CORGI: TOP DOG
por Joba Tridente
publicada originalmente no Claque ou Claquete
Depois de muito troca-troca na data de estreia,
finalmente chega aos cinema a animação belga Corgi: Top Dog (The
Queen's Corgi, 2019), dirigida por Vincent Kesteloot e Ben Stassen (Os
Mosconautas no Mundo da Lua; As
Aventuras da Sammy; Sammy
- A Grande Fuga; A Mansão Mágica; As aventuras de Robson Crusoé; Big
Pai, Big Filho). Stassen é um dos fundadores do estúdio nWave Pictures,
cuja produção de animações se destacam mais pela arte de excelência do que
pelos roteiros simplórios ou claudicantes.
Corgi: Top Dog conta a história do mimado Rex,
um cachorro da raça corgi que se torna o favorito da Rainha Elizabeth II, mas
que, por conta do assédio da impetuosa cadela corgi Mitzi, de Donald
Trump, acaba provocando um “avanço” involuntário no presidente dos EUA, foge do
Palácio de Buckingham e vai parar num canil para adoções, onde conhece um bando
de cachorros tão fora de ordem que até criaram um Clube da Luta Canino..., e
também se apaixona por uma bela cadela spaniel chamada Wanda. Quando
esfria a cabeça, o arrogante Rex decide voltar para o Palácio. Mas, como
até as crianças já sabem, para cumprir com sucesso a sua longa Jornada do
Herói, vai passar por provas difíceis de amizade, força e determinação...
Em Corgi: Top Dog a nWave Pictures apresenta,
como se espera, um trabalho técnico (principalmente de interiores) impressionante
e que melhora ainda mais a cada nova obra. Porém, o mesmo não pode ser dito do roteiro
meio sem rumo e ou híbrido, escrito por Rob Sprackling e Johnny Smith (Gnomeu
e Julieta: O Mistério do Jardim), que, embora apresente momentos hilários,
com sua analogia entre a vida da realeza e a vida canina e dê um tom burlesco à
visita do impagável e incorrigível Trump e de paródia ferina ao filme Clube
da Luta, de David Fincher..., oscila constrangedor entre o público infantil
e o juvenil, ao tratar de sexualidade (cio canino e transgênero), defesa de
território (Clube da Luta), inveja e prepotência palaciana, violência “moderada”...
É óbvio que o uso constante de metáforas nas mais variadas animações serve para
o público alvo compreender melhor o mundo ao seu redor. Porém, ultimamente a
antropomorfização extrema de não-humanos tem me incomodado..., mesmo ciente de que
eles vivem num mundo paralelo ao nosso e ou apenas (?) nas telas.
Enfim, considerando as pinceladas, aqui e acolá, abrindo
discussão sobre abandono e acolhimento, disciplina e liberdade sem limite, autonomia
e responsabilidade; os personagens caninos bem desenvolvidos (Elizabeth, Philip
e Trump ficam “respeitosamente” mais na superfície) e traçado agradável - o realismo
do rico interior do palácio e do pobre interior do canil é fascinante; as gags
divertidas para toda a família e o humor seletivo para crianças e adultos,
incluindo o indefectível humor o negro inglês (que o público americano nem
sempre compreende) e a caricatura - a sequência de preparação (ou
americanização) do Palácio de Buckingham, para a tumultuada e ostensiva Visita
de Estado do presidente norte-americano Donald Trump, é hilária..., ainda que o
enredo dê umas escorregadas e ou cochiladas, Corgi: Top Dog deve agradar a “seus” públicos alvos, mas
algumas situações (de sexualidade, assédio e violência sexual, se questionadas
pelos pequenos) podem colocar (?) os acompanhantes adultos em uma saia justa...
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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