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TALENTO
“Quando
eu tinha 11 anos, eu já era bom.”
-- Bobby
Fischer, décimo primeiro campeão mundial de xadrez
A
designação de Grande Mestre do xadrez costumava ser reservada apenas aos
melhores enxadristas do mundo. O czar russo Nicolau II criou o título para os
cincos finalistas do grande torneio de 1914 que ele patrocinou em São
Petersburgo. Mais tarde, o título foi adotado pela Federação Internacional de
Xadrez (FIDE), que estabeleceu diretrizes de classificação. Inevitavelmente, o
título proliferou-se até atingir o total de cerca de mil Grandes Mestres nos
dias de hoje. Na atualidade, há tantos “GMs” que títulos não-oficiais como “Supergrandes
Mestre” são utilizados para distinguir os jogadores principais dos restantes.
Sempre me
perguntam o que distingue um jogador de xadrez de elite, que está sempre entre
os dez primeiros do mundo, dos muitos jogadores que nunca chegaram aos vinte
melhores ou cem melhores jogadores do mundo. Infelizmente, existem várias
tantas razões para o fracasso quanto para o sucesso; é impossível fazer
generalizações. Cada enxadrista tem razões próprias de sucesso ou fracasso.
Entre elas, a mais discutida é esse assunto tão ilusório de talento.
Talento
tem tantas definições e aspectos que não é de admirar que tenhamos dificuldade
em saber quem tem e quem não tem. Os prodígios tornam isso fácil, mas pouco
podemos fazer além de nos maravilharmos com gente como Mozart, que compôs
sinfonias aos cinco anos, e Pascal, que criou teoremas geométricos originais
aos 12 anos, nos muros da casa em que cresceu.
O xadrez,
ao lado da música e da matemática, é uma das poucas atividades em que habilidade
e originalidades superiores podem se manifestar desde a mais tenra idade. Em
1918, Samuel (Sammy) Reshevsky, nascido na Polônia, aos cinco anos, e com
roupinhas de marinheiro, fez exibições em toda a Europa, derrotando salas
inteiras repletas de adultos. José Raul Capablanca, segundo dizem, aprendeu a
jogar aos quatros anos, só de olhar o pai jogar, e logo demonstrou ser pareo
para jogadores talentosos. Rashevsky foi examinando e esquadrinhado por todo tipo
de psicólogo em busca da fonte de suas habilidades maravilhosas. Como podia uma
simples criança dominar um jogo sinônimo de complexidade e dificuldade?
Nós todos
conhecemos histórias de crianças precoces e, em geral, aceitamos que esses
indivíduos nascem com dons especiais. Todavia, mesmo seus talentos
extraordinários precisam de oportunidade para serem mostrados. A controvérsia natureza
versus educação não pode ser resolvida tão facilmente. Hoje, nós conheceríamos
Mozart se seu pai fosse pintor em vez de músico?
Meu próprio
desenvolvimento inicial certamente deveu-se, em grande parte, a fatores
externos. Minha aptidão natural para o xadrez foi logo descoberta por minha
família. Meu pai, Kim, na época lutando contra a leucemia, tomou a decisão de
me enviar para a escola de xadrez quando eu tinha sete anos, e minha mãe, de
bom grado, apoiou esse decisão. Hoje, ela gosta de me lembrar como se esforçava
para controlar minha determinação, em vez de promovê-la. Ela conta a história
de um telefonema de minha professora do segundo ano do fundamental, que me
castigara por desafiá-la na aula. Quando ela me disse que eu não deveria fazer
isso, porque todos pensariam que eu era o mais inteligente, eu respondi: “Mas
não é verdade?”, não tenho saudade dos meus antigos professores.
Quase
todos os jogos prodígios, em qualquer campo, podem dar crédito a um parente por
ter impulsionado seu talento. Com relação a fatores internos, tenho certeza de
que não teria alcançado tanto sucesso em outra coisa que não fosse xadrez. O
jogo me vinha naturalmente, suas exigências se encaixando em meus talentos como
uma luva.
Nem todos
têm tanta sorte, mas nós podemos fazer muito para construir a própria sorte,
quando se trata de combinar nossas habilidades e nossas carreiras. O problema é
que, na medida que envelhecemos, raramente testamos nossos recursos e, sem esse
teste, é impossível descobrir nossos dons. Se a oportunidade não se apresentou
na tenra idade, ela pode ser criada na idade adulta. Podemos procurar novos
caminhos para explorar e estender os limites de nossa capacidade em diferentes
áreas.
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Até o próximo.
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