Pãããããããta que o pariu!!! O complô internacional firmado entre os mandatários do mundo para o embichamento global parece mesmo desconhecer limites! Embicharam o pirata!!!
Meu
primeiro contato com bebidas alcoólicas se deu pelo rum. O rum : bebida
que, no percorrer dessa longa estrada da vida, se mostrou, ao mesmo
tempo, o meu espinafre e a minha kryptonita.
Na
época do meu batismo de fogo (e bota fogo nisso!), lá na saudosa e
obscura década de 1980, só havia um tipo de rum : o rum. E fim de papo.
O rum : a única bebida digna de um pirata, de homens com a pele e os brios curtidos pelo sol e pelo sal.
O
rum : a única bebida que traz em seu corpo a rudeza, a aspereza e a
brutalidade necessárias à prática do ofício do pirata. E também ao seu
sono tranquilo.
O rum : de preferência tomado no crânio recém-descarnado e escalpelado do inimigo.
De
lá para cá, sucessivas, sutis e insidiosas alterações e inovações no
rum foram feitas para torná-lo mais palatável aos paladares mais
sensíveis, mais bichescos, para fazê-lo cair no gosto comum médio das
gerações mais jovens, gerações de merdas e de frouxos, de roscas
frouxas.
Já
há algum tempo, o rum é oferecido nas prateleiras dos mercados em
várias versões "comportadinhas" : tem o Carta Ouro (o que mais se
aproxima do rum rum), o Carta Branca, o Carta Cristal (ui, ui, ui...) e o
Lemon Rum (com extratos "naturais" de limão; será que é para o pirata
se embriagar e, ao mesmo tempo, já combater o escorbuto?).
Viadagem, meus amigos, pura viadagem.
Mesmo o rum original teve a sua graduação alcoólica reduzida de 42% para 37%.
Apesar
disso, o rum, o sangue pirata, nunca se tornou uma modinha, uma
tendência nas tais baladas. Apesar disso, o rum nunca caiu no gosto da
viadada e da biscataiada que campeiam pela noite. Apesar disso, a imagem
do pirata estampada no rótulo da garrafa, independente da versão da
bebida nela contida, se manteve firme e respeitável, sendo sempre
associada a uma ideia de virilidade rústica, à figura do macho das
antigas. Botaram-no, o pirata, até mais sorridente no rótulo. Em vão. O
rum manteve sua aura de masculinidade.
Até agora, meus amigos... até agora...
Hoje,
ao passar pela seção de bebidas do supermercado, um rótulo azul,
festivo e cintilante, chamou-me a atenção. E nele estava o Pirata. Com
um sorriso ainda mais amplo, de quem fez limpeza, fluoretação e pôs
revestimento de porcelana nos dentes. Camisa passada e engomada com
colete de mauricinho. Mangas bufantes. Mais para odalisca que para
pirata.
Cheguei
perto para ver que outra versão corrompida, que outra tentativa de
minar a virilidade do rum estava a ser levada a cabo. Foi pior do que eu
pensei.
Não
era uma nova e mais frouxa versão do rum. Antes fosse. Ainda
continuaria a ser rum. O pirata ainda aguentaria incólume a mais essa
patifaria, a mais essa calúnia contra seu saco roxo.
No pescoço do garrafa, presa uma etiqueta : Vodka Montilla, a nova ousadia do pirata!!!
Pããããta
que o pariu!!!! Incapazes de, em três décadas de tentativas, aviadar a
imagem do rum, partiram para uma nova estratégia de ataque : embichar o
pirata! Associar a imagem do lobo-do-mar a uma bebida de drinques e
coquetéis, a uma bebida que facilmente promiscui-se com suquinho de
tomate, suquinho de laranja e outras frutinhas.
Com trezentos milhões de hienas do mar! Com seiscentos milhões de sacripantas!Vodka não é bebida de pirata!
Não
que eu esteja pondo em xeque a macheza dos russos, dos antigos
cossacos. Nada disso. Mas a vodka não é uma bebida de guerra,
beligerante, de saques e pilhagens. Não é bebida de beber enquanto se
espeta o rim do inimigo com a espada para fazê-lo caminhar pela prancha.
A vodka é uma bebida de sobrevivência, não de batalha. Um
anticongelante sanguíneo. É a água benta que passarinho não bebe das
estepes russas. Tão valorosa quanto ao rum para a função a que se
aplica, mas diversa dele. Muito diferente.
Pirata bebendo vodka é o mesmo que russo bebendo saquê.
E
o papagaio do pirata, então? Antes, sujo, carrancudo, penas
desgrenhadas, quase que uma coruja verde, praticamente uma ave de
rapina; agora, está mais para maritaca, para periquita, para mulata
assanhada.
O que virá a seguir? Vodka Montilla sabores? Frutas vermelhas, kiwi, pitaia, anis e mirtilo? Vodka Montilla Ice?
Valham-me
São Leitinho e São Piraju! Já fosse, na gloriosa década de 80, o rum
Montilla, vodka, as nossas Guerras Secretas não teriam sido Guerras
Secretas, teriam sido uma rave de boiolas, uma parada LGBT. Pããããta que o pariu!!!
Tristes tempos, meu caro amigo pirata, tristes tempos...
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