Estamos tão
inocentes. Não cremos que os problemas do mundo são provenientes de
nosso comportamento. Damos vazão ao mental, como se o psíquico existisse
e controlasse as mazelas e prazeres do viver. Oh! Quanta inocência está
acobertada nos olhares destemidos que vagam nas ruas? Não cremos que os
problemas do mundo são provenientes de nosso ambiente. Damos razão ao
tolo que balança sua mãos ao vento, ministrando aulas para múmias
pagantes e crentes na mudança última.
Acreditar na mudança, fácil.
Acreditar na mudança como imaginam que virá, ainda mais fácil. Oh! Mundo
encantado que se encontram; como abraçar uma causa que nada lhe diz?
Ali fora, a
maior preocupação é a fila do café. A maior preocupação é a vestimenta:
a armadura dos enaltecidos filhos da democracia. E dizem, "está tudo
bem". Os indignos não se saúdam. Os indignos não se cumprimentam. Não
gastam o verbo com papo furado. Pé no chão; não o sapato. O sistema não
exclui ninguém; quem exclui são as práticas culturais e os indivíduos.
Bradem! Bradem! Viva a democracia! Apedrejem o vagabundo: imundo que é;
de inutilidade nasceu. Por quê teríamos que nos importar com ele? Não! É
um fétido corpo; abençoado seja com o trabalho (e fazemos muito lhe
oferecendo uma vaga de emprego; tem quem nem isso tem).
Ali dentro, o que é que passa? O que é que ocorre?
Pensem
assim. Um dia, seus filhos, sentirão na pele (e fora dela) o peso da
revolução! Que demore, sem dúvida. Talvez os filhos de seus filhos de
seus filhos. Porém, haverão de se intimidar com aquilo que ignoram.
Eis, que a
maioria, tratada como minorias, um dia se levanta. Incomoda, sim,
incomoda. E há de incomodar; até que esse incômodo, um dia, uma noite,
seja não mais que a regra estabelecida.
Pois, que há?
Uma
sociedade que explora e mata, abençoada (por suas práticas) não está.
Que considera natural a pobreza; que justifica o caos pela busca da paz.
Ironia! Ironia!
Malditas práticas cerimoniosas; religiosas; morais; desleais à experimentação.
Que demore, sem dúvida
Que venha, com dádiva
Que seja e prospere, ávida!
O desejo último: Walden Two
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