Fazer esse post começou com a vontade que eu tava de escrever sobre livros, já que eu não faço isso há MUITO tempo, acho que praticamente só escrevo textos de HQs e música, de vez em quando sobre algum filme, o que já é mais raro. Então pensei que dava pra fazer um pacote de recomendações de dez distopias, gênero que eu e meio mundo gostamos bastante. Dando uma pesquisada em listas do tipo na Internet pra pegar alguma referência, vi que tinha até listas com vinte livros distópicos e eu conhecia NENHUM. Ficou claro que o gênero ia muito além dos clássicos que eu gostava mais. Então concluí: dane-se, vou fazer só dez recomendações pessoais e pronto tá bom.Escolhi a data de cinco de novembro pra postar, você deve imaginar porquê... E é isso, molecadinha, uma coleção com dez distopias pra você conhecer ou relembrar. Inclusive fugi dos livros e coloquei produtos de outras mídias também.
Agora...
Você sabe me dizer...
QUEEEEEEEEEM....
ÉÉÉÉÉÉ....
JOOOOOOHN.....
GAAAAAAAAAAAALT...????
10.O Planeta dos Macacos
"Homens racionais? Homens detentores de sabedoria? Homens inspirados pelo espírito...? Não, isto não é possível."
Deixo em último lugar "O Planeta dos Macacos" por não ser tão parecido com as outras distopias da lista, mas não deixa de ser uma ficção apaixonante com criatividade de sobra pra um livro tão pequeno e simples. A história é narrada como o diário de bordo de Ulysses Mérou, um homem que havia viajado pra um planeta parecido com a Terra, mas ao chegar lá percebe que os humanos são todos selvagens, e a espécie dominante é a dos macacos! O livro se utiliza de efeitos de estranhamento e bizarrice por ser incomum haver macacos atuando como humanos, tanto quanto também desenvolve reflexões e críticas super inteligentes. O francês Pierre Boulle extrapola na criatividade, tornando a inversão de papeis entre símios e homens muito mais interessante do que qualquer um vá esperar antes de ler o livro. Há questões relacionadas à teoria da evolução, que no caso de Soror (o planeta dos macacos) teria sido ao contrário. Há críticas às hierarquias sociais, à burocracia hipócrita dos meios acadêmicos, o conservadorismo tanto científico quanto religioso e várias outras questões que fazem dessa história uma experiência inesquecível. Vale a leitura mesmo para os que já viram o filme, é parecido, mas conta com algumas surpresas. Falando nisso, há uma curiosidade: o livro foi lançado poucos anos antes do primeiro filme, em 1963.
9.Brutal Planet
"Por que você não decai também? É um planeta tão brutal! É um mundo tão horrível!"
Esse é bem diferente por se tratar de um álbum de música conceitual. O compositor e cantor Alice Cooper foi fundo na contextualização e fez um álbum inteiro sobre um mundo distópico chamado Brutal Planet, onde tudo é caos e violência. O próprio diz que Brutal Planet na verdade não está muito longe de ser o planeta Terra, tendo se inspirado para a produção conforme assistia notícias na CNN percebendo a quantidade de atrocidades no mundo. Ele aborda tantas questões reais que dá até pra citar de faixa em faixa! Brutal Planet é a principal, Wicked Young Man fala sobre jovens neonazistas, Sanctuary é de alienação, Blow Me a Kiss sobre bullying e tiroteio em escolas, Eat Some More é de fome, Pick Up The Bones de genocídio militar, Pessi-Mystic sobre paranoia perante a quantidade de notícias terríveis que são recebidas com a globalização, Gimme fala de ganância com um tom de tentação diabólica, Take It Like a Woman sobre violência doméstica contra mulheres, sendo a única mais suave e sensível, combinando com a posição da vítima, e por fim Cold Machines, que fala sobre trabalhadores que se sentem robôs. Sendo cristão, Alice usa referências bíblicas algumas vezes, principalmente na faixa-título, onde fala sobre todos terem vindo de um mundo perfeito (o Éden) e terem caído num lugar terrível por terem ouvido os conselhos da cobra. É muito sombrio e um prato cheio de críticas, sem dúvidas merece ser listado como um trabalho distópico. Alice chegou a fazer uma sequência que não é tão famosa, "Dragontown", que seria a capital de Brutal Planet, uma periferia bem violenta e maliciosa. Uma terceira parte também foi considerada, mas ele acabou mudando de ideia e fazendo outras coisas.
8.A Nascente
"Na pessoa de Howard Roark, nós devemos esmagar as forças do egoísmo e do individualismo antissocial - a maldição de nosso mundo moderno -, aqui demonstradas em suas últimas consequências."
