"Dançando na solidão: Meu corpo se ajusta, inerte, enrijecido numa única posição. Toda a minha vida é delineada em seus contornos. No decorrer dos anos, cada golpe e cada abraço tem deixado marcas sutis... Uma flexão muscular aqui, um determinado relaxamento ali... Minha história está presa no interior da natureza morta do emaranhar de minha carne... Se eu me mexer, ela se espalha completamente.
Em seguida, eu me desdobro cautelosamente como um recorte de um valho jornal, os sentidos aguçados pela noção de estar sendo vigiado. As deidades da morto e do amor, do mercúrio e do fogo, observam. Nos fitamos um ao outro, ainda que de forma discreta, através de janelas arqueadas no ar. Semblantes suspensos na escuridão, o tamanho relativo à distância entre eles e sua respectiva abertura-retrato.
Um músculo tremula em minha coxa. Minha bota range sobre o polido assoalho. Eu me elevo vagarosamente e começo a me virar...
Estou dançando. Dançando na solidão.
Apenas deuses me observam."
-- Miracleman #14, livro 3, capítulo 4.
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