<Texto da Tag “Escritor Convidado”, escrito por: A Doutora>
Ontem a noite aconteceu algo inusitado. Era por volta de meia-noite. Estava assistindo Netflix na minha cama e todas as luzes estavam já apagadas quando comecei a ouvir barulhos de passos. Dentro do forro. Primeiro esporádicos, como se ele estivesse apenas estralando. Depois, mais constantes até se tornarem, de fato, barulhos ruidosos de algo se mexendo lá dentro. E exatamente no quarto é onde está o alçapão que dá entrada no forro, e ele estava levemente fora do lugar, com uma abertura de aproximadamente um palmo. O que quer que estivesse se mexendo lá dentro parecia estar se encaminhando para esta abertura. O primeiro instinto que tive foi negar o barulho (já vi filmes de terror demais para saber que se existe um barulho na casa, você não vai em direção ao barulho), mas quando percebi que realmente havia algo lá, e que seja lá o que fosse estava se encaminhando para a abertura no alçapão, eu subi num banquinho que fica do lado da cama e nas pontas dos pés fechei ele o melhor que pude.
O barulho continuou. A criatura estava "sapateando" de um lado para o outro, e em pouco tempo já nem estava mais no quarto, mas sim na sala e até mesmo na cozinha. Talvez estivesse procurando uma nova saída. Várias perguntas pipocaram na minha cabeça: A primeira, obviamente, era o que caralhos estava no meu forro, e como tinha entrado lá. Primeiro pensei em insetos (barata estava fora de cogitação, elas não são barulhentas nem fazem barulho de pisada). Embora pouco provável poderia ser alguma aranha grande (uma vez, na casa que me criei, tinha uma aranha no banheiro que era tão grande e "cascuda" que as patas dela faziam um barulho de tec tec quando ela se mexia) mas não acreditava que fosse isso. O que estava se mexendo lá dentro parecia que tinha peso. Uma outra alternativa é que poderia ser um rato. Isso era plausível. Se mexia com agilidade e o barulho poderia corresponder. Como um rato brotou lá dentro já que até então nunca tinha ouvido esse tipo de barulho era uma boa questão. O problema é que se fosse de fato um rato, teria que ser um rato enorme, pois um simples camundongo não faria um barulho desses ao se mexer e caminhar. Por fim, pensei que poderia ser também algum pombo. Uma casa bem próxima à minha estava com uma infestação e eles foram removidos faz pouco tempo, e pensei que algum deles poderia ter migrado para o meu forro, senão mais de um. Claro, não fazia muito sentido, já que entraria no mesmo problema do rato: por que o barulho só começou agora? Isso e o fato de não ouvir nenhum "pru pru" me fizeram desistir da ideia do pombo. Enquanto tudo isso me passava pela cabeça, percebi que o barulho havia parado. Ou seja lá o que fosse havia de repente ficado imóvel, ou havia saído pelo mesmo lugar que entrou. Estava disposta a abrir o alçapão e acabar com o mistério de uma vez por todas e descobrir logo que pérfido animal havia invadido meu forro e se seria o caso de chamar algum exterminador ou não (caso se tratasse de alguma praga). Fui até a lavanderia onde fica a escada de alumínio dobrável, mas antes tomei um pouco de distância para olhar em cima do telhado para ver se eu avistava o meliante, e foi exatamente o que aconteceu: A primeira coisa que notei foi o reflexo de seus olhos brilhantes contra o céu escuro e o vento da fria noite curitibana: A criatura sapateando no forro, senhoras e senhores, era o meu gato.
Ontem a noite aconteceu algo inusitado. Era por volta de meia-noite. Estava assistindo Netflix na minha cama e todas as luzes estavam já apagadas quando comecei a ouvir barulhos de passos. Dentro do forro. Primeiro esporádicos, como se ele estivesse apenas estralando. Depois, mais constantes até se tornarem, de fato, barulhos ruidosos de algo se mexendo lá dentro. E exatamente no quarto é onde está o alçapão que dá entrada no forro, e ele estava levemente fora do lugar, com uma abertura de aproximadamente um palmo. O que quer que estivesse se mexendo lá dentro parecia estar se encaminhando para esta abertura. O primeiro instinto que tive foi negar o barulho (já vi filmes de terror demais para saber que se existe um barulho na casa, você não vai em direção ao barulho), mas quando percebi que realmente havia algo lá, e que seja lá o que fosse estava se encaminhando para a abertura no alçapão, eu subi num banquinho que fica do lado da cama e nas pontas dos pés fechei ele o melhor que pude.
