Entre algumas leituras que ando fazendo durante a pausa de um mês que fiz do xadrez, peguei "A Arte de Escrever" de Schopenhauer para tentar ler outra vez. Nunca li nada do autor, embora o nome dele me seja mencionado há anos em diferentes situações. Apesar do radicalismo (até mesmo para mim!), há pensamentos do livro, que por outras palavras, penso e critico de forma muito parecida. É triste ver nos parágrafos abaixo, o quanto "recente" soam as queixas do Sr. Arthur:
§9.
De resto, na república erudita ocorre o mesmo que nas outras repúblicas: todos amam um homem despretensioso que segue seu caminho com tranquilidade e não pretende ser mais esperto do que os outros. Eles se unem contra as cabeças excêntricas que oferecem perigo, tendo a seu lado a maioria (e que maioria!). Na república dos eruditos as coisas se passam, em geral, do mesmo modo que na república do México, onde cada um pensa somente nos seus benefícios próprios, procurando reconhecimento e poder para si, sem nenhuma consideração pelo bem comum, que com isso acaba sendo arruinado. Do mesmo modo, na república dos eruditos, cada um procura promover a si próprio para conquistar algum reconhecimento, e a única coisa com que todos estão de acordo é em não deixar que desponte uma cabeça realmente eminente, quando ela tende a se destacar, pois tal coisa representaria um perigo para todos ao mesmo tempo. Com isso, o modo como o todo da ciência é conduzido fica fácil de prever.
§11.
A maior parte de todo o saber humano, em cada um dos seus gêneros, existe apenas no papel, nos livros, nessa memória de papel da humanidade. Apenas uma pequena parte está realmente viva, a cada momento dado, em algumas cabeças. Trata-se de uma consequência sobretudo da brevidade e da incerteza da vida, mas também da indolência e da busca de prazer por parte dos homens. Cada geração que passa rapidamente alcança, de todo o saber humano, somente aquilo de que ela precisa. Em seguida desaparece. A maioria dos eruditos é muito superficial. Segue-se, cheia de esperanças, uma nova geração que não sabe nada e tem de aprender tudo desde o início; de novo ela apanha aquilo que consegue ou aquilo de que pode precisar em sua curta viagem, depois desaparece igualmente. Assim, que desgraça seria para o saber humano se não houvesse escrita e imprensa! As bibliotecas são a única memória permanente e segura da espécie humana, cujos membros particulares só possuem uma memória muito limitada e imperfeita. É por isso que a maioria dos eruditos resiste tanto a deixar que seus conhecimentos sejam examinados, tendo o mesmo comportamento dos comerciantes em relação a seus registros de vendas. O saber humano se espalha para todos os lados, a
perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido. Sendo assim, as ciências adquiriram uma tal amplitude em suas dimensões, que alguém com a pretensão de realizar algum empreendimento científico deve se dedicar apenas a um campo muito específico, sem dar importância a todo o resto. Nesse caso, ele de fato se encontrará acima do vulgo em seu campo, no entanto será como qualquer pessoa em todos os outros. Além disso, torna-se cada vez mais comum hoje em dia o descuido com as línguas antigas, cujo aprendizado parcial de nada serve, contribuindo para a decadência geral da cultura humana. Com isso veremos eruditos que, fora de seu campo específico, são verdadeiras bestas. Em geral, um erudito tão exclusivo de uma área é análogo ao operário que, ao longo de sua vida, não faz nada além de mover determinada alavanca, ou gancho, ou manivela, em determinado instrumento ou máquina, de modo a conquistar um inacreditável virtuosismo nessa atividade. Também é possível comparar o especialista com um homem que mora em sua casa própria, mas nunca sai dela. Na casa, ele conhece tudo com exatidão, cada degrau, cada canto e cada viga, como, por exemplo, o Quasímodo de Victor Hugo conhece a catedral de Notre-Dame, mas fora desse lugar tudo lhe é estranho e desconhecido. Em contrapartida, a verdadeira formação para a humanidade exige universalidade e uma visão geral; portanto, para um erudito no sentido mais elevado, algo como um conhecimento enciclopédico da história. Mas quem quer se tornar um filósofo de verdade precisa reunir em sua cabeça as extremidades mais afastadas da vontade humana. Pois onde mais elas poderiam ser reunidas? Espíritos de primeira categoria nunca se tornarão especialistas eruditos. Para eles, como tais, a totalidade da existência é que se impõe como problema, e é sobre ela que cada um deles comunicará à humanidade novas soluções, de uma forma ou de outra. Pois só pode merecer o nome de gênio alguém que assume como o tema de suas realizações a totalidade, aquilo que é grandioso, as coisas essenciais e gerais, e não alguém que dedica os esforços de sua vida a esclarecer qualquer relação específica de objetos entre si.
(...)
Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do mundo.
De qualquer forma, só de ter inspirado Wagner que não é o Moura (como apontado na introdução escrita pelo tradutor) a ter composto entre outras obras, "A Cavalgada das Valquírias", já tem o meu respeito. Vale mencionar que conheci o som no brilhante APOCALIPSE NOW, filme que estou sempre na vã esperança de fazer mais pessoas conhecerem assistirem:
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Até o próximo.
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