Tudo
o que é bom para o PT é ruim para o Brasil.” Não é a primeira vez que escrevo
sobre a frase que mais me rendeu protestos. Até alguns “conservadores” fizeram
um muxoxo: “Cheira a preconceito.” E daí? O preconceito também é uma realidade
discursiva definida por marés influentes de opinião. Não ter alguns corresponde
a reforçar outros. Vejam dom Tomás Balduíno, que trocou a Teologia pela
Escatologia da Libertação. Ele acredita que lugar de auto-intitulados sem-terra
é quebrando o Parlamento ou tungando propriedade alheia. Opor-se a tal prática seria
preconceito.
Um
“progressista” tem de estar afinado com os deserdados profissionais dos padres,
das ONGs e do Chico Buarque. Os “conservadores” preferem ficar no armário,
praticando uma ideologia que não ousa dizer seu nome. Ou vão para a fogueira. A
esquerda leva vantagem na guerra de valores. Jornalistas acham normal ter como
fonte um ladrão – sobretudo se ele roubar em nome da causa –, mas fogem de um
“reacionário” ou “direitista”. Supostas maiorias teriam mais direito a
preconceitos do que um indivíduo. Com efeito, não existiria totalitarismo
sem
as massas e suas rebeliões – aprendi com Ortega y Gasset, antes ainda de começar
a fazer a barba.
Sou
tentado a defender o direito que todos temos de ter alguns “preconceitos”. Um
sujeito cem por cento tolerante é desprovido de moral pessoal e imprestável para
uma ética coletiva. É preciso dizer em certos casos: “Isso não!” Um homem sem
preconceitos é um empirista empedernido, uma besta, um monstro amoral. Há um
quarto de século toleramos a ladainha petista sobre “um outro mundo possível”.
Até há pouco, os petistas nos vendiam um certo “socialismo democrático”,
binômio antitético que a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) ressuscitou em
entrevista ao programa Roda Viva. A propósito: ela afirmou lá que
apenas
17% das terras agriculturáveis do país são cultivadas. Seria mentira ainda que
Marina Silva derrubasse a floresta amazônica e secasse o Pantanal para plantar
soja. Não foi contestada em sua logorréia narcotizante.
Uma
bobagem choca; uma penca delas paralisa os sentidos, especialmente se vêm
embaladas naquela cascata de disparates reiterados por sinonímias vertiginosas.
Nunca houve socialismo democrático ou marxismo cristão. Quem acata essas bobagens
ou está comprometido com a causa ou procura ser simpático com os “progressistas”.
Não ambiciono a ração de boa vontade de adversários. O socialismo matou quase
200 milhões para criar o “novo homem”, e sua primeira vítima foi a liberdade.
Tentam pôr no meu colo os mortos das ditaduras de direita. Dispenso-os. Façam
como eu: joguem todas elas no lixo. Esquerdistas, no entanto, não reconhecem em
Fidel Castro um facínora e têm num homicida compulsivo como Che Guevara um
herói, ainda a render filmes e rococós sentimentais. Entronizam um bufão como
Hugo Chávez no posto de futuro mártir das causas populares. “Mártir”? Eu e
minhas esperanças...
Que
bom se a esquerda light e a socialdemocracia estivessem certas, e tudo isso
cheirasse à naftalina da guerra fria, sepultada sob os escombros do Muro. Mas estão
erradas, e a metáfora é óbvia demais. No Brasil, as seduções do demônio totalitário
estão ativas e plasmadas no PT, que segue o figurino do Moderno Príncipe
gramsciano. É confortável para os covardes a suposição de que a lenda lulo-petista
se esgota no clepto-stalinismo dos quarenta quadrilheiros. É uma forma de
colaboracionismo. Essa lenda contamina as instituições e busca mudar a natureza
da democracia.
Leiam
o texto a seguir:
O Moderno Príncipe,
desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais,
uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido
como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que
tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para
aumentar seu poder ou para opor-se a ele. O Príncipe toma o lugar, nas
consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um
laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as
relações de costume.
É
como Gramsci queria o “partido” que faria a transição para o socialismo
aproveitando-se
das fragilidades da democracia. Leninismo e fascismo em pacote único. Ele já
havia aposentado as ilusões armadas na Europa, mas não a tara totalitária. O PT
também arquivou as ambições socialistas – embora financie tropas de assalto à
democracia –, mas não a vocação para submeter a sociedade a um ente de razão
partidário.
Os
sem-preconceito e liberais de miolo mole vêem o partido de Lula seguindo a bula
dos mercados e o supõem convertido. Será? O que antes era “criminoso” passou
agora a ser “virtuoso” na medida em que “tem como ponto de referência o próprio
Moderno Príncipe”. Ele é capaz de “subverter todo o sistema de valores intelectuais
e morais”. E até os juros reais mais altos do mundo se tornam variantes de um
“imperativo categórico”. A trama criminosa é só entrecho de narrativa mais
ambiciosa. Nem a eventual derrota de Lula poria fim a essa história. Se
vitorioso, o PT tentará perpetuar-se no poder mudando as regras do jogo: o
caminho é tornar irrelevantes as eleições como meio de alternância de poder. E
pode fazê-lo fingindo obediência ao rito democrático. É de sua natureza. Se
derrotado, a “Al-Qaeda” – rede presente nos três Poderes, sindicatos, fundos de
pensão, igrejas, estatais, imprensa, movimentos
sociais
e ONGs – tentará emparedar o próximo governo por meio do confronto e da chantagem.
O que fazer? Dizer não ao demônio totalitário. Outras divergências são secundárias.
Tudo o que é ruim para o PT é bom para o Brasil.
Reinaldo Azevedo
Publicado no livro
“O País dos Petralhas Vol. I”.
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Até o próximo.
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2 Comentários
É possível gostar de quadrinhos e ser conservador sem entrar em contradição?
ResponderExcluirObvio que é, os quadrinhos tem tematicas de esquerda por conta dos escritores, mas são em essência conservadores (ao menos no que tange aos mais populares).
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