Já não é novidade para ninguém: os planos originais para o
dito Universo Estendido da DC (de forma bem escancarada) estão oficialmente
mortos. O plano da editora e da Warner ao anunciar seus planos originais de
criar um universo compartilhado que poderia rivalizar com o que a Marvel Studios criou em 2014,um ano após
o lançamento de Man of Steel (que por
mais que não tenha ido mal nas bilheterias,dividiu o público) e com o
planejamento de fazer dois filmes por ano de 2016 a 2020,parecia de fato
ambicioso e empolgante. Afinal, era necessário concorrência.
E esse plano vinha vindo na esteira do sucesso da finalizada
trilogia do Batman de Christopher Nolan,
mas também do primeiro Vingadores,que reescreveu completamente as
possibilidades de uma franquia cinematográfica: o filme de Joss Whedon foi aclamado pela crítica por ter conseguido ser um crossover perfeito entre as diferentes
franquias que a Marvel sedimentou antes de 2012 (ao lado de outros personagens
secundários), onde o público também respondeu positivamente,com o filme
chegando a US $ 1,5 bilhão nas
bilheterias. Como se as expectativas financeiras dos executivos da WB
já não estivessem suficientes para Man of
Steel, a Marvel lançara o famigerado Homem de Ferro 3 poucos meses antes do
primeiro filme de Zack Snyder no DCEU, e independente da qualidade, o filme de
Robert Downey Jr. levou outro bilhão
para os cofres da concorrência. A Warner obviamente viu esse sucesso e
queria isso para si com suas propriedades DC... O que obviamente não
aconteceria imediatamente.
Assim, depois de 2 anos jogados fora enquanto a concorrência
apostava em nomes desconhecidos para se virar no mercado, os primeiros dois
anos da "chapa
de cinco anos da DC" anunciados anteriormente trouxeram Batman
v Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha e Liga da Justiça
(originalmente planejado como a primeira metade do que seria um filme em 2
partes) para os cinemas, mas não com o resultado procurado: tirando WW, as
apostas iniciais da franquia tiveram respostas amargas e mistas do público. Dois
dos três restantes ainda conseguiram se sair bem nas bilheterias (BVS fez um
pouco mais de 800 milhões,enquanto SS pouco mais de 700), mas o interesse e o
entusiasmo do público geral acabaram significando mudanças. E isso já não
significa "continuar com as peças moldadas", e sim
"anunciar" através de notícias algo claro: o DCEU está morto,e não
vai ter outro destino a não ser uma cova.
VISÃO DE DIRETOR VS VISÃO DE EXECUTIVO
Quando Snyder foi contratado para dirigir Man of Steel, ele claramente foi
contratado para fazer com o Superman e os maiores nomes da DC, o que Nolan fez
com sua trilogia do Batman: através do elenco iniciado com Henry Cavill como
Clark Kent e "pequenos ovos de Páscoa" insinuando um universo maior
posteriormente, MoS
estabeleceu o tom para a visão de Snyder de seu próprio universo DC. Mas houve
uma reação divisora ao novo retrato de Superman: Alguém que estava disposto
a deixar seu pai morrer ao vez de revelar suas habilidades, nivelar uma cidade
inteira se fosse necessário ao lutar contra Zod, e arrebentar o pescoço do
mesmo para acabar com isso. E por favor: a ideia não é entrar na questão se
isso foi errado ou certo ok? (pessoalmente eu gosto do filme), mas essa visão
do Super-Homem e dos heróis como um todo, tão polarizadora, fazia parte dos
planos maiores de Snyder para uma história maior (a sua história maior), que
foi contada pela metade. Ou até menos.
Como reportado aqui inclusive faz uns tempos, o artista
conceitual Jay Oliva confirmou que o
plano original de Snyder para o DCEU era para um arco de cinco filmes: esta
história seria contada em Man of Steel, Batman vs Superman, Liga da Justiça, Liga
da Justiça 2 e provavelmente um Liga da Justiça 3 -- com Superman em ascensão e
Darkseid no núcleo (e até mesmo após isso uma sequência para o filme que
iniciaria tudo isso) --.
Mas no fim, Snyder só realmente conseguiu por sua visão
total em prática em Man of Steel.