O barulho continuou. A criatura estava "sapateando" de um lado para o outro, e em pouco tempo já nem estava mais no quarto, mas sim na sala e até mesmo na cozinha. Talvez estivesse procurando uma nova saída. Várias perguntas pipocaram na minha cabeça: A primeira, obviamente, era o que caralhos estava no meu forro, e como tinha entrado lá. Primeiro pensei em insetos (barata estava fora de cogitação, elas não são barulhentas nem fazem barulho de pisada). Embora pouco provável poderia ser alguma aranha grande (uma vez, na casa que me criei, tinha uma aranha no banheiro que era tão grande e "cascuda" que as patas dela faziam um barulho de tec tec quando ela se mexia) mas não acreditava que fosse isso. O que estava se mexendo lá dentro parecia que tinha peso. Uma outra alternativa é que poderia ser um rato. Isso era plausível. Se mexia com agilidade e o barulho poderia corresponder. Como um rato brotou lá dentro já que até então nunca tinha ouvido esse tipo de barulho era uma boa questão. O problema é que se fosse de fato um rato, teria que ser um rato enorme, pois um simples camundongo não faria um barulho desses ao se mexer e caminhar. Por fim, pensei que poderia ser também algum pombo. Uma casa bem próxima à minha estava com uma infestação e eles foram removidos faz pouco tempo, e pensei que algum deles poderia ter migrado para o meu forro, senão mais de um. Claro, não fazia muito sentido, já que entraria no mesmo problema do rato: por que o barulho só começou agora? Isso e o fato de não ouvir nenhum "pru pru" me fizeram desistir da ideia do pombo. Enquanto tudo isso me passava pela cabeça, percebi que o barulho havia parado. Ou seja lá o que fosse havia de repente ficado imóvel, ou havia saído pelo mesmo lugar que entrou. Estava disposta a abrir o alçapão e acabar com o mistério de uma vez por todas e descobrir logo que pérfido animal havia invadido meu forro e se seria o caso de chamar algum exterminador ou não (caso se tratasse de alguma praga). Fui até a lavanderia onde fica a escada de alumínio dobrável, mas antes tomei um pouco de distância para olhar em cima do telhado para ver se eu avistava o meliante, e foi exatamente o que aconteceu: A primeira coisa que notei foi o reflexo de seus olhos brilhantes contra o céu escuro e o vento da fria noite curitibana: A criatura sapateando no forro, senhoras e senhores, era o meu gato.
Não
vou mentir para vocês, do tempo em que comecei a ouvir o barulho no forro até
descobrir que era o danado do meu bichano, eu passei um cagaço colossal. Embora
estivesse de fato com o intuito de pegar a escada e olhar com uma lanterna lá
dentro do alçapão para ver o que era, como vocês viram várias coisas me
passaram pela cabeça. E na verdade a introdução acima é para chegar nesse
ponto: Por que fiquei com tanto medo? Ok, tinha algum animal que eu não sabia o
que era se mexendo dentro do meu forro, e no fim das contas não era nada
perigoso, mas o que me deixou com tanto medo foi o fato de não saber o que era.
E como eu não sabia o que era, poderia ser qualquer coisa, desde algo
inofensivo como o meu gato como um demogorgon vindo do mundo invertido. Stephen
King defende uma tese que uma porta fechada sendo arranhada é muito mais
assustador do que uma cena de um monstro atacando alguém. Isso porque morremos
de medo do desconhecido. É natural do ser humano. Uma porta fechada (ou um
alçapão de um forro) é muito mais assustador porque você não sabe que monstros
podem sair se você abrir a porta (ou o alçapão), agora o monstro revelado, por
mais assustador que possa ser, você sabe o que está enfrentando.
Particularmente, acho que é por isso que estatisticamente falando, a coisa que
o ser humano mais teme é a morte, pois ela é a incógnita indecifrável: Acho que
as pessoas não têm medo de morrer em si, mas sim do mistério de o que vem (ou
não) depois que morremos.
E
esse medo do desconhecido pode ser absurdamente paralisante. Alguns fecham bem
o alçapão, trancam a porta sendo arranhada e nunca mais pensam no assunto.
Muitas vezes, o medo do desconhecido nos faz estagnar, permanecer eternamente
em nossas zonas de conforto, dentro das nossas bolhas, sem nos arriscarmos a
irmos mais longe, pois não sabemos o que vamos encontrar. Pessoas que são
extremamente ansiosas, normalmente são assim porque pensam demais e se
preocupam com o futuro (desconhecido) a ponto de esquecer de viver o presente.
O medo é um importante mecanismo de defesa, desde que não seja paralisante ou
prejudicial a ponto de te tornar paranoico.
Se
eu posso te dar uma dica é: Não mantenha portas fechadas por medo do que possa haver
por detrás delas. Abra a porta que está sendo arranhada. Pode ser que saia um
monstro. Mas às vezes pode ser só seu gato.
Atenciosamente,
A
Doutora.
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