Defensores
tem uma dura pretensão de unir pontas soltas de cinco temporadas que a antecedem,
garantir a união e funcionamento de quatro universos “diferentes”, e por cima
ditar novos rumos para esses.
Parece muita coisa para 08 episódios, mas não é, isso é cumprido, a falha maior
da série não será essa. Com a ação bem dividida, falta de protagonismo do
Demolidor para melhor espaço a outras três perspectivas, em especial a do Punho
de Ferro, o roteiro tenta dar uma costura de forma que “todos interajam”,
fazendo certo peso em momentos que a narrativa precisava desenrolar de vez; A
falta de ação nos primeiros episódios não chega a soar incômoda, justamente por
desenvolver uma motivação que levará cada antiherói a “trabalhar em
equipe” (menos aqueles apaixonados irracionalmente), ELA SE TORNARÁ incômoda
mesmo depois que a turma for estabelecida, e o telespectador se der conta de
que não há o antagonismo tão necessário para sustentar a briga. “Defensores”
não define sua curta meta: Uma hora quer soar como um trabalho fora da caixa,
urbano e alheio aos trajes e universo superheroístico (essa palavra existe?!),
enquanto outra segue os clichês de velhos gibis com aliança de vilões e
coadjuvantes, ambos com planos unidimensionais. É tanto uma montanha de emoções
e pequenos contos mal resolvidos, que chega a ser difícil se processar e
colocar em palavras o que foi visto, mas vou tentar.
Na trama,
um abalado Punho de Ferro sente-se próximo de realizar “seu destino” dando fim à
organização milenar Tentáculo,
embora lhe seja cada vez mais perceptível que a ingrata tarefa não será concluída
apenas por ele e sua habilidade com os punhos. Matt Murdock lida com certa
exclusão de seus amigos mais próximos advindo da dura descoberta do que “apronta
pelas noites”, e semelhante a um dependente químico, luta contra qualquer
recaída ao vigilantismo, tentando se convencer de que pode mudar o mundo apenas
dentro do tribunal. A cena em que Matt explica a um rapaz cadeirante a dureza
de sua nova condição é de uma sensibilidade muito bem sacada do personagem.
Luke Cage sai da cadeia como se nada tivesse acontecido, enquanto Jessica Jones
continua sem rumo, e negando um pedido de investigação de uma mãe com uma filha,
a maneira como a investigara vai entrar na trama pode soar como a mais forçada,
graças ao telefonema suspeito. Cada um dos quatro, tem a obvia iluminação dos
cenários com sua “cor tema”, o que se pode fazer pesar mesmo é a transição de
foco nada sutil de um para o outro.
Cadê o exército do Stick? Bem, o orçamento não deu... |
Feitas as
apresentações, a que mais vale destaque é entre Danny Rand e Luke Cage. Passada
a ótima e obrigatória luta de desentendimento, o diálogo de prejulgamentos de
um contra o outro é mais violento que as porradas que trocam (epa). Ao tempo
que Murdock tenta colar na Jones, mas sem o mesmo brilho da dupla anterior,
conduzindo ao famoso quebra pau do trailer, e todas as piadinhas possíveis –e justificáveis-
sobre um cachecol.
A vilã
Alexandra – A Grande (Sigourney Weaver) não é feita com desinteresse
como eu havia visto em alguns comentários, pelo contrário, ela é um dos poucos
aspectos mais objetivos do show: uma secular conquistadora amarga querendo
viver mais e continuar liderando tudo, com todos os servindo. Sua dominação do
mundo é mais sistemática que a maioria dos vilões, tanto que na lógica dela, um
grupo fantasiado é só “poeira e pó” que pode ser derrubado de um dia pro outro,
tal qual alguma cidade no caminho dos planos, assim como convence até certo
ponto a “filha” que ela vê na ninja assassina Elektra. O empecilho aqui com
alguns dos “super-vilões” são eles serem fodonizados previamente, e na hora do “vamo
ver” não convencerem. Como exemplo do japa “desovador de urso” e “dono da
coleira do Nobu”... Isso enquanto Elecktra se mostra mais eficiente sozinha que
todo o exército que a acompanha, ao ponto de dar uma lição na equipe várias
vezes, parecendo algumas vezes o “Nêmesis” do game Resident 3 dada a “imortalidade”
e “insistência” na caça. cenas de invasão de vários capangas também lembram o
jogo...)
Estamos cercados e pondo inocentes em risco, mas dane-se, vamos fazer um sorrizinho e uma pose cool. |
Defensores
falha ao tentar enganar como série urbana, quando seu núcleo maior é no
misticismo. Portanto não abraça de vez o conceito do Tentáculo com ninjas que
se dissolvem, e coloca seus protagonistas em constante descrença com todo lado “fantasioso”
da proposta. Tenta abraçar um realismo que tropeça no caricato fato dos
antagonistas terem chance de assassiná-los várias vezes e o deixar passar pela
conveniência. O ritmo não pesa tanto quanto “Jessica Jones”, a ação é interessante,
embora no final, se recapitulado com calma tudo o que foi visto, vai ficar o
gosto amargo de uma esperança em longo prazo não compensada.
Nota: 6.2
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Até o próximo.
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