Olá, meus caros. Uma das épocas que eu mais amo é o Carnaval. Toda sua euforia e bagunça, procuro nunca perder a oportunidade de aproveitar esse feriado para me isolar completamente das pessoas e fazer planos pra dominar o mundo. Foi sugerido pelos colaboradores que fizéssemos posts temáticos "anti-carnaval". Como faz um tempinho que eu queria fazer uma segunda parte do "10 HQs fora do Marvel/DC", eu aproveitei. ATENÇÃO! Esse post quer ser qualquer coisa menos uma ação de cultzinho metido "uuuuuuuuuuuuui, os gibis bons de verdade são esses". Só acho que é legal conhecer outras coisas, até porque normalmente esses industriais são de mais fácil acesso. Tem algumas recomendações mais óbvias, mas é porque eu queria me livrar logo delas pra abrir espaço pra outros materiais em listas futuras. Vamos lá!
Link da primeira parte: https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2019/07/10-hqs-fora-do-marveldc.html?m=1
10-Paper Girls
Série já terminada do Brian K. Vaughan, envolvendo viagens no tempo e referências à cultura pop de outras épocas. Acredito que das séries mais famosas do cara essa deve ter sido a mais fraquinha, por isso deixo em décimo lugar. O maior destaque são os desenhos excelentíssimos do Cliff Chiang, que havia feito uma excelente fase da Mulher-Maravilha. O roteiro, por outro lado, tem altos e baixos, mas é interessante pra dar uma distraída. Só não tenho certeza se vale a pena pegar encadernados muito caros.
9-300
Basicamente, na época que ainda era um grande artista, o Frank Miller com essa série resolveu se divertir descompromissadamente. Pra quem gosta de histórias de guerra envolvendo soldados da antiguidade e cultura grega, "300" é uma boa pedida e dá uma aula de desenho. Você já deve saber, mas resumindo... são os espartanos enfrentando os persas, com uma boa narrativa dramática.
8-Neurocomic
Quadrinho escrito e ilustrado por dois PhDs em neurociência!!! Não é mole não! A proposta é, com uma viagem de fantasia, explicar didaticamente como funcionam os neurônios e nossa mente. A recomendando é necessário explicar que não tem muito um meio termo entre ser um texto convidativo ou difícil. Por um lado ela dá um geralzão na história da neurociência, seus conceitos e dilemas, não se aprofundando muito. Por outro, eles querem te ensinar mesmo, então há nomes técnicos, e se tratando de neurologia não tem como ser muito simples. Então acho que o mais adequado é dizer que Neurocomic é recomendado pra curiosos, interessados. Pois mesmo com o didatismo e o bom humor, é um assunto complexo mesmo. Vale dizer como é um excelente exemplo das possibilidades didáticas da mídia. Edição da Darkside é caprichadona, como sempre.
7-Samurai Executor
Li após ter ficado órfão do Lobo Solitário (melhor série que li na minha vida) e parti para a outra série que eu tinha acessível da mesma equipe criativa. A proposta é muito interessante, de início vemos que o protagonista, executor oficial do governo, teve uma infância bizarramente traumática. Se tratando de um cara cuja profissão é decapitar criminosos, toda a essência da história é extremamente violenta. Mais do que isso, diria que o principal valor de "Samurai Executor" são as reflexões universais e possivelmente atemporais que ele faz sobre o sistema de justiça e punições. A fortíssima ressalva é uma misoginia assustadora que, infelizmente, nunca vai embora e acompanha a série até o final. Os estupros estão presentes em quase todas as edições e são mostrados de forma aparentemente fetichista, como se houvesse uma glamourização, sempre mostrando o corpo das mulheres. Pra mim a gota da água foi quando um dos """"heróis"""" chegou em casa e espancou a esposa sem mais nem menos, que nem um louco. Pra minha decepção a narração ainda falava do ocorrido como se fosse a coisa mais normal do mundo, eu acabei nem lendo mais. Então tem esses prós e contras para pesar. Se ainda não tiver lido Lobo Solitário, priorize o chefão.
6-Death Note
Mais um mangá. A proposta é uma das mais geniais, fica claro na popularidade que a série alcançou mesmo entre quem não se considera nerd/otaku. Um deus da morte, Ryuk, está entediado e joga seu caderno que mata pessoas na Terra. Ele é pego no Japão, mas não é por um garoto qualquer! É por Raito Yagami, possivelmente o jovem mais inteligente do Japão. A trama de mistério e fantasia tem um desenvolvimento exemplar, com grandes coadjuvantes e surpresas no roteiro, pelo menos até chegar na metade. Vale muito a pena conhecer.
