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Oitenta tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros no carro. Um músico, pai, filho, irmão, ser humano, assassinado. Um catador, pai, filho, irmão, ser humano, assassinado. A indiferença dos atiradores é justificada pela própria indiferença daqueles que se julgam melhores do que os demais seres humanos apenas por ocuparem cargos de alta relevância dentro da sociedade. Aqueles tiros podem, no entanto, atingi-los. Aqueles tiros podem te atingir. Aqueles tiros podem me atingir. Aqueles tiros atingem toda a Humanidade, em cada rua do mundo uma batalha é travada, uma crônica de como estamos ultrapassando o infindo fundo do abismo da Desgraça Contemporânea. A Cinzenta Cidade se balança, os tremores desgraçadamente louvando os ferimentos abertos em nossa alma pelos tiros disparados pela própria realidade que como espécie moldamos.
Não foram oitenta tiros.
Foram duzentos e oitenta e sete tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros no carro. A música das cinzas é ouvida com maior veemência. Os pais das cinzas, nós mesmos, sem nenhuma vergonha ou limitação, as expandimos ainda mais. Os filhos das cinzas, nós mesmos, as comercializamos a altos preços nas feiras de nossas consciências e essências. Os irmãos das cinzas, nós mesmos, participamos de reuniões e dispersões que desmembram a nossa integridade. Nós, seres humanos, autores do assassinato do melhor e do pior da nossa espécie.
Não são oitenta tiros.
São duzentos e oitenta e sete tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros no carro. E a comoção foi entre poucos. E a revolta foi entre menos ainda. E as ações mais incisivas contra aquele crime estão sendo cada vez menos frequentes fora do âmbito do julgamento dos fatores ao mesmo ligados. As cinzas nublaram os humanos corações da maioria. As cinzas afogaram as mais dignas emoções da maioria. As cinzas assassinaram as melhores ações da maioria. As cinzas se tornaram o Ser da maioria.
Nunca foram oitenta tiros.
Sempre foram duzentos e cinquenta e sete tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros no carro. E a Rosa chora nos corações daqueles que também foram atingidos pelas balas. E a Roda gira fazendo as mesmas atingirem diariamente outros. E os Ratos não olham para baixo, se concentram na continuidade de sua corrupções, usurpações e mentiras. E os Ralos estão cheios do esgoto da falta de sensibilidade daqueles que vêm a perceber os tiros abatendo a muitos e nada fazem.
Nunca serão oitenta tiros.
Sempre serão duzentos e cinquenta e sete tiros.
Duzentos e cinquenta e sete tiros no carro. Paixões nefastas escrevem livros de terror pelas cinzentas ruas. Paixões dantescas promovem uma deturpada poesia determinada sempre a ser a mazela diária alimentada. Paixões tremulantes ao som de muitos outros tiros acarretam a moldura dos dias que ainda virão. Paixões dançantes sobre os cadáveres que somos são os shows de perturbadoras músicas destruidoras da Humana Razão. Paixões filmadas como blockbusters avassaladores de nossos clássicos motivos para sermos cinzentos decadentes: fraqueza, mediocridade, apequenamento, escravidão e sentimento de gado.
Duzentos e cinquenta e sete tiros…
Eternas Cinzas da Terrestre História.
Inominável Ser
CINZENTO
CRONISTA
INOMINÁVEL
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Inomináveis Saudações, leitoras & leitores virtuais!
Se este escrito vos agradou, lhes convido para conhecerem meus outros inomináveis universos:
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