SHAZAM! SAY THE WORD (REVIEW COM SPOILERS)



[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito por A Doutora, publicado originalmente em: https://disqus.com/home/discussion/channel-familiamarvel/shazam_say_the_word_review_com_spoilers/]

Bem, finalmente consegui assistir Shazam! ontem, e eu tinha dito ao nosso caro colega Saitama que daria minhas impressões assim que visse o filme. Um pouco da demora para isso é que estava em dúvida se eu fazia isso em forma de um novo comentário na crítica dele (que vocês podem acessar aqui: https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2019/04/shazam-filme-sem-spoilers.html), ou se eu fazia um post novo. Se você está lendo isso, está claro qual das opções que eu escolhi, então sim - Teremos dois posts com crítica de Shazam! no canal. E embora eu tenha ficado um pouco relutante de fazer isso, optei por isso, pois acredito que assim mais pessoas possam ver minhas impressões e trocarem ideia comigo.


A primeira coisa que vocês tem que entender, é que eu fui para esse filme muito predisposta a gostar dele. Ao mesmo tempo em que eu tentava segurar o hype para acabar não me DCpecionando (trocadilho old, but gold), desde aquele primeiro trailer meio mal acabado que eles soltaram na Comic Con do ano passado eu senti que esse filme ia dar match comigo. E ele apresentou (quase) tudo o que eu estava esperando. A segunda coisa é que ao invés de simplesmente falar o que foi bom ou não no filme (isso claro, sempre de forma subjetiva) vou tentar me ater mais especificamente a alguns pontos que achei interessante, por isso assumo que essa review possa conter spoilers.

Pois bem, tirando logo o grande elefante branco da sala, já digo que achei Shazam! um excelente filme e para mim é o melhor desse chamado DCEU. Isso porque ele mantém o que deu certo em filmes como Homem de Aço, Mulher Maravilha e Aquaman e corrige alguns erros que estavam se tornando recorrentes nesse universo (como vilões e o terceiro ato normalmente problemáticos, mas me aterei a isso mais pra frente). Estaria chovendo no molhado aqui se também elogiasse o ritmo do filme, o timing de comédia, que funciona na maioria das vezes e as atuações dos principais atores. Farei uma exceção aqui: Achei que Asher Angel estava um pouco abaixo em relação ao seu principal colega de cena Jack Dylan Grazer e à sua contra-parte adulta Zachary Levi. Até entendo que sua composição era um pouco mais introspectiva, mas de sei lá, não se comunicou muito comigo não.

Se a comédia funciona na maioria das vezes (no meu caso as poucas vezes que não ri foi porque algum dos trailers ou spot estragaram a piada e eu já sabia o que ia acontecer), achei que faltou equilibrar um pouco melhor o drama. Não que não tenha, mas alguns momentos poderia ter explorado um pouco mais essa vertente, deixado o filme respirar um pouco, principalmente no momento que Billy finalmente encontra sua mãe e descobre o que realmente aconteceu (não reclama, eu avisei que teriam spoilers!). Eu entendo que a proposta do filme era ser mais alegre e otimista, o que é ótimo, mas ter seus momentos mais densos teria também servido a história, já que nunca foi sua proposta ser uma galhofa completa, como o Deadpool, por exemplo.

E falando nisso, outro ponto que achei que seria mais explorado seriam as referências ao mundo em que o filme está inserindo. Quando vimos aquele primeiro trailer com Freddy tendo diversas referências aos filmes anteriores, achei que pesariam a mão no tom de autodeboche, mas não. As menções são mais contidas, o que é bom, pois o filme consegue se sustentar por si só e não precisa, necessariamente, do universo expandido a que pertence para se situar e marcar sua presença.

Agora começarei a dividir o texto em tópicos, pois quero levantar minhas impressões e opiniões de forma mais específica.

O HERÓI



Eu não tinha dúvidas nenhuma de que Zachary Levi é o ator certo para esse personagem. Confesso que nunca li uma HQ do Shazam! na vida (esse é o momento em que vocês me julgam como poser), e me interessei por esse projeto muito mais por causa do ator, já que sou fã dele desde os tempos da finada Chuck, série que ele protagonizava. Pelo que eu sempre acompanhei da carreira dele, e vi algumas entrevistas, sua personalidade casa bem com a proposta que eles trouxeram para o herói mágico. Para mim é o exemplo de como um ator pode interpretar a si mesmo de uma forma positiva, pois a empolgação que Billy demonstra ao ganhar seus poderes é na mesma medida que o ator ao ser aceito para fazer este papel. Na minha opinião o único ponto negativo na atuação do Zachary é quando ele tentava fazer "cara de mal" ou quando encarava seriamente o vilão. Não convenceu muito não, Zach!
O arco dramático de Billy também é muito bem desenhado (e relativamente bem executado) na trama. Usarei como base para esta análise uma proposta feita por Anatol Rosenfeld, importante nome do teatro brasileiro, que sugere que todo personagem de ficção pode ter suas motivações reduzidas a: Reciprocidade, Reconhecimento ou Segurança, sendo este último a motivação primária do nosso protagonista. Ele foge de suas casas adotivas em busca de sua mãe biológica, pois somente com ela ele imagina formando uma família. E família nos traz a sensação de amor, afeto, companheirismo, proteção. Ou seja: Família nos traz segurança. E é somente quando Billy finalmente encontra sua verdadeira família que ele se torna verdadeiramente digno de seus poderes.

