Criticando: The Man in the High Castle




[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito por Ragnar – O Terror dos DCnecos, publicado originalmente em: 

Um mundo onde Estados Unidos e os aliados perderam a segunda guerra mundial. Um planeta dividido de forma diferente. Enquanto na vida real, as nações do globo se dividem entre USA e Rússia ex união soviética. O mundo de The man in the high castle, é dividido entre Alemanha Nazista e Japão. E adivinhe, "ele" o sujeito do bigodinho, não morreu. Ele venceu e os Estados Unidos foi dividido ao meio entre as nações vencedoras. Para que possa compreender melhor aqui vai um mapa do país. Onde na costa oeste temos o domínio japonês, tendo como capital São Francisco e na costa leste temos o Grande Reich, cuja capital é Nova York. Ambos os lados separados por uma zona neutra bastante estratégica para manter a paz.

Sabendo-se disso, vamos embarcar nessa trama densa, com atmosfera muito pesada que fica nítida até mesmo pela fotografia e as cores usadas em tela.
Primeiramente somos apresentados a uma moça bastante bonita, com traços asiáticos e que parece tão avulsa quanto nós ao entrar nessa realidade. Seu nome é Juliana Crain. Para surpresa de quem assiste a jovem é abordada pela sua própria irmã durante a noite, esta parece aflita e lhe entrega um rolo de filme, pouco fala e vai embora. Minutos depois Juliana vê oficiais do governo japonês e por consequência sua irmã morta estirada ao chão. É ai que toda a trama começa. Logo Juliana se coloca a assistir aquele rolo de filme, afinal sua irmã morreu protegendo aquele objeto. Para surpresa de Juliana, o filme mostra imagens da segunda guerra mundial. Porém, de forma que os Nazistas perderam, o que pra ela logicamente parece uma maravilha mas uma mentira, uma edição de alguém da "resistência".



Enredo vai e enredo vem, ela acaba envolvendo seu namorado Frank Frink nesse meio enquanto os investigadores japoneses estão cada vez mais desconfiados e na cola de Juliana por causa do filme que é algo proibido tal qual uma vasta quantidade de coisas. Inclusive é Frank que nos faz o terrível papel de nos apresentar o como e quanto, os nazistas podiam ser cruéis a ponto de destruir uma família inteira, não importando se há crianças ou não para sofrerem a mão pesada do estado japonês e para piorar, Frank tem descendência de seu avô Judeu. Este tipo de acontecimento é tão pesado e cruel, que quebra Frank, como se ele finalmente tivesse percebido o tamanho da abominação que é sua realidade e nesse processo, ele nem mesmo pode contar com Juliana, pois a mesma está investigando a origem do filme e ao mesmo tempo fugindo dos oficiais japoneses.
Nessa viagem, a mocinha chega a se envolver em problemas maiores do que gostaria, inclusive em assassinato, ela acaba conhecendo um rapaz com pinta de galã conhecido como Joe Blake. Joe parece um sujeito simples aos olhos de Juliana, porém, logo descobrimos que ele não é tão simples assim. O galã nada mais é do que um espião nazista, alguém do baixo clero, fazendo mais uma missão. A da vez, era tentar encontrar o coração da resistência, o criador dos filmes, o mesmo objetivo de Juliana, porém com intenções completamente opostas. Joe e Juliana demonstram uma aproximação quase instantânea, há uma tensão sexual entre os dois mas é algo que ainda não está amadurecido o suficiente e Juliana possui Frank em seus pensamentos. Joe ao longo do tempo, se torna um personagem importante e descobrimos que ele é bem mais do que pensava para os nazistas, deixando de ser um mero peão, para ser uma peça chave para o futuro.


