Nota do Ozy: Achei esse texto entre meu monte de
arquivos. Foi me enviado acho que há uns 7 anos, por MSN, e seria publicado na
Fênix Fanzines #2, que nunca ganhou vida. Perdi contato com o autor, assim como
com quase todos que participaram do projeto, mas resolvi publicar por aqui, já
que o “zine” se foi.
Corações
humanos carregam desejos inescrupulosos.
Porém, com o passar dos anos nos
ensinam a aprisionar nosso raciocínio ao ponto dele se tornar domesticado o
suficiente para um convívio social harmonioso, assim qualquer atividade fora
dos padrões convencionais serão julgadas como proibidas ou apenas liberadas
quando encontrar-se solitário e com a absoluta certeza de que não há ninguém
por perto filmando, é exatamente esta a fresta que possibilita o afloramento
das nossas vontades latentes e escondidas sem que você se torne um louco de
atitudes condenáveis, é por essa razão que, em certos momentos da vida,
buscamos refúgio dos olhos alheios para libertar, ainda que instantaneamente,
nossas próprias loucuras.
A dilatação incontrolável disso pode
tornar-se um problema.
Desde os tempos remotos da minha
sobrevivência venho acumulando umas obsessiva paixão pelos insetos voadores,
não exatamente ao seu modo de vida peculiar, à isso cabem os biólogos idiotas e
felizes pelas descobertas inúteis feitas com o microscópio, meu fascínio está
apontado para os segundos finais antes de uma palmada assassina e o posterior
dilaceramento de seus membros não mais articuláveis, obviamente recuso a
utilização dos instrumentos tecnológicos desenvolvidos pela sociedade no
decorrer dos anos, tudo aquilo só foi inventado para mantermos a economia
rodando e não paralisamos a incansável produção de lixo, além de tudo deve ser horrível
morrer envenenado por jatos de spray perdendo toda a poesia lírica presente no
contato direto entre as diferentes espécies, este é o ciclo perfeito da
natureza, os insetos vêem, sugam meu sangue, saem por aí voando como se fossem bêbados
alegres, e pronto, ali está ele esmagado caído no chão dando seus suspiros
finais enquanto é dilacerado por formigas devoradoras de cadáveres famintas e
meu próprio sangue ali, de volta e espalhado pelas palmas das mãos enquanto uma
risada confortante arde em meu coração. Imagine-se caminhando pelas ruas com a
barriga cheia e de repente deparar-se com um animal incrivelmente maior que com
suas patas imensas vai te destruir em uma fração de segundos e ainda dirá
"a vida é isso meu chapa, termina como um ponto final inesperado em uma
frase que ainda nem havia completado um sentido sólido". Assim passarão os
anos e toda a espécie começara a acumular um medo exacerbado pois as ameaças
daquele troglodita assassino começarão a aumentar e tornarão se cada vez mais
implacáveis pois o desconhecido passou toda sua vida dedicando-se a isso e
inevitavelmente tornou-se um gênio na
arte de matar.
Alguns vão creditar isso aos meus
traumas de infância, mas isso não passa de baboseira ridícula dita por psicólogos sedentos por realizar
suas aspirações homossexuais, outros relacionarão a localização dos astros na
hora do meu nascimento, a estação do ano na qual meu pai nasceu e a posição da
minha mãe antes do parto e concluirão que meu comportamento é típico de um
virginiano com ascendência em escorpião, mas qualquer pessoa com a capacidade
de pensamento não limitada percebe que tudo isso não passa de merda vomitada
junto com pedaços do fígado nos momentos de embriaguês com a única diferença
que isso foi teorizado e puplicado em livros até se tornar convincente para
umas bichas depravadas.