Embora a história e as decisões de tom de Batman
vs Superman tenham permanecido fiéis à versão original, a Warner ainda
entrou em cena para reduzir o tempo do filme que era de 3 horas e pouco (que
acabaria sendo lançado como a "Ultimate
Edition" que trouxe certos minutos que de fato fizeram falta), que é o
mais próximo do que o filme originalmente seria. E assim, os planos do diretor
já saíram dos trilhos depois que seu segundo projeto recebeu uma reação ainda
mais dura do que seu filme anterior,e fez o estúdio entrar em desespero. O
resultado disso foi visto logo no mesmo ano com Esquadrão Suicida, intensamente
modificado sem o devido tempo para isso.
DATA DA MORTE: 15 DE NOVEMBRO DE 2017
Como resultado da recepção de BvS, Geoff Johns --então
recém-nomeado chefe da DC Films -- se envolveu mais com Liga da Justiça, onde
relatórios surgiram mostrando que mudanças estavam sendo feitas no plano
original de Snyder durante a produção. Depois de completar as filmagens, Joss
Whedon foi contratado para escrever cenas para as próximas refilmagens do
filme, e seu papel se tornou muito maior depois que Snyder se afastou do
projeto no início de 2017, devido a
triste notícia do suicídio de sua filha.
Com Snyder fora de cogitação, Whedon (um cara com uma visão
completamente oposta e que tinha um tempo praticamente suicida para tentar
mexer no filme) e a Warner continuaram a mudar Liga para melhor se adequar à
visão do estúdio, e mudando até o final,já que os planos para o tal "Liga
da Justiça 2" foram distanciados. O resultado foi não apenas um Frankstein
em formato de filme (que não parecia ter sido feito por nenhum dos diretores
que estiveram envolvidos nele), como recebeu a resposta morna de ter a menor bilheteria
do DCEU, apesar de abrigar todas as suas estrelas, das quais apenas 2 tinham
tido um filme para chamar de seu.
Mas o fracasso de Liga da Justiça não significava apenas o
fim do envolvimento de Snyder, e sim todo um efeito cascata no processo: a Warner Bros. viu grandes mudanças no seu
nível executivo, com Sue Kroll
deixando o cargo de presidente de marketing e o presidente Kevin Tsujihara dando um passo para trás. Toby Emmerich foi então nomeado o novo presidente da Warner, e não demorou muito para Geoff Johns deixar
seu papel na DC Films para assumir uma posição mais criativa. Ao mesmo
tempo, Ben Affleck estava pelo jeito desinteressado em continuar a ser o Batman
além da meta originalmente lançada a ele, e a posição do próprio Henry Cavill
como Superman, desde então,tornou-se incerta.
Depois de passar vários anos supervisionando a direção de
todo um universo -- um que se expandiria para incluir filmes solo para outros
personagens da Liga devido à Warner e seu desejo de ter um universo
compartilhado --Snyder deixou para trás uma história inacabada que ele não pode
terminar. Ao fazê-lo, a sua saída e as consequências assinalaram a morte
oficial da franquia....
Ao menos, a ideia do qual a franquia seguia (ou queria)
seguir.
Em 2018, Walter
Hamada foi definido como o novo chefe da DC Films, ao procurar corrigir os
erros do passado ao tornar tudo menos conectado, e com foco mais nos
personagens e na direção do cineasta. E embora filmes como Aquaman e os futuros Shazam!
e WW84 coexistam no mesmo mundo, as
conexões entre eles serão mínimas.
O próprio filme solo de Arthur Curry já mostrou isso (ao ter
só uma breve menção do Lobo da Estepe), enquanto
James Wan se concentrava em entregar um filme em primeiro lugar. Os
trailers de Shazam! provocam conexões com o que ocorreu nos filmes anteriores
(Billy claramente deve ter visto algo na TV por exemplo), mas não há mais nada
além disso, e sem qualquer participação especial de algum herói que não seja
ele. E quanto à Mulher Maravilha em 1984,
ao se passar anos antes de qualquer outra história que ocorreu até aqui (como
ocorreu com o primeiro filme), Patty Jenkins tem liberdade quase completa com a
história. No fim,todos compartilham da mesma franquia e do mesmo logo, mas isso
ao mesmo tempo que significa algo para a franquia, não quer dizer nada por
agora. Com a morte do universo cinematográfico, isso também deu aos estúdios e
criadores liberdade para experimentar, e atualmente, isso significa um nome:
CORINGA
Um filme solo (e de origem ainda) com o personagem sendo
interpretado por ninguém menos que Joaquin Phoenix, que ocorrerá em seu próprio
universo, que pode originar até mesmo um selo próprio de filmes mais
"independentes e experimentais" (se vai dar certo ou não), não há
como negar que o filme do Palhaço do Crime será
um claro caso de 8 ou 80. Mas eles também estão aplicando alguns desses
mesmos métodos no então universo base: espera-se que Aves de Rapina (ou
Arlequina e Cia vai pra PQP isso) tenha um orçamento significativamente menor
do que os filmes baseados em quadrinhos normalmente tem, e o próprio Shazam! também deve ter um orçamento de
tamanho médio, mesmo com os trailers mostrando que todo o seu dinheiro foi bem
utilizado. Não há como dizer o que Matt
Reeves vai fazer com o seu Batman, mas uma história noir de detetive não deve exigir tanto financeiramente.
