eleitor do Trump. Além de ter um maneirismo
gay. O comissário de polícia é o ex-parceiro da Renee e foi promovido no lugar
dela. A impressão que o filme dá é a de que todos os homens são ruins. Não é à
toa que a bilheteria já começou muito negativa, uma vez que o filme ataca pelo
menos 50% do público do cinema, que não vai querer pagar para ser ofendido.
Outra coisa, a censura do filme é 16 anos
no Brasil. Portanto, não levem crianças. Há umas coisas meio pesadinhas, tipo
rostos sendo arrancados e tal. Quando assisti ao filme, estava do lado de uma
menininha com a avô e a mãe, e havia ainda outras menininhas na plateia. Sei
que hoje em dia a molecada baixa e assiste ao filme que quiser, mas você que é
pai ou mãe não deve deixar seu filho ou filha ver isso no cinema. Se eles
depois baixarem e assistirem por conta própria, ok.
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