Eis
que surge mais um levantar do sol, o despertador rasga meus devaneios com sua buzina
desgraçada, me traz a força para o plano real enquanto grita no meu ouvido
"levanta Vladmir, você tem mais um dia de merda para enfrentar"
poucos minutos depois ali estava eu me equilibrando diante da privada, segurando
meu caralho mole e com a cara de quem acabava de levar uma surra do próprio travesseiro
quando me deparo com um legítimo anófeles vlactuporium africano, ali na minha
frente com seu maravilhoso corpo tracejado de linhas paralelas alternadas entre
preto e branco e seu exuberante par de asas, dançando suavemente sobre o vaso,
provavelmente estava doente, mas antes de sucumbir decidiu atravessar o
atlântico para morrer como todos insetos gostariam, diante de um profissional
da morte. Aquilo era perfeito, eu segurava meu pau com força enquanto calculava
a ação, iria esperar friamente pelo momento certo até disparar um jato de urina
letal sobre o infeliz, aquilo molharia suas asas e ele cairia lentamente nas
águas do vaso sanitário, terminaria de mijar e então abaixaria meu rosto até a
ponta do nariz tocar naquele misto de água suja e mijo e sussurraria nos seus
ouvidos "é isso meu camarada, a vida definitivamente é uma merda e só
tende a piorar" enquanto ele se engasgava com a urina letal vinda do pinto
de um mutante que habitava um planeta distante e desconhecido, depois
apertaria, sem nenhuma gota de piedade o botão que aciona a descarga derradeira
que o levaria ao mundo merda, o lugar
onde a sociedade deposita seus excrementos antes de eles serem canalizados e
despejados em algum córrego de um bairro pobre, afinal é lá onde moram os fodidos
e os fodidos não se preocupam, com o fato de serem vizinhos de um monstro
adormecido feito de lama, bosta e xerume. Definitivamente aquilo era perfeito,
tudo estava friamente arquitetado em meu cérebro delinquente e psicótico e a
arma carregada, pronta para apertar o gatilho, naquele momento a adrenalina
borbulhava nas veias, estava tremendo e um suor gelado encharcada meus lábios
secos, precisava manter a calma, tinha que calcular exatamente o ato,
considerar os efeitos da gravidade e os desenhos que o inseto fazia no ar, não
havia chances para falhar, heróis de verdade nunca falham, se quer titubeiam,
são sempre certeiros com seus poderes avassaladores, e em um momento de
indecisão se aquela era realmente a melhor hora disparei o mijo da destruição,
porém, em um ato de sorte, ele conseguiu se esquivar com uma leve inclinação a
esquerda e o tiro manchou a borda da privada, antes dele completar o movimento,
disparei o segundo jato e foi direto no papel higiênico, nesse momento o
instinto de sobrevivência animal o alertou de que estava em um ambiente hostil
a sua sobrevivência e iniciou uma fuga em alta velocidade pelo apartamento, sai
correndo para a captura com o pinto latejando apontado para a presa enquanto
ela me driblava com movimentos transversais rápidos, estava desesperado,
precisava atingir o inimigo e não
desperdiçar a restrita munição, agora eu
já não tinha o menor controle da situação, era uma catástrofe, e estava
atirando sem mira e de longas distâncias, até que o humilde voador africano pousa
delicadamente na parede, estava exausto e torcia para estar em um ambiente
seguro, me aproximo calmamente enquanto o observo com os olhos dos predadores
de sangue frio e quando a distância entre ele a a cabeça cuspidora de urina
letal está próxima aos cinco centímetros apertei com toda a força que me
restava os músculos mutantes e tudo que saiu foi um tímido assopro de vento
inofensivo, então uma imensa fúria me dominou no momento e mandei um soco direto espremendo o bichinho contra a
parede, soltei-o e ele caiu no chão já debitado, me ajoelhei e disparei mais
cinco porradas com o punhos fechados e os olhos fervendo de tanta raiva, depois
levantei, apontei o dedo para ele e berrei
com os pulmões entupidos "MORRA FILHO DA PUTA" então cuspi
sobre sua carniça fragmentada, observei os cômodos, estavam cheios de urina e
fediam como a bunda de um mendigo, virei as costas, e fui embora, estava
aliviado, afinal, foda-se, o que são um pouco de mijo em um mundo de merda.
Vladmir Adrem (Sandrozo?)
0 Comentários