[Texto da tag
“Escritor Convidado”, escrito por OLAVO
CARVALHO, já um membro fixo do blog.]
Esse
encadernado continua a fase de Charles
Soule nos roteiros do Demolidor, fase que inclusive tem surpreendido. Soule
teve a ingrata tarefa de substituir Mark
Waid, o José de Abreu dos quadrinhos, e tem ido bem. Claro que não é como
Waid, mas esse arco do Rei do Crime como prefeito de Nova York ficou bom.
Apesar de tudo, é preciso uma certa suspensão de descrença, pois uns meses que
o Demolidor passou na China, buscando seu sidekick
Ponto Cego, foram o suficiente para que Wilson Fisk se tornasse o prefeito de
Nova York. Está certo que Foggy até diz para Matt que Fisk se candidatou a
prefeito no último dia, mas, ainda assim, é preciso muita boa vontade para
aceitar esse "timeskip". Nas entrelinhas, dá para ver que essa
história do Rei do Crime prefeito de Nova York é uma forma de Soule criticar o Trump.
E no Brasil isso se
intensificou, pois o abestado do tradutor escreveu "Fisk mito" em um
cartaz, só para fazer referência ao Bolsonaro. Mas os nova-iorquinos da Marvel
realmente votam muito mal. Eles votaram no J.J. Jameson para prefeito de Nova
York e agora foi no Rei. Evidente que o alvo primário de Fisk como prefeito é
perseguir os heróis e taxá-los como vigilantes, e óbvio que o Demolidor é o primeiro da lista. O Rei sofreu
uma derrota na Suprema Corte americana, que permitiu que os heróis mascarados
possam testemunhar, e resolveu partir para cima. Ele consegue incriminar o
Demolidor com uma acusação de agressão e ainda traz Matt Murdock para seu lado,
com o cargo de vice-prefeito. Graças aos filhos do Homem Púrpura, com exceção
de Foggy Nelson, Sam Chung, o Ponto Cego, e o próprio Homem Púrpura, ninguém
mais conhece a identidade secreta do herói. Apesar de não saber que Matt é o
Demolidor, o Rei evidentemente sabe que o advogado tem alguma ligação com o
herói. Então, ele trata de sobrecarregar Matt com a legislação da cidade, para
neutralizá-lo. Fisk consegue enganar o Cabeça de Martelo, o Coruja, a Gata
Negra e outros vilões da cidade, com o tal Projeto Sarnos, dizendo que iria
dividir a administração de Nova York com eles. Dessa forma, ele consegue
capturar os criminosos e os vigilantes que estavam ali, que o Demolidor botou
de tocaia, Homem-Aranha, Punho de Ferro, Luke Cage, Cavaleiro da Lua, entre
outros. O confronto final obviamente é entre o Demolidor e o Rei, e o Homem sem
Medo perde e é capturado. Aí é que Soule mistura outras narrativas e termina
seu arco de forma ex machina. Um
vilão inumano que o Demolidor tinha capturado antes, o Muso, foge da cidadela
dos Inumanos e passa a apoiar os heróis, com pichações. Isso põe o Rei e o sidekick do Demolidor, Ponto Cego,
contra o Muso. Para o Ponto Cego, é mais pessoal ainda, pois o vilão tinha arrancado
seus olhos. A outra narrativa ex machina
é que o Tentáculo ataca Fisk e o deixa gravemente ferido. Então, graças a um
imbróglio jurídico, Matt, como vice-prefeito, é o prefeito da cidade. Mas o
Demolidor acabou de ser preso. Como ele irá se sair dessa? Esse encadernado
conta também com os competentes desenhos de Stefano Landini e Ron Garney.