Era o ano de 1988. O Brock 80 (como era chamado o Rock
Nacional nos Anos 80) estava no seu ápice com bandas como Legião Urbana, Titãs
e Paralamas do Sucesso. Prova disso foi a primeira edição do Hollywood Rock em
janeiro.
Eu e mais dois colegas estávamos passeando em algumas
galerias perto da Praça da República, no centro de São Paulo, para conhecer
outras lojas de LPs (ou vinil). Acabamos entrando em uma loja, que também era
uma gravadora independente chamada Wop Bop. Conversando com o dono da loja
sobre algumas bandas e músicas “alternativas”, ele nos apresentou um EP – do
mesmo tamanho de um LP, mas com poucas músicas, e que rodava numa velocidade de
45rpm, sendo que o normal era 33rpm – de uma de suas bandas chamada Harry,
oriundos do litoral paulista.
De início minha mente explodiu. Um som totalmente diferente de tudo que eu havia escutando até
então. Uma mistura de música eletrônica, punk, industrial, com guitarras
cortantes em meio a uma parafernália eletrônica e vozes distorcidas e sombrias.
Comprei o EP com 4 músicas chamado “Caos” que foi lançado em 1987 e também o
recém-lançado álbum “Fairy Tales” de 1988 com 10 músicas todas cantadas em
inglês.
Já em casa, ao ouvir mais atentamente, pude perceber que,
não somente o som em si, mas as letras começaram a me chamar atenção – medo,
angústia, paranoia, guerras, solidão – permeavam o “noise rock” promovido pelo
Harry. Selecionei algumas de minhas faixas preferidas e citações
que chamaram minha atenção.
Ouça no volume máximo e resguarde sua sanidade.
1. Caos
“Agora a chave de abrir esse som caiu da sua mão”.
Uma das poucas cantadas em português, com a bela voz de
Denise Tesluki mesclado a um agonizante refrão quase inaudível, um verdadeiro
“caos” tecnopop.
2. Adeptos
Outra rara canção em português, com uma guitarra distorcida
e nervosa, ilustrando a verdade por trás de suas letras – “O grande cenário está à
parte da tua angústia e da minha dor, mas cada um no seu papel”. Uma
música “veloz e furiosa”.
3. Genebra
“We touched the stars without moving our hands”.
A letra remete à bebida Genebra e seus efeitos, e não à
cidade. A sequência de bateria eletrônica dá o tom diferenciado dessa, que eu
considero a música mais “comercial” deles.
4. Lycanthropia
Arranjo vocal distorcido e angustiante em meio à
sintetizadores alucinantes. Pelo que pesquisei, “licantropia” é um distúrbio
que leva uma pessoa a pensar que se transformou em algum animal. Um título
apropriado, afinal, como diz a letra - “Radio waves are driving me insane”.
5. The Beast Inside
Essa música foi composta numa casa onde alguém havia
cometido suicídio, e criou o clima perfeito para esse som barulhento, uma das
poucas canções com solo de guitarra, onde o mais importante eram as letras
sombrias e a voz assustadora do vocalista Hansen.
“If you know some cure for me, don’t let my soul erase and
fade”.
Por Roger