Esse eu gostei demais. Ele mostra alguns pesquisadores do presente narrando a biografia do filósofo e matemático do século XX, Bertrand Russell. O homem é uma referência no racionalismo, acompanhar sua vida e o desenvolvimento de suas ideias, junto com a luta para defendê-las é interessante e ficou muitíssimo bem narrado. Na época eu não fazia ideia de quem fosse o Professor Pardal, então fiquei super satisfeito de conhecer o personagem histórico (entre outros que aparecem), o mundo acadêmico das ciências exatas... até a alguns conceitos de filosofia eu fui introduzido por "Logicomix"! Como resultado final, a obra ampliou meu interesse para outros temas, me tornou fã dos envolvidos, querendo acompanhar outros trabalhos deles e até fiquei curioso por conhecer outras obras dos quadrinhos gregos. Mas acho legal ressaltar, assim como "Neurocomic", que se você não for minimamente curioso por matemática, ou pelo menos história, talvez não curta tanto.
A Veneta é uma editora preciosíssima pro difícil mercado de quadrinhos nacionais. Normalmente a única coisa que vem até nós é "Turma da Mônica", o resto é publicado independentemente, e você dificilmente vai ouvir falar se não correr atrás por conta própria. Nisso a editora é uma ótima referência, além de trazer ótimos trabalhos internacionais (Tezuka, Moebius, Alan Moore e Crumb) traz mais pra perto do grande público trabalhos nacionais. "Carolina" se trata de um resgate fodido de uma autora brasileira que eu nunca havia ouvido falar na escola. A mulher era uma favelada miserável, escrevia poesias nos pedaços de jornal que catava na rua. Eis que lançou "Quarto de Despejo", um livro coletânea de suas poesias e foi um best-seller! Além de um feito incrível, a mulher também conseguiu mostrar a realidade da miséria pela voz de uma pessoa que a vivenciava constantemente. Eu sempre recomendo e empresto pra todo mundo. E olha que o meu tem autógrafo dos dois criadores!
3-V de Vingança
Apesar de ter a publicação terminada na DC, "V de Vingança" começou a ser publicado na Warrior, editora que não deu tão certo, em 82. Portanto, acho que vale a menção. Hoje a série é extremamente pop, mas se você dá um passo para trás percebe como se trata de um conteúdo subversivo bem inteligente e ousado. Uma aventura com tons de Batman protagonizada por um terrorista de meios bem duvidosos (lembra o que ele faz com a Evey antes da cena acima). Os dois artistas, Moore e Lloyd, nos passam reflexões sobre a liberdade, a opressão, a relação entre o povo e o sistema, vindo diretamente de duas mentes que estavam vendo a Inglaterra da Margaret Thatcher ao vivo e em cores. Na última de minhas muitas releituras pude notar que não se trata de algo perfeitamente redondinho, o final tem um otimismo um tanto questionável, mas a viagem vale muito a pena. Como em outras de suas melhores obras, é tudo que o Moore te faz pensar no caminho que torna suas histórias tão preciosas, mais do que reviravoltas entre o início, o meio e o fim.
2-O Relatório de Brodeck
Uma das HQs mais recentes do post, fico feliz de deixá-la em uma colocação tão alta. Acompanhamos Brodeck, um sobrevivente de campo de concentração nazista, agora retorna para sua cidade-natal, onde vivem a esposa e a filha. Ele escreve relatórios da cidade e após um acontecimento violento, buscam forçá-lo a narrar distorcidamente o que ocorreu. Mas isso está longe de ser o principal da história. O que marca mais é como a selvageria do nazismo deixou marcas pessimistas mesmo em seus sobreviventes, sobre a parte mais animalesca e terrível da existência. É aquelas obras do tipo "o mundo pode ser terrível e não dá pra ignorar". Se trata da adaptação de um livro e foi muito bem desenhada. Faz pouco mais de um ano que o Pipoca&Nanquim publicou no Brasil, sei que ainda revisitarei muitas vezes.
1-Maus
Esse é bem óbvio, mas tá dentro da minha lógica de comentar logo pra me livrar. É uma narrativa semi-biográfica do próprio autor e de seu pai sobrevivente do holocausto. A simples ideia de retratar as pessoas como animais traz uma identidade única, visto que está muito longe de ser um Mickey e Pateta. Além da biografia e da narrativa histórica, que já seriam o bastante pra carimbar "Maus" como um grande quadrinho, o autor mostra o processo de desenvolvimento dentro da própria história, já que é disso que se trata. É o tipo de trabalho que faz você se sentir pequeno por tentar comentá-lo, eu ao menos estou me sentindo agora, sei que é difícil alcançar uma descrição verdadeira da experiência que é ter seu coração quebrado ao lado de Art e sua família. Algumas obras são respeitadas, mas quando as leio não consigo ter a mesma impressão, às vezes as idolatramos meio sem pensar muito, em um efeito manada. Acredito não ser o caso de "Maus", que merece seu lugar como um dos raros undergrounds que alcançou tamanho sucesso.
Gostou? O feedback é bem importante, lembro que algumas pessoas tinham curtido o último. Às vezes me pego pensando e tenho mais títulos pra comentar em posts desse tipo do que me lembro com facilidade! Seria um prazer pra mim, então se quiserem mais é interessante comentarem, que eu posso dar uma priorizada. Valeu, abraço!
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