Uma quantidade terrível de espionagem, perseguição e ação se desenvolve, fortalecendo mais o elo entre Joe e a mocinha em um jogo perigoso. Frank por sua vez está sedento por vingança contra os japoneses e como se tivesse mudado completamente, começa a se tornar cada vez mais extremista, violento e com desejo de causar morte, mesmo que inocentes acabem sofrendo também no processo. E tais desejos, só vão escalando, passando de desejos a ações concretas, aproximações perigosas tornando o artista de traço refinado Frank, em uma peça fundamental da resistência, um procurado de alta periculosidade.
Neste momento chega a hora de falar de um personagem muito importante nesta trama. John Smith. Um oficial nazista de muito prestígio, um americano que pra comunidade onde vive no grande reich, tenta ser um exemplo, guiar os demais. John é um personagem que as pessoas vão odiar, vão sentir raiva, vão querer matá-lo na base da paulada de tão cretino que o sujeito é. Porém, o desgraçado é um gênio. Ele não é o tipo de sujeito que costuma usar a força para vencer seus inimigos, mas sim estratégia, resiliência, frieza e um controle monstruoso das emoções, um verdadeiro sociopata. John Smith apesar de ser um importante membro, possui muitos inimigos dentro do próprio governo Nazi. Pessoas que o invejam, pessoas que o detestam por ser americano, já que a maioria deles é alemão, pessoas que não querem concorrência no caminho e que vão fazer de tudo pra ferrar com ele. E isso só piora quando na família perfeita de Smith, começam a surgir problemas que para uma sociedade Nazista, é algo inaceitável. John possui uma esposa fiel e prendada, duas filhas que parecem princesas de uma inocência doce e um filho mais velho, extremamente esforçado, estudioso cujo maior medo é envergonhar seus pais perante a sociedade, portanto ele faz de tudo para preservar e se mostrar digno do legado de seus pais. Tudo isso acaba sendo abalado, por algo que seria um spoiler contar, porém, é algo muito grave, não tem solução e choca a família Smith bem no seu alicerce, o que os despedaça. Porém John, faz de tudo para atrasar que as consequências cheguem, mostrando pela primeira vez que tem um coração, sendo incapaz de fazer mal a alguém de sua família, contrariando a lei e o Reich, protegendo-os sujando as próprias mãos. Sua esposa acaba criando outro problema de gravidade ainda maior para acobertar seu marido e mais uma vez John intercede por sua família. Para seus inimigos era questão de tempo o conhecimento dos fatos, quando finalmente algo do tipo acontece, é quando percebemos o quão filho da puta é o senhor John Smith. Quando você pensa que o desgraçado se ferrará, ele tem cartas na manga. Um exímio jogador de xadrez.


Odiá-lo é algo que vai acontecer, é inevitável. Porém, aos poucos você percebe que entre os Nazistas, John consegue ser o menos pior (sério mesmo, imagine o nível dos outros maleditos HAHAHAHA). O que te leva as vezes a torcer para que ele não perca, por que se perder, Juliana e outros personagens que tentam sobreviver, podem sofrer consequências terríveis. Para piorar, Hitler que ainda vivo se mantém (e aparece em algumas cenas todo grisalho até em seu bigodinho), começa a dar sinais de que está morrendo. Isso cria expectativas quanto a quem será o próximo Fuher e terá todo o poder em suas mãos. Os japoneses se mostram bastante animados e até confiantes de que podem finalmente se sobressair aos alemães. Já os alemães aproveitando da sua força belica, tentam manter os japoneses em seu lugar cometendo atos menores de intimidação e eliminação pontuais. E John Smith é um dos únicos homens que pode evitar que uma guerra nuclear entre as duas partes comece, vivendo assim naquela realidade os dias de "EUA vs Russia" mas ali sendo Alemanha contra Japão e para piorar, há gente do próprio lado alemão tentando um golpe de estado que precisa ser evitado. Conforme a história avança, os filmes se tornam cruciais para evitar guerras e personagens importantes acabam tendo que matar uns aos outros para sobreviver. Aos poucos a verdade sobre os filmes vai sendo revelada, na mesma medida que os projetos mais bizarros, loucos e psicopatas dos Nazistas começam a ser explorados na tela. Tudo começa a fazer sentido, apontando pra um propósito perverso de dominação ainda mais ousado, que somente mentes doentias de gente assassina e perturbada, realmente imaginaria com pitadas de ficção científica.
Conclusão: The Man in the High Castle é uma série muito, mas muito sufocante, com um clima de espionagem, medo e guerra constante. Não tem como assisti-la sem sentir algo muito pesado na atmosfera, é uma sensação muito complicada. A série as vezes peca em não explicar muito bem a geografia mundial e local, o que atrapalha a imersão por acabar-se ficando perdido. Alguns momentos também se tornam arrastados, entendo que faz parte do show pra querer criar um clima de suspense, porém, exageram bastante em determinados momentos e isso tira um pouco da vontade de ir continuando com uma série que já é densa demais.

Por mais que a série tente emular um mundo onde o nazismo venceu, é perceptível algumas falhas que deixam lacunas, coisas sem a devida explicação como a América do Sul por exemplo e a África, cujo povo não foi eliminado mas não se encaixa no modelo padrão dos Nazistas. No fim, só vale a pena assistir, para entender como o fio do destino pode agir na vida das pessoas nos momentos mais tenebrosos, o quanto nossos atos podem servir de inspiração para alguém, mesmo que acreditemos que seja inútil, afinal o tempo é o senhor do destino. Tudo está conectado e a história é escrita a todo momento.
Nota: 7,0

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