Joba Tridente: Bendegó



Na fatídica noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio gigantesco consumiu grande parte da estrutura e do acervo do Museu Nacional, instalado na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Quando as chamas se acalmaram, o que chamou a atenção de todos os aflitos, que lamentavam a perda imensurável do valioso acervo composto nos últimos 200 anos, foi a visão do resistente Meteorito do Bendegó (cuja fascinante história pode ser pesquisada na web) surgindo feito uma Fênix em meio aos escombros e à fumaça quente. A foto acima é do acervo do Museu Nacional.

Em 12 de novembro de 2018, o fotojornalista Marcos Santilli, autor de um vasto acervo documental sobre o Brasil e o povo brasileiro, postou em sua página no Facebook, uma foto de Bendegó-BA, da série Memória de Canudos - 1978. Não resisti e, assim como me intrometi poeticamente em suas instigantes fotos, postadas em 2013 no FB e em 2015 no Falas ao Acaso (Gato 1, 2 e 3; Madeira Mamoré; Mãe Paiter Surui; Esmo; Boleia; Biguás; Menina Ururam), acabei cometendo a breve prosa poética Bendegó (12.11.2018)..., que fala de um acaso e de uma tragédia.


Bendegó -Bahia - Brasil. 1978. Fotografia de Marcos Santilli©

B E N D E G Ó
 divagação poética de Joba Tridente
sobre uma foto da cidade de Bendegó, na Bahia,
do fotógrafo Marcos Santilli


: quando o mundo era preto e branco,
um meteorito luziu no céu de Bendegó.
: a pedra alienígena quedou n’água.
: o batismo doce apagou sua brasa
e abrandou o seu sal.
: um dia a pedra desceu ao Rio de Janeiro
e Bendegó se coloriu
ao mundo natural da história.
: noutro dia o meteorito incandesceu
entre destroços da história de um museu.
: a água salobra aquietou seu pesadelo
e ele lembrou saudoso dos dias d’água doce...,
quando Bendegó ainda não era sertão.

Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto – Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

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