...OU: A IGNORADA LIÇÃO SOBRE
CRONOLOGIA E ESSÊNCIA QUE DAN SLOTT DEU EM AMAZING SPIDER-MAN #801...
“Dan Slott é um lixo”.
“Dan Slott destruiu o
Homem-Aranha.”
“Vou te xingar no Twitter porque sou revoltadinho.”
“Não aguento mais RUIMberto Ramos”.
|
VS
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“Dan Slott é um gênio”
“Dan Slott revolucionou o
Homem-Aranha”.
“Chorem, viúvas do JMS”.
“Agora não tem mais Gwen puta ou pacto com o
capeta!”
|
“Sim, ele
salva um mundo a cada dia. Cada pessoa representa um mundo para alguém. O Aranha
tá lá fora se arriscando por todos. Seus melhores amigos. Seus maridos. Suas
namoradas. Suas mães. Seus tios.”
S
|
eja qual o seu lado nesse cabo de
guerra (se é que precisa estar nele!), o fato é que Slott finalmente largou o osso em ASM #801, após dez anos com o título.
Mesmo que não tenha lido nem metade desse trabalho, –like me- é
impossível não ter sido bombardeado pelas “polêmicas” envolvendo o amigão da
vizinhança, de “Tia May casando”, “Peter Parker ficando milionário”, “Ilhas das
Aranhas Gigantes” ou a mais chamativa: “Superior
Homem-Aranha”. (que para o mal ou bem, ditou até certa tendência conceitual,
refletida de forma breve em Homem de Ferro Superior, e de prolongada no
“Capitão-Hydra”).
Seja JMS
(sempre odiado, não por mim) ou mesmo “A Saga do Clone” e similares, o ponto é
que Fãs (com F maiúsculo mesmo) se revoltam porque “se mexe demais”. Para no
outro dia gritar “as coisas não vão pra frente”, que está envelhecendo, e seu
herói preferido não sai da casa dos 20 anos. Protesta pelos “Retcons ferrando tudo”. E do “divórcio
com a Mary Jane”, que parece liderar o ranking de reclamações. Trocando em
miúdos, o Fã nunca será agradado, nesse ponto, Dan Slott, que também é Fã, sabe
com quem ta lidando. Mesmo dividindo opiniões, Slott claramente conhecia fio a
fio de teia da extensa cronologia do amigão da vizinhança, possivelmente tendo
lido quase tudo publicado do mesmo, e tal qual um cirurgião com as legiões que
o acompanhava, sabia onde mexer para trazer “dor”, e onde “afagá-la”,
justamente o tipo de comportamento padrão que o leitor “a longo prazo” prima,
por vezes não percebendo. Quem lê quadrinhos, em geral se apega a uma fase
importante, e faz dela a matriz de tudo o que deve ser feito, ao infinito e
além, se esquecendo do mero detalhe de que aquilo –ahem- é uma... FASE. E mensais
são nada mais do que ISSO. Ok, Ennis foi genial em Hellblazer e Justiceiro MAX, Kirby em Quarteto Fantástico,
Claremont / Byrne em X-Men (será?), Peter David no Hulk, mas... Passa. A festa
tem hora de acabar. Se será “superado”, “reverenciado”, “copiado na cara de
pau” (oi, Hulk – Imortal), ou “ignorado”, só o tempo e os editores dirão. O fato é que é no mínimo ingenuidade esperar que
aquele padrão altíssimo vai ser mantido por 30 ou mesmo 70 anos de personagem.
Mas falemos
do último arco do Dan, que tive a oportunidade de traduzir e diagramar algumas
edições. O que ele tem de especial? A simples (e não a última) comprovação da
cronologia ser feita de forma retroalimentativa, e você, “sempre crítico”,
espernear por mais. Sim, ai está você,
leitor orgulhoso, com sua “camisa de nerd”,
citando enquanto enche o peito, sobre o que é “canônico ou não”, em algo que é feito justamente para não avançar,
e digo mais: Onde as 801 edições
presentes em boa parte são uma reciclagem das 50 primeiras. Justamente
pelos nerds terem espécies de
planilhas sobre o que pode ou não ser feito com um ícone de décadas, para que
ele possa dar seu aval sobre aquilo ter algum valor ou xingar determinado autor
toda vez que tiver chance. É tóxico, mas não se preocupe, também sofro disso,
embora esteja sempre querendo me tratar e melhorar.
Proposta original de Jack Kirby |
Voltemos brevemente para 1963. Stan Lee
tem seu argumento no meio da noite para mais um personagem, chamado “O Mosca”,
inspirado em uma antiga criação de Jack Kirby. Passa suas ideias, envolvendo
anéis e transformações ao estilo Capitão-Marvel (Shazam nunca sai de moda,
hein?) ao Kirby, para que ele elabore mais em cima disso. Kirby entrega um
protótipo aos seus esboços de sempre, um “Mosca” com pistola de teias e físico
imponente estilo o Capitão-América. Lee
não compra a ideia, e passa então ao reservado Steve Ditko, que cria o Homem-Aranha. Porque digamos
que criar o uniforme, poderes, lançadores de teia, coadjuvante, e vilões e
principalmente o caráter de décadas, ainda me soem uma inocência descabida
quando chamados apenas de “co-criação”. Dezenas de edições depois, Ditko
insatisfeito com a falta de crédito, e com determinados rumos que queria tomar
antagônicos ao que Lee enxergava ao do “padrão de super-heróis”, larga sua mais
famosa criação, sendo substituído por Romita Sr. A mudança de comportamento, é
explicita. De nerd raiz magoado, sem chances com a mulherada, e até franzino,
Parker fica mais atlético, “bonitão”, humorado e se vê naquele dilema de dois
amores ao mesmo tempo batendo sua porta, na qual quase todo homem queria estar.