Uma boa parte das distopias literárias mais famosas foram escritas a partir da decepção que muitos autores tiveram com a aplicação do Socialismo no Oriente e toda a matança que houve no território da União Soviética, ficando MUITO longe do lugar ideal que eles ansiavam. Talvez até o contrário... A Ayn Rand não chega a ser um desses casos, mas é parecido, já que quando criança ela nasceu na Rússia, migrando para os EUA com sua família aos 21 anos. No Ocidente ela viu vários movimentos e ideias que pareciam uma preparação para o que havia rolado em sua terra natal. Suas ideias sobre isso foram expressas nos seus livros, como "A Nascente", que foi o primeiro, um livro gigantesco; é até vendido em dois volumes. O protagonista é Howard Roark, um homem bem esquisito, aparentemente desinteressado nas convenções e tradições sociais, mas extremamente capaz no campo da arquitetura, como se tivesse um dom natural pra isso. A ideia da autora era demonstrar o que seria um ser humano ideal pra ela. Roark precisa enfrentar a mediocridade alheia de conformistas, parasitas e tradicionalistas que se opõe de forma covarde e violenta aos avanços criativos que ele é capaz de produzir quase com a mesma facilidade que respira. Sem citar especificamente movimentos políticos ou nações, Rand disseca o que leva uma nação à queda a partir das relações humanas que já têm como objetivo podar qualquer ideia de avanço e produtividade. Os personagens são bem extremos e exagerados; apesar da autora ser considerada uma radical por alguns, é inegável que suas histórias trazem reflexões que continuam muito pertinentes, não é por nada que o sucesso foi enorme e ainda vende muito.
"Através dos séculos houveram homens que tomaram os primeiros passos por novas estradas armados com nada mais que sua própria visão" citação em placa do parque de diversões Walt Disney World |
7.Bioshock
"Um homem não tem direito sobre o que produz do suor de sua própria testa? Não, diz o homem em Washington, pertence aos pobres. Não, diz o homem no Vaticano, pertence a Deus. Não diz o homem em Moscou, pertence a todos! Eu rejeitei essas opções. Eu escolhi diferente... Eu escolhi o impossível... Eu escolhi... Rapture."
É legal deixar o Bioshock logo depois de A Nascente, pois o jogo é justamente uma antítese à Ayn Rand, um raro tipo de distopia da distopia. Neste jogo um homem chamado Jack sofre um acidente de avião e cai no meio do mar próximo a um farol. Esse farol o leva a conhecer a cidade submersa de Rapture. A cidade está completamente destruída após uma guerra civil liderada pelo revolucionário Atlas. Só aí você já pega as referências à obra da Rand. O próprio idealizador da utopia sem censuras ou limitações do estado, o Andrew Ryan, tem um nome que referencia o da autora Ayn Rand. O revolucionário Atlas também é uma referência a outro livro da autora, entre outros detalhes. Em Rapture deu tudo errado! As ideias individualistas da filosofia objetivista (proposta pela Rand) levaram as pessoas a evoluírem sem limites; avanços científicos deixaram as pessoas insanas, fazendo mais e mais operações plásticas para alcançarem beleza suprema. O jogo leva a muitas reflexões que o tornam digno de ser lembrado como uma distopia moderna. É difícil pensar em outro vilão como Andrew Ryan, que é tão marcante representando tantas ideias em um cenário que mistura steampunk, terror e vintage tão bem. O jogo chama a atenção tanto pelo que mostra esteticamente quanto subjetivamente.
6.Admirável Mundo Novo
"Eu preferiria ser infeliz do que ter essa espécie de felicidade falsa que você gozava aqui."
Huxley vai na onda de criticar o movimento da esquerda da época, mas tem suas particularidades. Você vai conhecer uma Londres de 2540. De forma curiosa dá pra perceber que vários personagens fazem referência a nomes que eram bem relevantes na época, como Ford, Freud, Marx, Lenin e Stalin. Os seres humanos se reproduzem artificialmente em laboratórios, depois sendo condicionados para ocuparem seus cargos. Todos são extremamente sexualizados desde a infância e qualquer problema emocional, qualquer fadiga é anestesiada pelo soma, um remédio/droga que é usado constantemente para resolver todo tipo de problema, como é descrito no livro, os efeitos do álcool e do cristianismo sem nenhum dos efeitos colaterais. Claro que há o que não se encaixa, o protagonista Bernard Marx, e a partir dele a origem e a verdade sobre toda aquela matriz vai se revelando. Há conceitos que foram completamente apagados nesta Londres, as pessoas não têm verdadeiro apego por ninguém e isso é considerado normal, a mera suspeita de que um laço afetivo monogâmico está sendo formado já traz reações violentas dos outros. Parece bastante com a época que estamos vivendo, mesmo esse livro sendo dos anos 30... Ou seja, é um bom exemplo do fascinante efeito profético que as distopias dessa época causam nos leitores.
