A
iniciativa de reinventar clássicos animados se tornou uma grande fonte de renda
para o estúdio principal da Disney,
que já não vem conseguindo emplacar franquias que sejam de fato suas. É só ver
esse ano mesmo, com os flops de “Uma Dobra no Tempo” e “O
Quebra Nozes” e os “4 Reinos”.
Para
se ter uma ideia, contando também os remakes
que chegam em 2019 (no caso Dumbo, Aladdin e Rei Leão) o estúdio tem 24 projetos dessa iniciativa em andamento.
Mas mais que simplesmente refazer histórias, quem sabe o melhor disso tudo é a
oportunidade que o estúdio tem de melhorar as histórias das animações nos remakes, e até mesmo reapresentar para
um novo público filmes que foram injustiçados em seu tempo, e que não obtiveram
muito sucesso. Ou até mesmo re-imaginar com base nelas para criar coisas novas.
Ironicamente,
foi essa última ideia que foi usada no "Homem de Ferro" dessa
iniciativa (Alice no País das Maravilhas, que praticamente era uma continuação
de eventos já conhecidos) e mais tarde em Malévola, que contou uma história de
origem para a vilã-título, algo que o estúdio pretende continuar fazendo com
longas como "Uma
Noite no Monte Calvo" (vulgo Fantasia), "Gênios" ou mesmo "Cruella". E foi seguindo
essa linha que chegou a única aposta nessa parte do estúdio esse ano: Christopher Robin.
Você
provavelmente conhece a história: Christopher (ou Cristóvão, como ficou
conhecido no Brasil), um menino que entrava em altas aventuras no Bosque dos Cem Acres com seus amigos
fantasiosos. Ou pelo menos entrava, já que a hora chega para todos, algo que o
próprio filme diz bem no começo.
O
filme então mostra o sentimento tranquilo e animado daquele lugar, que ainda
tem um tom nostálgico para os já afeiçoados com aquele universo, com velhos
conhecidos: o desorganizado e guloso Pooh, o negativo Bisonho, Guru, Can, o
constantemente preocupado Leitão, Corujão, o organizado Abel e o alegre (e
impulsivo) Tigrão. Mas aquela festa que é vista acontecer ali não é atoa: o
garoto irá embora, e aquela é uma festa de despedida. Para onde ele vai? Ele
não consegue explicar de um jeito que eles entendam. Ele então vai para um
canto conversar com Pooh, e no meio disso, ele diz que não se esquecerá dele
nem quando tiver 100 anos. "Quando anos eu vou ter?", pergunta o
ursinho: "99, ursinho bobo",responde o menino.
Mas
era óbvio que não seria assim: Christopher então passa por...como eu posso
dizer...ele passa, digamos assim, por um "mal" (entre aspas)
necessário: obedecer, fazer. Ele não pode desenhar ou coisas do gênero,já que
ele tem de fazer coisas. Coisas de escola. Junto a isso, uma hora seu pai
falece. Ele cresce, e então conhece o trabalho, e principalmente, a figura do
patrão. E eu falei que ele foi para a guerra? Ou que conheceu sua futura
esposa? Ou que teve uma filha? É, aquele menino cresceu, e já conheceu a
"segurança" de uma pacata vida adulta.
Com
tudo isso (e já sendo um homem de meia idade) Christopher Robin (interpretado
por Ewan McGregor) é um homem sem imaginação, cuja vida se resume ao seu
emprego em uma fábrica de malas de viagem, onde ele não vê em sua vida nada
além dessa "linha reta" que a sociedade fez ele fazer. O trabalho não
o agrada, mais ainda assim ele dedica todo o tempo que tem para cumprir as
ordens do seu chefe. Nem mesmo nas suas horas vagas ele se permite brincar com sua
filha Madeline, como fazia quando criança no Bosque dos Cem Acres com Pooh e
seus amigos, onde basicamente, mesmo sem querer, ele só consegue criar a ilusão
para ela de que "uma hora vamos ser só nos 2".
E
quando então executa o que prometeu...não era bem do jeito certo. Por exemplo
em uma cena que a menina pede para ele lhe contar uma história, e ele vem com
dados históricos que parecem mais uma aula de história, onde ela mesmo pede
para ele parar. Pois não era isso que ela quis dizer com "história".
Chegou em um ponto que nem a esposa do mesmo (interpretada por Hayley Atwell) está aguentando. Mas quando o
"velho e bobo" urso aparece de repente em Londres, pedindo a ajuda de
Robin para reencontrar toda a turma, ele se vê sem saída a não ser voltar ao
cenário da sua infância, e redescobrir aquele garoto que se perdeu ao longo dos
anos.
Mesmo
com um adulto nos holofotes, aquele espírito lúdico e inocente nunca se
distancia: Robin age inicialmente como qualquer um agiria ao achar
"ridículo" certas coisas antes normais para ele, sempre ocupado e não
querendo se meter em algo que faça ele se atrasar. Mais Pooh é inocente demais
para entender suas explicações, e mesmo sem perceber, acaba fazendo seu amigo
humano questionar coisas com certas frases que parecem não ter sentido:
"Nada melhor do que não fazer nada" acaba tendo mais significado do
que parece.
E
desde o início, o filme brinca com uma estrutura semelhante a de um livro,
mostrando a evolução do protagonista desde (como mencionado) último dia ao lado
dos seus amigos de pelúcia até atingir a idade adulta. Com o avançar da
história, a divisão em capítulos é abandonada, mas cada ato funciona quase como
uma aventura por si só, onde tudo fica melhor com a presença dos habitantes
fantasiosos do Bosque. A trilha sonora também tem seu charme, puxando para algo
simplório e familiar, que se encaixa no tom que o longa quer seguir.
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