O VILÃO



Dizem as más línguas que um herói é tão bom quanto seu vilão. Estar apto a enfrentar os desafios que lhe são impostos (seja uma força da natureza incontrolável ou as ações maquiavélicas de um terceiro) é um dos principais termômetros para medir o valor do herói. Neste sentido, o Dr. Silvana (eu sei que no original é sem o "L", mas nós estamos no Brasil, portanto, o tratarei pelo seu nome brazuca) é um vilão funcional para a trama. Ele funciona como a contraparte maligna do herói, tão clichê em filmes de origem. Entretanto, desta vez não apenas os poderes podem ser relacionados aos do protagonista, mas sua própria história de vida. Thad certamente não será o vilão mais marcante da história do cinema de herói, mas só por ter uma motivação clara, uma boa atuação e não cair no clichê do "quero destruir o mundo, muahahahahaha!" já entra, para mim, no hall do melhores vilões do DCEU (não que seja muito difícil. Sério, ele está concorrendo com gente do naipe da Magia, do Ares, do Lobo da Estepe e do Orm (desculpa aí quem gostou dele)).
Silvana representa a ameaça imediata que todo herói tem que enfrentar quando está descobrindo seus poderes. É claro que alguns clichês dos gênero ainda se mantém, como o fato do vilão sempre dominar seus poderes muito antes do herói (mesmo que eles tenham adquirido quase que ao mesmo tempo) e os discursos vilanescos. Tudo o que o personagem faz é tentando provar a si mesmo e para o mundo que ele é digno e que todas as suas mazelas são culpas de seu pai e irmão abusivos (clássica transferência de culpa). Dentro daquele modelo de análise de personagem do Rosenfeld, certamente a motivação primária de Silvana é o reconhecimento. Ele quer mostrar a todos que ele é digno de ser o novo Campeão e ter a magia percorrendo suas veias.

O MAGO



O próximo item que eu gostaria de discutir é o Mago Shazam, vivido por Djimon Hounson. Apesar de aparecer pouco, seu personagem é importante não apenas por manter aprisionados os Sete Pecados Capitais, como, obviamente, por passar seus poderes para Billy. E aqui eu gostaria de chamar a atenção para dois pontos:
1- Não apenas o pai e irmão de Silvana são responsáveis pelo surgimento do vilão, mas o próprio Mago. Sua forma de teste para saber se a pessoa é digna de ser o Campeão ou não é falha desde sua premissa. Ele busca uma criança pura de coração que resista à tentação dos sete pecados, mas será que existe na terra alguém assim tão puro? Sua forma de fazer o teste é muito preto no branco, sem nuances, não à toa, dezenas de crianças falharam no teste ao longo dos anos. E ele não apenas disse "não" ao Silvana quando ele falhou, como o humilhou da mesma forma que sua família fazia.
2- Se o Mago Shazam não estivesse morrendo, muito provavelmente, Billy também não seria digno de usar os poderes dele. O lance é que os Pecados já tinham sidos libertos por Silvana e o Mago usou suas últimas forças para passar seus poderes ao Billy. Se o protagonista tivesse feito o teste, também provavelmente teria sido reprovado naquele ponto da história, pois até ali ele faria de tudo para encontrar sua mãe, então ele tinha um ponto fraco a ser explorado pelos Pecados.

FAMÍLIA SHAZAM



Acabei pegando spoiler de imagens vazadas que mostravam que a Família Shazam estaria sim já nesse filme. Eu particularmente preferia que eles fosse explorados em uma continuação. Já que esse é o primeiro filme da franquia, eu penso que o foco do roteiro tem que ser 100% em estabelecer o herói principal. Eu pensei que das duas uma: Ou eles roubariam tempo de tela de desenvolvimento do Billy, ou ficariam muito jogados de qualquer jeito na trama. Acho que pendeu mais para a segunda opção, tendo mais a Darla e o Freddy com destaque e o restante meio alheios: Pedro ficou segurando aquela roda gigante e o Eugene soltou uns raios pela mão mas não fez grande coisa. Mesmo o Freddy não fez muito, só ficou voando de um lado para o outro e fazendo umas piadinhas. E o que dizer da Mary? Seu principal momento nessa cena foi antes da transformação, no tiro que ela deu no Silvana, com um desfecho bastante bem feito, diga-se de passagem.
Como o filme já tem uma continuação confirmada, tenho certeza que explorarão melhor a família numa sequência.

MOMENTOS MAIS MARCANTES

Para mim, alguns dos momentos mais marcantes do filme foram:

- A cena do assalto na loja de conveniências. Foi simplesmente hilário os testes de imunidade a balas
- A cena que Dr. Silvana libera os Sete Pecados na empresa do pai.
- A primeira luta entre Billy e Silvana, principalmente a "primeira parte".
- A cena em que os irmãos vão se transformar: "Billy!" Sério, ri MUITO nessa cena. Foi uma das piadas que mais funcionou comigo.
- Toda a cena da Darla transformada.

ÚLTIMAS PALAVRAS

Embora com alguns pontos negativos, o saldo é muito mais positivo. Shazam! tem força, pulso, ritmo, vitalidade, coração e identidade. Com certeza vai agradar tanto crianças quanto marmanjos e marmanjas. É leve, despretensioso, divertido e empolgante. O visual do filme é muito caprichado (o uniforme de verdade não me incomodou) e os efeitos especiais também, ainda mais levando em conta o modesto orçamento de pouco mais de 80 milhões de dolores, o que para um filme desse porte é pequeno. Shazam! pode não ser o melhor brinquedo do parque, mas é aquele brinquedo que vai te fazer querer brincar de novo nele o mais rápido possível.

Atenciosamente,

A Doutora.