Comecei a ler o livro "O Mínimo que você deve saber para não ser um idiota", do sempre comentado professor Olavo de Carvalho. O livro, é na verdade, uma seleção de textos de um de seus entuasiastas, definindo arduamente os escritos por "temas" em suas mais de 500 páginas. Não conhecia nenhuma obra do referido antes, mas por enquanto, estou achando bem interessante, e esse em especial, é um cruzado de direita, principalmente em mim, lembrando dos meus tempos de adolescente, e o quanto eu já fui mais imbecil do hoje. Cheguei a pausar por longos minutos refletindo para ir aos próximos. Logo, assim que possível, que trazer um texto de cada capítulo, o que eu eu mais tenha me identificado e "digerido melhor", digo isso reconhecendo minhas limitações culturais (limitação de algo que não possui, Ozy?), mas que busca ir se aprofundando para um melhor entendimento e QUESTIONAMENTO com o que se está lendo, caso contrário é só mais uma doutrinação extrema. Apesar do livro ter essa difamação acerca dele, tendo o leitor comum o temor de ler por se pensar se uma "obra de extrema-direita disseminadora do ódio", eu advirto que passa longe disso. Ela é, antes de tudo, uma ode a reflexão e a ORGANIZAÇÃO dos conhecimentos que se adquiri. Deixo abaixo um texto extraído do capítulo 1 - JUVENTUDE:
Já acreditei
em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a
juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade.
Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me
lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na
conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do
isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e
aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo
prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
O jovem, é
verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é
porque sabe
que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força
total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual
um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. Muito
diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com
ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa
barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram,
desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de
geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a
mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É
o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua
crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências
antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos,
a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva
aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e
humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige
menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da
maioria — a supressão, em suma, da personalidade.
É verdade
que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado
que tudo
fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração
representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do
pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato
deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de
olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo,
e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de
conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a
imitação — literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil
dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo
mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades
intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard
denomina o mediador.
Não é de
espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento
psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação,
impedindo-o, simultaneamente, de
despejar seu ressentimento de volta sobre o
grupo mesmo, objeto de amor que
se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento
amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos
perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os
fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no
grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua
situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a
culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo
como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe
deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
Eis a que se resume a famosa
rebeldia do adolescente: amor ao mais forte
que o despreza, desprezo pelo
mais fraco que o ama. Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta
entre o ser e o não ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não
é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e
das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são
quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a
juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e
desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do
século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de
drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior. Um
mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e
cansado, que já não tem futuro algum.
-- Olavo de Carvalho
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