5.Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots
"Aquele que controla o campo de batalha, controla a história. Guerra mudou. Quando o campo de batalha está sob controle total, guera... se torna rotina."
O jogo se passa em 2014, guerra se tornou o negócio mais rentável do mundo. O velho agente Snake, que já devia estar aposentado por sofrer de envelhecimento precoce devido ao fato de ser um clone, descobre a localização de seu velho inimigo no Oriente Médio e vai caçá-lo. Acontece que o vilão Ocelot planeja dominar o sistema de nanomáquinas que nessa época é utilizado por todos os soldados do mundo para ajustar seus corpos melhor às situações. Nos primeiros minutos do game o escritor/produtor/diretor/designer Hideo Kojima mostra como seriam os programas de televisão na concepção dele do futuro, mas é nada muito sério, sendo um jogo de ação/espionagem/guerra, o foco acaba sendo mais no mundo militar distópico do que em outros temas recorrentes de distopias como alienação, sexualização ou poluição. Porém, outra grande atração é a parte literária dos dramas pessoais de cada personagem, pois essa série já existia há quase 20 anos quando fizeram o "Guns of the Patriots", e seu enredo sempre foi um caldeirão misturando ficção científica, espiritismo, história, genética e filosofia. O grande protagonista Snake se encontra no momento derradeiro de sua jornada, encarando um vilão que dominando todas as organizações militares pretende trazer uma unificação global, que pode muito bem ser uma super-ditadura. Assim como o Planeta dos Macacos, é bem diferente dos outros nomes da lista, mas sua preciosidade é inegável.
"Não se trata de mudar o mundo. Se trata de dar o nosso melhor para deixar o mundo... da forma que é. É sobre respeitar o desejo dos outros e acreditar no seu próprio."
4.Batman: O Cavaleiro das Trevas"Não se trata de mudar o mundo. Se trata de dar o nosso melhor para deixar o mundo... da forma que é. É sobre respeitar o desejo dos outros e acreditar no seu próprio."
"Nova versão da Branca de Neve será estrelada pela atriz pornô Hot Gates. 'É tudo pelas criancinhas', diz Gates."
É considerado o maior clássico das HQs por bastante gente, sendo escrita e desenhada por um de seus artistas mais influentes, o Frank Miller. O contexto é 11 anos no futuro das aventuras tradicionais do Batman. Os heróis do Universo DC todos se aposentaram por exigência do Estado, as razões não são mostradas claramente, como algum flashback ou longa explicação, mas o Superman dá a entender que teve a ver com um incômodo pequeno que as pessoas tinham por se sentirem ordinárias perante os super-seres e esse incômodo ter aumentado cada vez mais. Frank Miller faz uma contextualização muito boa, com uma geração de criminosos jovens cada vez mais despreocupados e perigosos, temperaturas cada vez mais altas, idiotificação das massas propagada pela mídia, guerra fria e o temor de um inverno nuclear. Toda essa realidade quase apocalíptica é mostrada por programas de TV que são narrados entre os acontecimentos da história o tempo todo, mostrando tanto coisas vitais da aventura, quanto detalhes do que acontece em Gotham City e no mundo, ambientando bem o mundo insano e alienado. E no que se trata de personagens dramáticos que não se encaixam em um mundo insano... aqui é ninguém menos que o amado... Batman! Claro, você pode até não gostar do Batman, não tem problema, tem um monte de gente que não gosta. Só que o importante é você não se preocupar com o que as pessoas pensam e procurar um médico próximo pra te ajudar com isso.
"Assim que você começa a escrever sobre o que todo mundo gosta, você deixa de ser um jornalista. Desse momento em diante você trabalha pro show bis." |
3.A Revolta de Atlas
"Quem é John Galt?"
Foi o último lançamento da Ayn Rand, apesar da ideia ser bem similar à da Nascente, que foi o primeiro livro dela, aqui a mulher estava bem mais afiada como escritora, sendo os personagens mais legais e a história mais envolvente. Eu já vi uma amiga minha falar que escritoras mulheres foram subestimadas e não tiveram espaço na história por não serem homens. Eu não entendo essa afirmação, já que a Ayn Rand é a segunda escritora mais lida dos Estados Unidos, só perdendo pra Bíblia. Levando em consideração que o processo de criação, distribuição e até leitura da Bíblia é diferente de todos os outros livros, me parece mais correto até deixar a Ayn Rand em primeiro lugar, já que comparar um romance com a Bíblia não tem muito cabimento. Os mesmos pontos sobre individualismo, razão e capitalismo continuam sendo defendidos. Num futuro distópico, grandes industriais, arquitetos, intelectuais, trabalhadores honestos e artistas simplesmente sumiram. Fica uma pergunta que é somada ao mistério: "Quem é John Galt?" O título faz referência ao titã que na mitologia grega segurava o planeta em suas costas. A revolta viria das pessoas que sustentam a sociedade com seus esforços individuais, mas nunca são valorizadas pelo coletivo, sendo apenas perseguidas por corruptos que preferem abrir mão de suas liberdades para poderem podar as capacidades de todos. É um livro que assusta, incomoda, mas também inspira. É bem extremo, como os anteriores, mas ainda assim conta com reflexões muito preciosas. Aqui Rand vai mais longe na exploração do romance e até da ficção.
