Não é novidade que a Netflix vem torrando rios de dinheiro para encher o seu catálogo o
mais rápido que puder, até por saber que a concorrência irá aumentar muito nos
próximos anos. Mas convenhamos que isso não vem significando que os assinantes
vem saindo no lucro "com muito conteúdo para ver"...mas isso não é o
assunto foco daqui.
E assim, no meio de um monte de coisa sendo
lançada em curto espaço de tempo, veio uma das apostas principais da plataforma
para o final do ano passado: Bird Box (inspirado no livro de Josh Malerman de
mesmo nome) que causou um aue bem considerável por parte do público, com uns
adorando o filme e outros...nem tanto. Então, decidi (algo que vinha sendo
planejando a um tempo) falar um pouco sobre esse novo "divisor de
águas" do momento. Sem mais delongas,vamos nessa:
Obs: Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que eu não
vou falar do livro, muito menos comparar ou falar da fidelidade do filme frente
a ele (pois não li). Logo, se por acaso você tiver interesse no mesmo, o
Saitama deve falar um post posterior sobre (não sei se ele vai fazer alguma
comparação com o filme) mas se fizer, ele deve ter mais moral para falar da
adaptação do que eu (já que ele conhece o material fonte oras).
Continuando:
Bom, você já deve saber do o
que o filme trata: há um mundo pós-apocalíptico, que nos é apresentado pelos
olhos de Malorie (personagem de Sandra Bullock) que está grávida. Tudo no
entanto parece relativamente normal, até que o caos começar a tomar conta
graças a criaturas misteriosas, que fazem as pessoas chegarem ao ponto de se
matarem (ou ficarem loucas de vez) só de olhar para elas, onde a protagonista
(assim como os outros personagens ao longo da trama) são obrigados a usar
vendas e outros métodos para não verem as criaturas e assim poderem se virar do
jeito que dá, já que os bichos não podem fazer mal nenhum se não forem
vistos....
Mas é claro que tudo não vai
ser nenhum mar de rosas de facilidade.
Com isso estabelecido de forma clara já no
início, o filme resolve trabalhar com duas linhas temporais que se intercalam
durante a trama: enquanto uma delas apresenta a jornada de Malorie, Garoto e
Garota (sim na maior parte do filme eles são chamados assim mesmo) na busca de
um lugar seguro rio a abaixo, a outra se passa bem antes desses acontecimentos,
para explicar todo o caminho trilhado pela protagonista até chegar ali.
E bem, como é de fato necessário para o
caminhar da história alguns pequenos saltos temporais (que juntos formam o
grande salto que separa as duas linhas de tempo) a divisão é justificável, até
para dar uma explicação concreta. Apesar disso, o filme poderia ter explorado
mas esse contexto, onde apesar de uma ou outra surpresa, a edição poderia ter
sido um tanto mais eficaz se a apresentação dos conceitos se refletisse
imediatamente em uma necessidade de aplicação ou reflexão na linha do futuro,
como é bem colocado quando, por exemplo, um objeto que acaba de ser discutido
no passado aparece no futuro na mão de uma das crianças. Não é algo que
atrapalhe o filme, mas ao trabalhar junto do roteiro, isso poderia ter evitado
alguns pontos de confusão que, mesmo resolvidos em algum ponto, poderiam trazer
uma força maior em sua apresentação.
Mas sem essa ressalva, a direção de Susanne
Bier segue sem tantos maiores erros: ao seguir o livro na decisão (certa) de
escolher não mostrar os “monstros” que levam a civilização ao caos, a diretora
trabalha bem o suficiente a câmera para que a aparição deles não seja
necessária.
"Mas você disse que não leu o..."
Sim, não li. Mas eu sei que a premissa nesse
ponto é igual oras!
Continuando:
Mas ainda assim, a
"identidade visual" das criaturas que o filme deu (na forma de folhas
ao vento) para mostrar sua proximidade...meio que tira um pouco do suspense que
é criado quando ela é mostrada por sons (como vozes de entes queridos ou dos
pássaros) que dão nome ao filme, o que ocasiona em um mau uso dessa mitologia
que vem sendo "alimentada" dentro da própria proposta do longa. É
algo que imagino que o livro sabe trabalhar melhor, não só pela execução mais
por ter o fator de não ter de "mostrar" algo propriamente, mas sim de
apenas montar um ambiente de tensão ao descrever uma situação.
Um bom exemplo comparativo do que estou a
dizer quanto a isso é Um Lugar Silencioso: o filme de John Krasinski abraça
seus conceitos desde o início ao ponto de abrir mão de fato do áudio para
abraçar o silêncio, usando isso como uma maneira de colocar o espectador dentro
de seu universo. É compreensível no entanto que é mais complicado fazer isso
quando a questão é a visão (enquanto que com a fala fica aspas "mais
fácil"), mas Bird Box poderia ter aproveitado melhor o uso de seus
conceitos sonoros para deixar o público mais próximo dos personagens.
Mais eu gostaria de deixar claro: eu não sou
de ficar fazendo comparações para julgar algo. Eu não gosto disso (quem leu o
post que fiz do Mogli do Andy Serkis sabe disso) onde eu tentei ao máximo não
ficar fazendo comparações com a versão do Jon Favreau, mesmo sendo inevitável
por se basearem em uma mesma obra.