ESQUADRÃO
SUICIDA, BATMAN E AVES DE RAPINA?
Falando em The Batman,
Reeves assume o controle de uma nova franquia do personagem ao ter um novo ator
no manto do personagem: os dias (infelizmente curtos) de Affleck em que o papel
foi desempenhado por ele mostram que os estúdios estão dispostos a
desconsiderar até o que supostamente não poderia ser mudado tão cedo, pensando
em uma franquia que dure mais. E essas mudanças não vão parar com o fim do
antigo Batman e supostamente do atual
Superman (POR FAVOR NÃO), como com o
próprio Esquadrão Suicida de James Gunn, que será um reboot concentrado em um elenco majoritariamente novo. Há até
rumores de que Robbie retornará como Harley junto com Viola Davis como Amanda
Waller, mas os outros membros da Força-Tarefa X estarão a disposição para Gunn
os sacrificar, enquanto outros personagens serão introduzidos (Tubarão Rei?
Nevasca?),mesmo que isso signifique deixar de lado antigos membros como o
Capitão Bumerangue de Jai Coutney. Apesar da falta desses não é comparável com
a de Affleck.
AINDA HÁ TEMPO?
As mudanças (ao menos parte delas) que a franquia da editora
está fazendo parecem ser para melhor, mas será que elas realmente serão? Ainda
há tempo?
certamente eles fizeram movimentos recentemente que
reenergizaram as perspectivas da franquia, mas muitas dessas decisões não serão
concretizadas tão cedo, e as julgar positivamente por agora, não é o momento. Shazam! chega este ano, mas BoP (ninguém se importa) e WW84 não chegam antes de 2020, e The Batman e "The Suicide Squad" acabaram de ter datas ganhas para 2021.
O sucesso avassalador de Aquaman encorajou o estúdio a
continuar avançando com seus planos compartilhados de universo, mas à sua maneira, e do jeito que
devia: cada um no seu canto, e com meros "indícios" aqui ou ali. Shazam! será o primeiro projeto de fato
comandado 100% por Hamada na DC, a empolgação por ele é alta e deve divertir o
público, enquanto eles olham para seus planos estendidos, e conferem movimentos
que realmente tem uma chance realista de acontecer.
Com a promessa dos próximos três anos de filmes do novo DCU
feita, também haverá tempo para o estúdio descobrir seus planos para além de
2021: eles repetidamente viram Flash ser retrabalhado e atrasado, Tropa dos
Lanternas Verdes ainda está tentando sair do chão, Batgirl poderia ser
encaixada futuramente com BoP, há conversas sobre Adão Negro e Novos Deuses, projetos
parecem ter ido pro ralo (Exterminador? Asa Noturna?) e os planos para Aquaman
2 e WW3 podem já estar em andamento.
No fim, há uma abundância de futuros filmes a serem feitos, enquanto
eles continuarem a tomar seu tempo e cultivar o universo organicamente, talvez
não demore muito para que o DCEU volte a ser de fato um universo
cinematográfico conectado mais explicitamente, e a Liga da Justiça (e outras
equipes) enfim tenham um filme digno para chamar de seu.
ESCRITO POR: RiptorBR
PUBLICADO EM: https://disqus.com/home/discussion/channel-familiamarvel/o_dcu_esta_morto_e_talvez_seja_melhor_assim/
Leia também mais textos do Riptor no blog: https://fmarvell.blogspot.com/
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