Na esquerda, Peter Parker sobre o traço de Steve Ditko em ASM#10, à direita, sob a ótica de John Romita Sr em ASM #43. |
O
equilíbrio entre o personagem perdedor de coração nobre, e engraçadinho
carismático é o mapa por mais de 60 anos do cabeça de teia. Dito isso, o que
precisa saber é que “Um Novo Dia” não foi nada mais que um tão em moda “reboot
/ continuação” tentando trazer toda a mistura inicial, só que agora feita
no século XXI, e claro, trazendo novos vilões, para se ter uma ideia de
expansão. Um crescimento “sem limites” da mitologia, cuja descida da montanha
russa para a terra firme é justamente a
#789, onde o escritor vai desconstruindo suas “inovações”, como a quem tira
uma roupa cara que alugou, a devolvendo intacta. Peter tem tirada sua fortuna,
nova namorada, não tem mais nada de “Superior” e deve enfrentar um último
desafio, para que a transição não seja tão sem graça. “Duende Vermelho” é o “Ás
do baralho”, uma reciclagem de conceitos em uma embalagem nova, que cumpre o
requisito de confronto físico e marca emocional nas perdas de entes queridos.
Após alguns crossovers descartáveis,
o bicho pega mesmo na #797, APÓS o
arco “Nível de Ameaça: Vermelho”. O “lado Parker” é o foco do autor, que chega
a reverter todo o ódio público que a identidade mascarada recebe, para o
próprio lado civil, devido a sua “falência financeira”. Uma brincadeira com
conceitos, já que a máscara é que costumava ser o alvo. Slott ainda dá uns
últimos flertes sobre a situação “Parker / Mary Jane”, mas não se compromete,
visto que é um dos pontos principais do seu sucessor no título. E tem pressa
para ir ao que vale a pena, é claro:
Um dos
maiores acertos com o Duende Verde, que o tornou de fato um dos maiores vilões
da Marvel na última década, é que Norman Osborn é que o verdadeiro déspota, a
ponto de ter incomodado a todos em Reinado
Sombrio sem precisar usar uma abóbora explosiva ou qualquer planador. É uma
espécie de Lex Luthor ainda mais repugnante e sem autocensuras, e mesmo não
estando em sua melhor versão, consegue rivalizar com sua clássica que atirou
Gwen de uma ponte. O carnificina em suas mãos é um instrumento potencializado
para blindá-lo –literalmente- em suas ações focadas na diversão e no terror.
Estando ele em um “ajuste de contas” com sua família, e o Aranha sendo só um
mero detalhe no caminho. No número #800 “o bicho sai da jaula” pra valer,
levando a uma corrida contra o tempo, cujo maior mérito é dar a emoção que o título não tinha a dezenas de histórias. A
luta, apesar de não tão sangrenta quanto o esperado, é altamente inspirada na
de Batman VS Coringa em Cavaleiro das Trevas (eu sei, seu lado marvete fica
puto por eu meter o TDK em tudo, mas o que posso fazer se até hoje copiam
ela?!) com direito a assassinatos descontrolados do agora Duende Vermelho, em uma ameaça capaz
de fazer inimigos se unirem por um bem maior. A reflexão pós-batalha, da “identidade
aracnídea” ser uma forma de descontar o bullying
que recebia na escola, apesar de obvia, foi de uma acertada –e rara-
sensibilidade no entendimento maior de um ícone. E é nesse espírito, que começa
a retrospectiva do que significa ser o Homem-Aranha,
pelo olhar de um “homem comum”, ao estilo “Marvels”,
provável que uma das melhores histórias que li nos últimos anos do Aranha,
nomeada “Lá por Você”, na #801.
Slott chama
um artista que praticamente reencarna todo o traço de Steve Ditko, o mais que
competente Marcos Martini revisando Amazing Fantasy #15 no melhor estilo “Super-Homem:
Grandes Astros”, embora com um delineamento proposital sobre o que difere o
Homem-Aranha, que é um cara que resolve “problemas de bairro”, dos Vingadores e
demais supers, hoje vistos como bem
mais “maneiros” pela juventude atual. Em um trabalho de referência milimétrica,
são mostradas de formas rápidas, a vida de várias pessoas após serem salvas em
meio a confrontos chaves de sua carreira, devolvendo ao final do conto, o mito
a seu início, novo em folha, para que Nick
Spencer possa dar suas impressões – e prévias desconstruções -. Mesmo com
uma arrogância insuportável de quem se acha “o cara que faz as pessoas lerem
Homem-Aranha” (sério, leiam só a carta de despedida dele na #800), fica claro o
quanto Slott, mesmo se entregando ao supérfluo e fácil, entende o personagem
que passou tanto tempo trabalhando, mostrando o por quê do escalador de paredes
de ser tão especial e encantar diferentes gerações em pouco mais de 20 páginas.
#789 - #799 Nota: 6.4
#800 Nota: 7,8
#801 Nota: 9.4
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1 Comentários
Valeu ozzy, pelo empenho ao herói mais popular e rentável da história.
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