Aqui tentei o mesmo mais em escala maior,
onde a única semelhança entre os filmes da vez é que ambos falam da necessidade
de não usar um sentido, já que se você analisar mais a fundo, você vai
concordar (ou ao menos entender) meu ponto:
1-Apesar de ambos utilizarem a perda de um
sentido, já começa pelo óbvio já citado de serem sentidos diferentes: em Um
Lugar Silencioso, a trama mostra o desafio dos Abbott em viver em silêncio
tendo filhos. Além disso, a responsabilidade desse desafio inegavelmente
aumenta com a morte do pequeno filho do casal (Beau), onde a falta de som é
bastante utilizada na trama, até para criar momentos de tensão.
Já em Bird Box, a família liderada por
Malorie tem como objetivo atravessar um grande rio para chegar a um lugar
seguro, onde as vezes o filme conta até com momentos de ação com os
"adoradores" dos bichos. O que ambos podem ter em comum, nesse ponto,
é que são filmes sobre "acreditar", sobre "nunca cair em
desespero" e sobre "continuar insistindo em querer viver não importa
qual seja o desafio".
2-Outro ponto é como os longas retratam a
vida dos sobreviventes: em Box, Malorie é basicamente uma realista fria que
mesmo que se importe com o próximo, precisa botar primeiro como preocupação um
jeito de continuar a viver no meio do caos, tendo de se adaptar a isso. Já Um
Lugar Silencioso mostra os Abbott tendo uma vida normal (bote muitas aspas no
"normal") onde fazem até ações comuns do cotidiano como um jantar em
família por exemplo, o que mostra que eles passam por isso já faz algum tempo.
O desafio principal aqui no entanto é quando Evelyn fica grávida e o casal precisa
fazer o parto sem que os monstros ouçam o barulho.
E 3-Um Lugar Silencioso se passa praticamente
todo na fazenda da família Abbott, onde é lá que se tem pistas de como está o
mundo após a invasão dos monstros. Também é através das pesquisas de Lee (o pai
da família) que se descobre que os aliens são cegos, chegaram por meteoros na
Terra e matam porque são sensíveis ao som, onde o filme usa todos esses fatores
só para retratar a vida de uma família nesse mundo.
Enquanto isso, Bird Box mostra como a
sociedade entrou em colapso aos olhos de Malorie: o filme mostra como é estar
em um grupo de sobreviventes e como o mundo se desfaz diante de seus olhos, ao
mostrar ondas de violência até de algumas pessoas até então
"confiáveis" para conquistar a sobrevivência.
Enfim, falando só do Box de novo:
Mesmo com aquilo que eu
falei de que o tema poderia ter sido melhor aproveitando, um bom ponto do filme
é perceptível justamente pela audição: a trilha sonora, assim como deve ser em
um suspense, é bem trabalhada para os momentos de clímax, ao mesmo tempo que
some nos momentos certos. Os créditos finais listam, literalmente, três
canções. Assim, não há o problema de uma quebra proporcionada por música, como
é comum ver em certos filmes.
Agora, se o longa tem um grande ponto alto de
destaque, esse é o desempenho da protagonista: Sandra Bullock leva o peso de
carregar o filme, apesar de outros personagens presentes. Já Sarah Paulson
infelizmente tem pouco tempo de tela, participando do momento onde tudo explode
para a gênese desse novo universo, onde sua participação acaba tendo
importância por isso.
John Malkovich é outro nome que aparece bem
no filme: seu personagem é o de mais destaque dentro dos secundários (ao menos
no quesito dramático) onde sua relação com a personagem de Bullock é uma das
melhores. Lil Rel Howery é outra atuação destacável,visto que seu personagem é
crucial para a apresentação de diversos conceitos de sobrevivência ao mesmo
tempo que serve para descartar a necessidade de explicação do fenômeno
ocorrente por parte dos personagens.
Enfim, todos os personagens apresentados com
a chegada do fenômeno servem ao menos para explanar as mais diferentes reações
que se possam ter ao novo panorama criado pelo apocalipse, com exceção de duas
delas: Cheryl, interpretada por Jacki Weaver, apesar de participar efetivamente
da trama, não adiciona muito. Já Tom (vivido por Trevante Rhodes) apesar da boa
atuação, pode ser mencionado da mesma forma.
No fim, Bird Box é um filme...bom. Ele
funciona como entretenimento, mas não se entrega em toda a sua plenitude quando
tenta retratar dramas pessoais e determinadas partes de suspense. Sandra
Bullock desempenha sem dúvidas uma boa atuação, mas mesmo esta perde um pouco
de força já que o filme não conversa totalmente consigo mesmo como se fosse um
todo, apesar de funcionar. E quando os elementos conseguem se completar, se vê
que o longa poderia ser melhor em certos pontos.
Mas como dito: o filme pode não se marcar
como um dos melhores do ano que foi lançado, mas é um filme que dá pra entreter
(eu pelo menos gostei apesar de tudo), fora o fato de eu não ter conhecimento
do livro.
Além do mais, se comparar esse com outros
filmes originais da Netflix como Vende-se Esta Casa, Extinção...ele chega a ser
"estupendo". Ou você quer que eu te lembre que eles lançaram:
ISSO AI.
Leia também mais textos do Riptor no blog: https://fmarvell.blogspot.com/
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