2.V de Vingança
"Nós tivemos uma sucessão de malversadores, larápios e lunáticos tomando um sem-número de decisões catastróficas. Isso é inegável. Mas quem os elegeu? Você! Você indicou essas pessoas. Você deu a elas o poder para tomarem decisões em seu lugar! Claro que qualquer um está sujeito a se equivocar, mas cometer os mesmos erros fatais, século após século, parece uma atitude deliberada."
Esse é diferente na ideia do que as outras histórias listadas, pois Alan Moore e David Lloyd se inspiraram na Inglaterra da Margaret Thatcher que começava a mostrar sinais de fascismo nos anos 70. Na HQ você conhece uma Inglaterra no final dos anos 90 onde medidas nazistas ganharam e passaram a ditar o status quo. Como na obra orwelliana, há câmeras de todos os lados, o Estado tem total poder sobre tudo o que acontece, menos sobre um terrorista mascarado que se autodenomina "V". O que ele quer? Ele quer vingança. Vítima, porém sobrevivente, do golpe que havia mandando todos os asiáticos, negros e homossexuais para campos de concentração, o protagonista agora busca atacar o sistema, ao mesmo tempo que pune sem qualquer pudor as pessoas responsáveis pelo campo de concentração onde ele e tantos outros haviam sido torturados. O fascismo havia levado até a cultura, com o terrorista vivendo num tipo de refúgio final da arte, cheio de livros e equipamentos de teatro. Apesar de ter sido por causa do filme, "V de Vingança" é notável com a forma que o símbolo passou para a vida real e tantas pessoas se manifestarem usando a máscara de Guy Fawkes. Por fim conseguiu ser lembrado como um dos melhores quadrinhos já feitos. Além das inteligentes críticas à sociedade e ao sistema, é uma referência de romance e suspense.
"As pessoas não deviam temer o governo. Os governos deviam temer as pessoas." |
1.1984
"O livro o fascinava, ou, mais exatamente, tranquilizava-o. Em certo sentido, não lhe dizia nada de novo, o que era parte do fascínio. Dizia o que ele teria dito, se tivesse a capacidade de organizar seus pensamentos dispersos."
Ditadura absoluta, o grande irmão está de olho em você. O leitor conhece o mundo de 1984 pelo ponto de vista de Winston Smith, um homem que levanta todos os dias como um quase cadáver, toma uma substância liquida em quantidade mínima como se fosse um remédio, precisa ouvir as instruções do Grande Irmão pelas teletelas (que podem ter volume diminuído, mas é impossível desligá-las) e vai cumprir com as funções de sua rotina. Ele trabalha no Ministério da Verdade, onde cuida das informações que são veiculadas, ou melhor, as que já foram veiculadas. Smith pega notícias passadas e as altera conforme ordenado, depois as manda de volta. Há nada de inconcebível, pois é uma cultura completamente nova! Existe até a Novafala, que conta com palavras novas como "duplipensamento", que permite às pessoas concordar com duas coisas que normalmente se anulariam por se contradizerem, mas não se anulam, pois simplesmente não há qualquer problema nisso, não é preciso ser sensato ou racional, apenas seguir as instruções do Grande Irmão. Como viver nessa realidade opressora? Fácil, há os Dois Minutos de Ódio, quando as pessoas se reúnem para atacar com todo o ódio e a selvageria que têm dentro de si o Inimigo do Povo, que eles nem sabem onde vive ou que fim levou, mas é um grande culpado e alvo de todo o ódio. Não é muito simples escapar dessa matriz com a constante vigilância da Polícia das Ideias. Porém, no trabalho Smith conhece Julia, com quem se aventura a descobrir o que há de errado com a condição existencial. Não há qualquer esperança nas revelações... Foi o último livro do George Orwell, autor também da fábula suprema, "A revolução dos bichos", que morreu pouco depois de terminar 1984. Brrrrrrrrrrrrrrrr... Gostaram do post? Não consigo pensar em forma melhor de terminá-lo do que com.... David Bowie!
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